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Esquerda sai enfraquecida das urnas e extrema direita se fortalece em Portugal

25/01/2021 08h42

O presidente Marcelo Rebelo de Sousa, 72 anos, saiu fortalecido das urnas em Portugal. Ele se reelegeu com 2,5 milhões de votos (60,7%) neste domingo (24), cerca de oito pontos percentuais a mais do que recebeu na eleição para o primeiro mandato em 2016. A socialista Ana Gomes deu uma meia vitória à esquerda ao ficar em segundo lugar, à frente do candidato de extrema direita André Ventura, mas com a vantagem de apenas 1%.

Adriana Moysés, enviada especial da RFI a Lisboa

O dado novo desta eleição foi o espaço conquistado pela extrema direita em Portugal. O advogado André Ventura, fundador do partido antissistema Chega, recebeu quase meio milhão de votos e saiu das presidenciais com um peso eleitoral sete vezes maior do que havia conquistado nas legislativas de outubro de 2019. Na campanha, ele contou com o apoio da francesa Marine Le Pen, do italiano Matteo Salvini e do Vox, o partido de extrema direita da Espanha.

Ventura foi o segundo mais votado em onze distritos eleitorais portugueses, principalmente no interior do país, de norte a sul. A diplomata e ex-eurodeputada Ana Gomes só conseguiu o segundo lugar em nível nacional graças aos votos dos socialistas de Lisboa.

Em seu discurso, na noite de domingo, Ventura comemorou o resultado dizendo que daqui para a frente não haverá direita em Portugal sem ele. Os analistas concordam que o populista ganhou um peso incontornável à direita. Ele renunciou à liderança do Chega, como havia prometido se não conquistasse o segundo lugar atrás de Rebelo de Sousa, mas avisou que irá se recandidatar.

Ventura fez campanha defendendo a deportação de imigrantes legalmente instalados no país caso cometam delitos, mesmo leves, e a revisão dos critérios vigentes de imigração para adaptá-los às necessidades da economia portuguesa. Também propôs, entre outras medidas, a extinção do ministério da Educação e a privatização do Sistema Nacional de Saúde português, o equivalente do SUS no Brasil. Nas duas áreas, o papel do Estado deveria ser de mera regulamentação e inspeção, na visão do populista. 

Esquerda dividida e enfraquecida

Os candidatos do Bloco de Esquerda, Marisa Matias, e do Partido Comunista Português, João Ferreira, considerados da esquerda radical no espectro político português, sofreram uma pesada derrota nas urnas.

A eurodeputada Marisa Matias obteve 3,95% dos votos, uma queda acentuada em relação às últimas presidenciais, em que havia conquistado 10,12%. Ela reconheceu que não teve o desempenho que desejava. Disse que irá continuar com as lutas por um país solidário, que defenda a democracia e que não aceite "crise e divisão como política".

João Ferreira, o novo rosto do Partido Comunista Português, foi um pouco melhor, com 4,32%, mas admitiu que perdeu votos para Ana Gomes. Ficou evidente que a socialista foi beneficiada pelo voto útil, para impedir uma ascensão ainda maior da extrema direita.

Prioridade será combate à pandemia

O presidente reeleito de centro-direita captou votos de eleitores socialistas, insatisfeitos com as divisões no governo do primeiro-ministro António Costa (PS), e obteve a vitória num cenário particularmente difícil. Analistas consideram que Rebelo de Sousa será uma das pessoas mais penalizadas pelo descontentamento que o agravamento da epidemia causou na opinião pública portuguesa nos últimos dias.

Em seu discurso da vitória, o chefe de Estado disse que continuará defendendo a estabilidade, respeitando o pluralismo, as diferenças e lutará pela justiça social. "Sendo tudo urgente, numa sociedade em crise, o mais urgente do urgente chama-se combate à pandemia", declarou.

Portugal registrou no sábado (23) 11.721 novas infecções do coronavírus  e 275 mortes provocadas pela Covid-19. O país conta, assim, com um total de 636.190 casos confirmados e 10.469 óbitos. 

 

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