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O primeiro-ministro italiano arrisca seu futuro no Senado

19/01/2021 16h18

Roma, 19 Jan 2021 (AFP) - O primeiro-ministro italiano, Giuseppe Conte, está arriscando seu futuro no Senado na terça-feira (19), onde deve obter um voto de confiança para poder continuar governando em meio à pandemia.

Conte ganhou a confiança da Câmara dos Deputados ontem graças ao apoio dos dois maiores partidos da coalizão, o Partido Democrático (PD, centro-esquerda) e o Movimento 5 Estrelas (M5E, anti-sistema).

No entanto, o resultado da votação no Senado e suas consequências são totalmente incertos, enquanto a crise do governo deixou o país em desordem.

Conte perdeu o apoio dos 18 senadores do Itália Viva, formação do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, a quem chamou de "irresponsável" nesta terça-feira por ter desencadeado a crise em um momento tão delicado para o país, com mais de 82 mil mortes por causa da pandemia.

"Temos que construir novos laços políticos com as forças parlamentares que têm apoiado lealmente o governo e com aqueles que realmente se preocupam com o destino do país. Estou à disposição para isso", garantiu em seu discurso aos senadores.

De acordo com as contas, faltam a Conte 15 votos para alcançar a maioria absoluta de 161 senadores.

O chamado "advogado do povo", um desconhecido professor de direito sem experiência política, que ganhou muita popularidade com a gestão da pandemia, tenta ganhar o apoio dos setores mais centristas e independentes para compensar a perda do Itália Viva.

- O momento da verdade para Conte -"Serve a um governo forte. Você está se agarrando ao poder", lançou Renzi, que acusou o primeiro-ministro de não ter um plano confiável diante das grandes decisões que o Executivo deve tomar.

"É difícil governar com quem planta minas", respondeu Conte, ilustrando sucessivamente os numerosos projetos lançados e os desafios aos quais o governo deve responder.

"É muito provável que Conte ganhe confiança também no Senado. O que não se sabe é com quantos votos, já que provavelmente não vai conseguir a maioria absoluta de 161 votos. Mas isso não é essencial para a sobrevivência de um governo", explicou Giovanni Orsina, cientista político da Universidade Luiss de Roma.

"Nesse caso será um governo muito frágil", alertou.

Este cenário complica a liderança de Conte em uma Itália que deve enfrentar uma série de desafios importantes, desde presidir o G20 este ano até determinar nos próximos meses o destino dos mais de 209 bilhões de euros que receberá da União Europeia pelo gigante plano de reconstrução do país após a pandemia.

Os aliados de Conte passaram os últimos dias negociando e contatando senadores independentes e traidores de outros partidos dispostos a apoiá-lo.

Na segunda-feira, na Câmara dos Deputados, ele obteve o apoio de um deputado da Força Itália, partido do centro de Silvio Berlusconi, que decidiu votar a favor do governo diante da emergência econômica, social e sanitária do país.

Uma questão que deve mobilizar grande parte do Parlamento, incluindo a senadora vitalícia Liliana Segre, de 90 anos e sobrevivente do Holocausto, aplaudida depois de entrar na sede do Senado, apesar de os médicos a terem aconselhado a não comparecer.

"É verdade que a história da Itália é marcada por governos minoritários, mas o país nunca enfrentou uma crise social e econômica tão dramática", relembrou o Il Corriere della Sera em editorial nesta terça-feira.

Se Conte não atingir nem mesmo a maioria relativa de 151 assentos, uma série de cenários se abre.

Uma opção seria excluir completamente Conte e formar um novo governo com um líder vindo das fileiras do PD com o apoio de Renzi, outra opção seria um governo apoiado por uma ampla coalizão com um líder acima dos partidos.

Por fim, convocar eleições antecipadas, a pedido do extrema-direita Matteo Salvini, convencido de que pode vencê-las.

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