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Carreto das minas: amigas se juntam e criam serviço exclusivo para mulheres

Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal
do UOL

Simone Machado

Colaboração para o UOL

24/01/2021 04h00

Foi ao desfazer a sociedade de uma loja de roupas que a então desempregada Nayara Bitencourt, de 27 anos, se viu com um financiamento de 48 parcelas para pagar. A dívida tinha acabado de ser adquirida devido à compra de uma Chevrolet Montana Conquest que havia sido adquirida para ajudar no transporte de mercadorias do interior paulista até a zona sul da capital, onde ficava o estabelecimento comercial.

Para conseguir pagar as primeiras parcelas do veículo, Nayara teve a ideia de usar a picape para fazer pequenos fretes e começou a oferecer o serviço em suas redes sociais. Logo o que era para ser um trabalho emergencial virou emprego fixo e surgiu o "Carreto das Minas".

No primeiro ano de trabalho, em 2016, Nayara fazia todo o serviço - carregar, descarregar os produtos e dirigir - sozinha. Mas no ano seguinte passou a contar com a ajuda da amiga, e agora sócia, Ana Gloria Mouroe, de 27 anos.

"A minha ideia inicial era conseguir pagar uma ou duas parcelas do financiamento até me estabilizar financeiramente, jamais imaginei que fazer frete se tornaria o meu emprego", lembra Nayara.

O negócio começou pequeno e os serviços eram oferecidos em grupos de conversa por aplicativo e nas redes sociais. Com pouco mais de quatro anos de empresa, as amigas resolveram focar o serviço de fretes e carretos exclusivamente para o público feminino e LGBTs. Hoje, com agenda lotada, elas fazem ao menos 70 viagens por mês, a um custo médio de R$ 200.

"Cresci na oficina de costura da minha mãe e depois, trabalhando com ela, via a necessidade que tínhamos do serviço de frete. Na maioria das vezes que contratávamos esse trabalho enfrentávamos situações bem chatas, como perguntas indelicadas, olhares maliciosos e até mesmo piadinhas sem graça. Por isso resolvemos focar nossos serviços voltados para mulheres e a comunidade LGBT, pois acredito que, assim como eu enfrentei essas situações chatas, outras mulheres também enfrentavam essa situação e não queríamos mais esse constrangimento", explica a empresária.

No começo o "Carreto das Minas" transportava de tudo: desde entulho até cofres. Hoje, elas estão focadas em transportar apenas itens que caibam no veículo. São cerca de 20 pedidos todos os dias, que são distribuídos ao longo da semana e fazem as meninas percorrerem aproximadamente 90 km diariamente. A empresa atende em São Paulo e em cidades no raio de até 150 km.

Carreto das minas - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Imagem: Arquivo Pessoal

"Transportamos móveis e eletrodomésticos em geral. Além disso às vezes fechamos fretes para algumas empresas que precisam entregar produtos. Lembramos que somos duas mulheres e uma picape, e por isso o que não couber no veículo ou for muito pesado, que a gente não consiga carregar, não fazemos", acrescenta Nayara.

Dirigir pelas ruas de São Paulo não é nada fácil, segundo elas. São mais de seis horas diárias sentadas à frente do volante enfrentando o trânsito caótico da capital e também lidando com o preconceito de outros motoristas.

"Preconceito no trânsito passamos sempre, infelizmente. São xingamentos, buzina daqui ou de lá. Na maioria das vezes, só por ser uma mulher que está no volante, ainda mais que na traseira do nosso carro tem a frase "Respeita as Minas". Inclusive colocamos insulfilme escuro no carro para que de alguma forma a gente fique mais segura", acrescenta Nayara.

Para 2021, o objetivo das empresárias é manter o trabalho que está sendo feito e incentivar outras mulheres que possuem caminhonetes a buscarem uma fonte de renda trabalhando com carretos.

"Vamos fazer vídeos ensinando a melhor forma de carregar os objetos, como se proteger com EPI e como amarrar a carga, tudo para que a mulher que tem uma caminhonete e quer uma renda extra possa começar nesse ramo. Queremos auxiliar nesse trabalho e evitar que elas tenham problemas que tivemos no início por falta de experiência", finaliza a empresária.

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