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Ofuscado por processo de impeachment de Trump, Biden promete 'novo capítulo'

15/01/2021 08h17

Wilmington, Estados Unidos, 15 Jan 2021 (AFP) - O futuro presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, revelou na quinta-feira (15) seus planos para enfrentar a covid-19 e injetar US$ 1,9 trilhão na economia, mas sua agenda para os primeiros 100 dias de governo já está ofuscada pelo iminente processo de impeachment de Donald Trump.

Biden prometeu um "novo capítulo" para o país, um dia depois de Trump se tornar o primeiro presidente da história dos Estados Unidos a sofrer duas vezes um processo de impeachment. Com um discurso no horário nobre, o democrata tentou trazer esperança aos americanos.

"Voltaremos", disse Biden, de 78 anos, a seis dias de assumir a Presidência do país mais enlutado pela pandemia, mergulhado em uma crise econômica e abalado por uma onda de demandas por justiça racial, e ainda em choque com a violência política que atingiu a sede do Congresso em Washington.

"Não chegamos aqui da noite para o dia, e não sairemos de um dia para o outro. E não podemos fazer isso como uma nação separada e dividida", disse ele.

"A única maneira é se nos unirmos como americanos", convocou.

Com seus correligionários democratas controlando por pouco as duas Casas do Congresso, Biden tem a chance de aprovar o que seria o terceiro pacote de ajuda em massa para a pandemia.

No discurso, o "não assunto" foi o julgamento político de Trump, que introduzirá um potencial pesadelo de complicações de agenda no Congresso e um drama político em um Senado já tenso.

Assim, Biden não fez menção ao presidente em final de mandato, nem a seu "impeachment", nem aos eventos violentos no Capitólio na semana passada.

Concentrou-se na "dupla crise de uma pandemia e nesta economia a pique", um desafio que vai superará até mesmo aquele enfrentado como vice-presidente de Barack Obama quando assumiu o cargo após o colapso financeiro de 2008.

A pandemia da covid-19 continua a registrar novos picos, o programa de vacinação cambaleia, e há temores de que a saída econômica do buraco de 2020 possa retroceder.

Sua proposta, batizada de Plano de Resgate Americano, incluirá uma série de medidas destinadas a revitalizar a maior economia do mundo.

A iniciativa inclui dobrar o salário mínimo federal para US$ 15 por hora, ajudar os governos estaduais e locais em dificuldade, reabrir escolas com segurança, implementar uma campanha de vacinação em massa contra a covid-19 e aumentar o pacote de estímulo aprovado pelo Congresso no mês passado.

A presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, e o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, disseram que começarão a trabalhar para garantir o sucesso do plano.

"Vamos começar a transformar a visão do presidente eleito Biden em uma legislação que seja aprovada por ambas as câmaras e que seja promulgada", disseram ambos, em um comunicado conjunto.

Biden, que tomará posse em 20 de janeiro, também promete acelerar o ritmo de vacinação, com um slogan marcante de 100 milhões de injeções a serem aplicadas nos primeiros 100 dias de governo.

O presidente eleito diz que quer enfrentar tudo isso ao mesmo tempo, deixando para trás um dos períodos mais sombrios da história americana.

É uma tarefa difícil.

A vantagem é que Biden assume o cargo com um alívio que não esperava: o controle total do Congresso.

As impactantes vitórias dos democratas nas duas eleições de segundo turno do Senado na Geórgia na semana passada deram à sigla uma maioria, embora estreita, em ambas as casas. Isso também ajudará Biden a confirmar rapidamente o gabinete que nomeou pelo Congresso. Já em 19 de janeiro a Comissão de Finanças do Senado começará a analisar a nomeação de Janet Yellen como secretária do Tesouro.

- Um assunto incontornável -A questão inevitável do momento é o impeachment.

Na quarta-feira, Trump foi acusado na Câmara dos Representantes de "incitar a insurreição", ao estimular uma multidão de seus simpatizantes a marcharem contra o Congresso em 6 de janeiro. Naquele momento, acontecia a cerimônia de certificação da vitória eleitoral de Biden.

A multidão invadiu as instalações do Capitólio. Cinco pessoas morreram.

Em um cenário sonhado pelos democratas, o Senado teria convocado uma sessão de emergência para realizar uma julgamento político relâmpago antes de 20 de janeiro, o que forçaria Trump a renunciar.

O líder da ainda maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, rejeitou a ideia, dizendo que não havia tempo para levar à frente um processo "justo" com o presidente.

A partir de 20 de janeiro, McConnell perderá sua liderança, que passará para as mãos do democrata Schumer.

A declaração de McConnell de que tem a mente aberta sobre a culpa do presidente republicano levanta a possibilidade de que Trump ainda possa acabar sendo condenado por uma maioria de dois terços no Senado.

Se declarado culpado, uma segunda maioria simples de votos seria suficiente para impedir o ex-apresentador de reality show de tentar se candidatar à Presidência em 2024.

Antes de tudo isso, porém, os senadores terão de fazer malabarismos para ver como conseguirão processar um ex-presidente republicano, enquanto, ao mesmo tempo, cooperam com a agenda do novo presidente democrata.

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