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Defensor da cloroquina nega eficácia contra covid e depois volta atrás

Cloroquina foi defendida como tratamento de covid-19 por Bolsonaro - Adriano Machado/Reuters
Cloroquina foi defendida como tratamento de covid-19 por Bolsonaro Imagem: Adriano Machado/Reuters
do UOL

Colaboração para o UOL

19/01/2021 12h36Atualizada em 21/01/2021 12h58

O médico e microbiologista francês Didier Raoult é considerado o principal defensor da hidroxicloroquina como tratamento para covid-19. Mas há 15 dias ele admitiu que a substância não reduz a mortalidade nem diminui a gravidade da doença. Porém, após a opinião ser divulgada ontem em vários jornais, ele voltou atrás e afirmou que o remédio é eficaz no tratamento ao novo coronavírus.

A confusão começou em uma carta publicada no dia 4 de janeiro, no site do Centro Nacional de Informações sobre Biotecnologia, da França. Ele escreveu claramente que a substância não causa efeito direto na quantidade de mortes, de acordo com o estudo dele.

"As necessidades de oxigenoterapia, a transferência para UTI e o óbito não diferiram significativamente entre os pacientes que receberam hidroxicloroquina com ou sem azitromicina e os controles feitos apenas com tratamento padrão", escreveu Raoult.

Na sequência, ele insistiu, porém, que o tempo de internação dos pacientes tratados com hidroxicloroquina e azitromicina foi menor. "Também calculamos o tempo de internação, que pareceu ser significativamente menor em pacientes tratados apenas com hidroxicloroquina ou com hidroxicloroquina e azitromicina, do que nos controles."

Ontem, depois que a carta foi amplamente divulgada na mídia internacional, Raoult se manifestou no Twitter. Disse que a eficácia de hidroxicloroquina e azitromicina na redução do tempo de permanência no vírus no organismo foi confirmada, com subsequente demonstração de eficácia na mortalidade. Ele alegou ainda que nunca mudou de ideia, apesar de a carta publicada no dia 4 expor justamente o contrário.

O estudo de Raoult, que foi utilizado por muitos defensores da cloroquina, trazia conclusões preliminares e envolvia apenas 42 pessoas. Isso bastou para a cloroquina receber apoio de algumas pessoas, como o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido).

Porém, desde que esse assunto veio à tona, cientistas e a OMS (Organização Mundial da Saúde) criticaram a pesquisa de Raoult, por não seguir protocolos científicos padrão. Raoult até passou a ser investigado por um Conselho Nacional da Ordem dos Médicos, na França.

Um ensaio clínico realizado pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, chegou à conclusão de que a hidroxicloroquina "não tem nenhum efeito benéfico" em termos de covid-19. O Le Figaro também mencionou um outro estudo, feito pelo Angers University Hospital, em uma amostra de 250 pacientes, e a conclusão foi a mesma do estudo de Oxford.

Na semana passada, o Ministério da Saúde lançou um aplicativo no qual incentivava o uso das medicações que não têm eficácia comprovada. Porém, ontem o Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, mentiu ao dizer que nunca apoiou a ideia do tratamento precoce. Ele também entrou em contradição com Bolsonaro, que no mesmo dia prometeu insistir na divulgação do tratamento precoce.

No último sábado, o Twitter chegou a indicar que uma publicação do Ministério da Saúde tem "informações enganosas e potencialmente prejudiciais relacionadas à covid-19".

No último domingo, ao analisar as vacinas contra covid-19, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) reforçou diversas vezes que não há medicamentos eficazes contra a doença.

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