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ANÁLISE

Bolsonaro foge da realidade ao dizer que privatizações estão "a todo vapor"

Há estatais que poderiam ser privatizadas apenas por decisões do presidente - Pedro Ladeira/Folhapress
Há estatais que poderiam ser privatizadas apenas por decisões do presidente Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress
do UOL

Do UOL, em Brasília

24/02/2021 11h27

Depois de provocar um abalo no mercado financeiro ao intervir na Petrobras, ontem (23) à noite o presidente Jair Bolsonaro desceu a rampa do Palácio do Planalto (rodeado de ministros) e caminhou até Congresso Nacional para entregar o texto da Medida Provisória da privatização da Eletrobras.

O presidente queria afagar o ministro Paulo Guedes (Economia) e acreditou que o gesto de enviar pessoalmente a MP poderia sinalizar que o governo não abandonou por completo a agenda liberal do Posto-Ipiranga.

Em sua rápida fala ao lado dos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Bolsonaro, porém, forçou a mão ao dizer que a agenda de privatizações do governo estaria andando.

"A nossa agenda de privatização, essa MP não trata disso hoje em dia, mas nossa agenda de privatização continua a todo vapor", disse o presidente.

A informação não encontra respaldo na realidade. O que o seu governo conseguiu privatizar até agora?

Em 2020, a expectativa era de que o governo arrecadasse R$ 150 bilhões com privatizações e venda de ações de empresas em 2020. Nada andou.

A lentidão no ritmo das privatizações foi duramente criticada inclusive pelo ex-secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados, Salim Mattar.

Em setembro do ano passado, em uma conversa em um canal virtual de Marcos Cintra, ex-secretário especial da Receita Federal, Salim afirmou que o presidente tinha outra preocupação: se reeleger.

"Se ele [Bolsonaro] quisesse, podia privatizar todas as empresas que não precisam [de aprovação] do Congresso. Depende só dele, [mas] falta vontade", disse Salim.

MP da Eletrobras é mesmo urgente?

Relevância e urgência são os requisitos para justificar a edição de Medidas Provisórias pelo presidente da República. E enquanto o Brasil se aproxima de 250 mil mortes por conta do coronavírus, Bolsonaro segue derrapando em suas prioridades. O foco do presidente não é a saúde pública e também não tem sido a economia.

Apesar de ser uma sinalização de que não abandonou a agenda de Guedes é importante lembrar: MPs caducam, perdem a validade se não forem votadas em até 120 dias. E a pauta de votações depende de uma séria de acordos.

O tema já estava no Congresso desde o governo Michel Temer e não avançou por uma série de interesse dos parlamentares, que não consideram a pauta prioritária. Além disso, há muitos cargos e postos importantes para lotear entre aliados na estatal.

Bolsonaro continua dando sinais trocados que dificultam a vida do investidor no Brasil. Como ter a segurança em investir na estatal, dias depois de o presidente ter dito que quer colocar o dedo na energia também?

Posto-Ipiranga e suas derrotas

Guedes continua em silêncio desde que o presidente decidiu demitir o presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco. Está abatido e sabe que pode perder mais membros da sua equipe, já que Bolsonaro anda prometendo mais mudanças e cobra agilidade da equipe econômica.

O ministro vinha apostando suas fichas atualmente na aprovação da PEC emergencial, que vai permitir o pagamento do auxílio emergencial. A votação estava marcada para amanhã (25), no entanto, já deve ficar para a semana que vem.

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