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EUA considera que China comete 'genocídio' contra muçulmanos uigures

19/01/2021 20h09

Washington, 19 Jan 2021 (AFP) - Washington considera que a China comete um "genocídio" contra os muçulmanos uigures na região de Xinjiang, declarou nesta terça-feira (19) o atual secretário de Estado, Mike Pompeo, na véspera da posse do presidente eleito Joe Biden.

"Creio que esse genocídio continua e que assistimos uma tentativa sistemática de destruir os uigures por parte do partido-Estado chinês", disse em um comunicado.

Pompeo também mencionou "crimes contra a humanidade" perpetrados "desde pelo menos março de 2017" pelas autoridades chinesas contra uigures e "outros membros das minorias étnicas e religiosas de Xinjiang".

As críticas do chefe da diplomacia americana à China têm sido constantes durante seu mandato, mas até o momento ele sempre evitou acusar Pequim de genocídio, embora tenha comparado sua atitude com relação aos uigures com as políticas nazistas.

Segundo especialistas estrangeiros, mais de um milhão de uigures estão detidos em campos de reeducação política.

Pequim desmente esta informação e afirma que se trata de centros de formação profissional, destinados a distanciá-los do terrorismo e do separatismo após atentados atribuídos aos uigures;

- Um favor para Biden ? -Diferentemente de várias das últimas decisões de Pompeo, consideradas obstáculos para a política externa de Biden, a declaração de genocídio foi bem recebida pela novo governo Biden.

"Essa também seria minha opinião", disse ao comparecer ao Senado nesta terça-feira Antony Blinken, que recebeu sua indicação como sucessor de Pompeo.

Blinken, como outros indicados de Biden, prometeu permanecer firme contra a China.

De fato, antes de sua eleição em novembro, o próprio Biden declarou a repressão aos uigures um "genocídio perpetrado pelo governo autoritário da China".

Após as declarações de Pompeo, o governo de Biden poderia manter a declaração de genocídio, sem ter que enfrentar a ira de Pequim por este comunicado, enquanto busca áreas de cooperação com o gigante asiático.

Em sua audiência de confirmação no Congresso, Janet Yellen, nomeada como secretária do Tesouro, prometeu nesta terça-feira "utilizar toda a gama de ferramentas" disponíveis para lutar contra "práticas abusivas, injustas e ilegais da China", que afetam a economia americana.

Omer Kanat, diretor de um centro com sede em Washington que defende os uigures, disse esperar que a declaração de genocídio seja seguida por outras medidas, incluindo o boicote às Olimpíadas de Inverno que serão realizadas na China no próximo ano.

"As implicações são enormes. É impensável continuar 'como se nada tivesse acontecido' com um estado que comete genocídio e crimes contra a humanidade", disse Kanat em um comunicado.

O governo Trump já tomou várias decisões para aumentar a pressão contra a China por sua atitude com os uigures, inclusive o bloqueio de todas as importações de algodão de Xinjinag. A região é um dos maiores produtores mundiais do fio usado na indústria têxtil.

Vários governos americanos têm sido precavidos no momento de usar a palavra genocídio, conscientes das implicações legais que este termo poderia ter tanto nos Estados Unidos quanto no exterior.

Em um estudo publicado no ano passado, o pesquisador alemão Adrian Zenz afirmou que a China impôs a esterilização de várias mulheres uigures e as pressionou para que abortassem quando a gestação superava as cotas de nascimento. Pequim refutou este informe.

Sem seu comunicado, Pompeo exigiu que a China ponha "fim a seu sistema de campos de internação e detenção, de residências vigiadas e de trabalho forçado" e a "cessar as medidas coercitivas de controle da população, inclusive as esterilizações impostas, a contracepção obrigatória e a retirada de crianças de suas famílias".

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