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Calor, fila gigante e aglomeração: saga por oxigênio lota fábrica em Manaus

do UOL

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Manaus

17/01/2021 14h54

Uma fila gigante sem qualquer controle de distanciamento está formada na porta da única empresa em Manaus que está vendendo oxigênio a pessoas que têm familiares acamados por conta da covid-19. "Todos vão ser atendidos", repete, ao microfone, o funcionário responsável pelo atendimento ao público da fábrica.

Sem leitos disponíveis no estado há dias, pacientes que têm recursos financeiros estão optando por fazer o tratamento em casa; para isso, precisam do oxigênio para manutenção da saturação do infectado. Entretanto, a alta demanda fez com que o produto ficasse escasso, e quem precisa relata dificuldade em comprar o insumo.

Na porta da Carboxi, no Distrito Industrial 2 de Manaus, centenas de pessoas se aglomeram no calor e esperam por até mais de 12 horas para terem seus cilindros de volta abastecidos. Sabendo da demora, muitas pessoas levaram cadeiras e sombrinhas para amenizar o calor.

Apesar da fila, todos os ouvidos se dizem aliviados com a empresa ter aberto as portas ontem à sociedade porque, até então, não era possível comprar oxigênio na cidade porque o governo do estado fez uma requisição administrativa a todas as indústrias do setor.

"Desde sexta estava tentando comprar, sem sucesso. Ontem pela manhã vim aqui e não consegui nada", conta Roberto Silva, que levou três cilindros para reabastecer e atender os quatro familiares que estão com covid-19.

"Resolvemos manter todos em casa porque não adianta ir a um hospital porque não tem vaga. Se piorar algum deles, claro, levaremos, mas por ora vamos mantendo em casa", diz.

Aumento no preço do cilindro do oxigênio

Na manhã de hoje, quando a reportagem do UOL esteve no local, estavam sendo devolvidos os cilindros carregados dos pacientes que deixaram as balas (como são chamados os cilindros) até às 2h da manhã.

Somente depois do meio-dia teve início do cadastro das pessoas que faziam fila desde a madrugada no local para que deixassem os objetos. "Você vai deixar o cilindro e vem pegar somente no fim da tarde carregado", avisa o funcionário da empresa.

Manter o tratamento com oxigênio em casa é caro. Os tipos de cilindros menores estão sendo reabastecidos por R$ 400; e o maior padrão de 50 kg custa R$ 600.

richard - Carlos Madeiro / UOL  - Carlos Madeiro / UOL
Richard Rodrigues chegou ao local às 7h para obter um cilindro de oxigênio
Imagem: Carlos Madeiro / UOL

"O preço do abastecimento do cilindro grande, antes da crise, era entre R$ 300 e R$ 350. Mas complicado comprar oxigênio em Manaus desde a segunda-feira. Trabalho em uma clínica que tem 23 pacientes internados, e três já morreram por falta de oxigênio. É uma situação difícil porque a gente depende do oxigênio para manter eles vivos", explica Richard Rodrigues, que chegou às 7h ao local.

Um cilindro de 50 kg, diz, mantém uma pessoa internada por apenas dois dias.

"E sem ele não temos o que fazer. Por isso estamos acordados o tempo todo, lutando por esse oxigênio, e ainda bem que essa empresa abriu, porque estava muito complicado", diz.


Ampliação de oferta

Um dos proprietários da Carboxi, Marcelo Dutra, estava no local hoje e conta ao UOL que a fábrica direcionou toda sua produção para o oxigênio medicinal. Mesmo assim segue com demanda acima da capacidade.

"Estamos com dificuldade de arrumar iso contêineres para comprar mais oxigênio e trazer para cá. Temos nossa frota própria de carretas que está atuando, mas continuamos procurando [para ampliar a oferta]", diz.

Para ajudar os clientes, a empresa montou duas tendas. Por conta volume de pessoas, elas não conseguem abrigar todos, e muitos ainda ficam no sol. Banheiros químicos também foram instalados, e voluntários ajudam com a distribuição de alimentos e bebidas.

Dutra conta que a fábrica produz oxigênio para hospitais não só do Amazonas, mas de Roraima, e o excedente atual que está sendo produzido está sendo ofertado à rede pública e, agora, às pessoas que buscam comprar o produto diretamente na fábrica.

"Abrir as portas para esse público foi a única forma de ajudar, de dar uma contrapartida para a sociedade. Nunca imaginei viver isso na minha vida. Na primeira onda, nós ampliamos, mas assistimos o hospital de campanha com todos os gases; nada se compara ao que está acontecendo em Manaus agora", finaliza.

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