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Os antivacina estão nas redes sociais, só encontro gente feliz, diz Monica

do UOL

Do UOL, em São Paulo

21/01/2021 18h39Atualizada em 21/01/2021 20h03

Primeira vacinada contra a covid-19 no Brasil, Monica Calazans disse hoje que ainda não teve contato com pessoas antivacina nos últimos dias, desde que São Paulo iniciou a campanha de vacinação para profissionais da saúde no último domingo (17). Para ela, pessoas que se recusam a tomar vacinas estão em sua maioria nas redes sociais.

"Eu ainda não encontrei com essas pessoas, elas estão nas redes sociais", disse Monica em declaração dada no UOL Entrevista, conduzido pelo colunista Diogo Schelp e a repórter Carolina Marins.

"Até minha pessoa, ninguém chegou. Muito pelo contrário, quem eu encontro fica feliz de saber que fui a primeira [vacinada], existe uma luz no fim do túnel", completou a enfermeira intensivista do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo.

Alvo de notícias falsas na rede, Monica foi acusada de ter sido "cobaia" do governo na vacinação. A profissional de saúde foi uma das voluntárias da CoronaVac em São Paulo, mas como recebeu o placebo, ainda na fase destes do imunizante, acabou escolhida para receber a primeira vacina contra covid-19 aplicada no país.

Fake news

Monica relatou que, enquanto recebia a vacina, mais de 300 perfis no Twitter foram criados com o seu nome. Ela afirmou que era de se esperar que virasse alvo das notícias falsas, mas lamentou o ocorrido e mencionou que "pessoas inescrupulosas" recorreram até a imagens de seu marido, morto em 2017, para atacá-la.

"Quando você está em evidência, você incomoda", lamentou a enfermeira. No entanto, Monica disse que não vai dar atenção ao que circula nas redes sociais.

Não vou ficar falando dessas notícias que são inverdades. Não vou dar ibope para fake news. Sou uma pessoa séria, com trajetória, e não darei ibope.

Solidariedade com os pacientes

A enfermeira escolheu trabalhar no Emílio Ribas porque queria atuar "no epicentro da covid". Durante os mais de dez meses trabalhando na linha de frente contra o coronavírus, ela disse que o maior aprendizado foi o de ser solidária com os pacientes.

Cada paciente apresenta um sintoma, você não pode engessar. Não tem um 'é assim para todo mundo'. Neste momento da doença, o que podemos fazer, que alcança a todos, é ser solidário, ser humano, ter o respeito ao próximo e entender o momento que ele está passando

"Carinho, humanização e solidariedade, isso é essencial, junto com o tratamento médico", acrescentou ela.

"Não me envolvo em briga política"

Monica se disse surpresa com a repercussão em torno da escolha dela como a primeira vacinada, mas não enxergou o uso de sua identidade para fins políticos. "Tudo bem que foi um grande evento, mas o que entendi é que eu ia tomar a vacina, seria fotografada e acabar ali", declarou.

A enfermeira evitou falar sobre a politização em torno da vacina e da logística de imunização no país. "Não me envolvo na briga política", observou.

Não vou falar de governo, de ministério. O que eu sei, e que acredito, é que se a gente deu início a tudo isso, alguma coisa vai ser feita até o final do ano.

Questionada a respeito da falta de vacinas o suficiente para imunizar a população-alvo da primeira fase do PNI (Plano Nacional de Imunização), Monica relatou que a maioria das pessoas com quem trabalha já foram vacinadas e que acredita na imunização completa da população até o fim do ano.

Pacientes isolados: a maior dificuldade

"O mais difícil é quando levam o paciente para o hospital e o familiar não pode ir junto", relatou ela sobre sua experiência atendendo casos de covid-19.

O mais difícil durante a pandemia, para Monica, é assistir o isolamento ao qual as vítimas da doença são submetidas nos hospitais.

A gente não sabe da evolução da doença, não sabe se é o último dia que vai ver a família.

Ela também disse que boa parte dos pacientes que atende não sabem que ela foi a primeira pessoa vacinada contra o coronavírus no Brasil. A maioria, contou, está intubado e sedado.

Ajuda do filho

Monica disse que não foi preparada para lidar com a popularidade nas redes sociais. Quem a ajuda a administrar mensagens e interações na internet é o único filho, Felipe Augusto, de 30 anos.

"Para não passar vergonha, ele que me assessora", contou ela, que disse nunca ter dominado muito bem o universo das redes sociais.

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