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"Tentativa de abalar a estabilidade do país", diz presidente do Iraque após atentado em Bagdá

21/01/2021 16h57

Pelo menos 32 pessoas morreram nesta quinta-feira (21) vítima de um atentado cometido por dois homens-bomba que se explodiram em um mercado no centro de Bagdá, o ataque mais mortal em mais de três anos na capital iraquiana.

Um primeiro homem disparou seu cinto de explosivos no meio de vendedores e de clientes no mercado de roupas de segunda mão na Praça Tayaran, informou o Ministério do Interior. Enquanto uma multidão se formava para tentar ajudar as vítimas, um segundo homem-bomba detonou seus explosivos.

Além dos 32 mortos, o ministro da Saúde, Hassan al-Tamimi, relatou 110 feridos. Os médicos dizem temer que o número de mortos continue subindo na metrópole de 10 milhões de habitantes, onde todo o contingente médico foi colocado em alerta máximo. 

Na praça, um cruzamento movimentado de Bagdá, poças de sangue eram visíveis, assim como pedaços de roupas rasgadas pelas explosões, observou um fotógrafo da AFP. Soldados e paramédicos foram posicionados em massa na praça, o primeiro grupo bloqueando o acesso, e o segundo ocupando-se em mover corpos ou ajudar feridos, em um balé de ambulâncias e o som de sirenes.

A ameaça se repete

Há quase três anos, um ataque com exatamente o mesmo modus operandi já havia atingido o mercado e sua praça, matando 31 pessoas na época. Assim como em 2018, este atentado ocorre quando as autoridades discutem a organização de uma eleição legislativa, uma questão regularmente acompanhada de violência no Iraque.

O governo prometeu a eleição antecipada de um novo parlamento para junho. Mas as autoridades agora estão propondo adiá-la até outubro, a fim de dar mais tempo à Comissão Eleitoral para organizar a votação.

No entanto, muitos políticos dizem duvidar da realização de uma eleição antecipada - tanto em junho como em outubro - porque sua condição essencial é a dissolução do Parlamento. E apenas os deputados podem votar sua própria dissolução e nenhum entre eles deu qualquer garantia neste sentido.

O presidente Barham Saleh denunciou no Twitter "tentativas maliciosas de abalar a estabilidade do país", enquanto o primeiro-ministro Moustafa al-Kazimi anunciou que substituiu altos funcionários após o ataque. "Um ato tão desprezível não enfraquecerá a marcha do Iraque em direção à estabilidade e a prosperidade", declarou a missão da ONU no Iraque, que, como a embaixada dos EUA, condenou o ataque.

O Papa Francisco, por sua vez, que deve visitar o Iraque de 5 a 8 de março, disse estar "profundamente entristecido" por este "ato de brutalidade sem sentido". Para o Irã, esses ataques, que ele condena, visam "perturbar a paz e a estabilidade" no Iraque.

Células adormecidas do EI

O duplo atentado suicida desta quinta-feira não foi reivindicado imediatamente, mas essa estratégia já foi usada no passado pelo grupo do Estado Islâmico (EI), que ocupou quase um terço do Iraque em 2014, antes de Bagdá declarar ter vencido a guerra contra os jihadistas no final de 2017.

Desde então, células jihadistas têm se escondido em muitas áreas montanhosas e desérticas do país. Até agora, pelo menos, o EI reivindicou apenas ataques em pequena escala, geralmente realizados à noite contra posições militares em áreas isoladas, longe das cidades. Os últimos ataques que mataram muitas pessoas em Bagdá datam de junho de 2019.

O ataque também ocorre no momento em que os Estados Unidos reduzem o número de suas tropas no Iraque para 2,5 mil soldados, uma queda que "reflete o aumento da capacidade do exército iraquiano", nas palavras do chefe do Pentágono, Christopher Miller. Essa redução "não significa uma mudança na política dos Estados Unidos", frisou. "Os Estados Unidos e as forças da coalizão permanecem no Iraque para garantir uma derrota duradoura" do EI.

Os Estados Unidos estão à frente de uma coalizão internacional implantada no Iraque desde 2014 para combater o Estado Islâmico. No entanto, seus comandantes agora garantem que o EI é uma ameaça menor do que os grupos armados pró-Irã que regularmente atacam os interesses americanos.

Quase todas as tropas de outros estados membros da coalizão deixaram o país em 2020, no início da pandemia do coronavírus.

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