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'Só volto morto': migrantes hondurenhos insistem na jornada em direção aos EUA

18/01/2021 16h01

Vado Hondo, Guatemala, 18 Jan 2021 (AFP) - Alexander está cansado. Há três noites ele está dormindo ao ar livre, como muitos de seus compatriotas hondurenhos que seguem a pé em uma caravana até os Estados Unidos. Mesmo bloqueado pela polícia guatemalteca, ele não desistirá.

"Para Honduras só volto morto. O que vou fazer em Honduras? Só morrer, seja de fome ou pela violência", disse à AFP este homem de 24 anos da cidade de Limón, onde trabalhava como taxista antes de ficar desempregado com chegada da pandemia.

Famintos e exaustos após mais de três dias de caravana, milhares de migrantes hondurenhos se recusam a desistir de seu sonho de chegar aos Estados Unidos, interrompido por cerca de 500 policiais e militares que já deixaram claro que não os deixarão passar. No domingo, eles foram recebidos com gás lacrimogêneo e pancadas.

"Estamos tristes, desconsolados, com fome, cansados da viagem, mas pretendo aguentar tudo para chegar aos Estados Unidos", afirma Marta del Cid, de 40 anos, natural de San Pedro Sula, no norte de Honduras.

Eles acordaram deitados no asfalto da estrada, ou nas margens, onde há grama seca, no quilômetro 177 da aldeia Vado Hondo, a cerca de 50 km da fronteira com Honduras. Famílias inteiras estão viajando, muitas com filhos.

À noite faz frio e os mais sortudos podem se aquecer com um cobertor. A maioria apenas se protege com um suéter ou as camisetas que levam entre seus poucos pertences. Durante o dia, o sol deixa o chão queimando.

- Viver debaixo da ponte -Marta conta com tristeza que se juntou à caravana porque perdeu seus pertences nos dois furacões que atingiram a América Central em novembro e que ela estava vivendo debaixo de uma ponte.

"Perdemos tudo e em Honduras o governo nos trata como lixo", lamenta a mulher que viaja com seus dois filhos de 24 e três anos. As roupas que ela veste já estão sujas.

Carlos Valle, de 34 anos, que viaja sozinho, motivado pelo desemprego, deixou seus três filhos de quatro, oito e 11 anos com parentes na cidade hondurenha de Comayagua e também não perdeu a fé em seu objetivo. "Estamos cansados, mas vamos resistir e espero que a Guatemala nos deixe passar para continuar a caminhada para os Estados Unidos", diz.

Como muitos de seus compatriotas, ele culpa o presidente Juan Orlando Hernández pela crise. "O governo que temos é o mais terrível, isso sim. Todo mês chega a conta de luz, mesmo que não tenhamos esse serviço", aponta Carlos.

Os migrantes dizem que estão tentando escapar da violência, da pobreza, do desemprego e da falta de educação e saúde, situação agravada pela pandemia. Eles também têm esperança de uma possível flexibilização das políticas de imigração nos Estados Unidos, depois que Joe Biden assumir o cargo. Uma possibilidade que Washington já rejeitou.

- Balanço de danos -O grupo, estimado em 9 mil pessoas inicialmente pelas autoridades de imigração, saiu na manhã de sexta-feira de San Pedro Sula, em Honduras. Eles cruzaram a fronteira com a Guatemala entre a noite e as primeiras horas de sábado e conseguiram avançar até Vado Hondo.

Antes de tentarem continuar, foram repelidos com bastões e gás lacrimogêneo pelos militares e policiais. Muitos migrantes ficaram feridos no confronto, em que os militares usaram varas longas para golpeá-los e evitar que ultrapassassem a barreira.

A concentração do grupo foi reduzida a cerca de 4 mil pessoas. O resto se dispersou. Cerca de 800 foram contidas em uma cidade próxima e mais de 1.500 retornaram de forma voluntária.

Entre os migrantes que foram voluntariamente aos centros de saúde da região, o Ministério da Saúde da Guatemala detectou 21 casos de covid-19.

A permanência da caravana também começa a causar estragos na economia, pois está bloqueando uma importante rota de transporte de cargas, que abastece empresas e indústrias da região.

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