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João Alberto: Polícia aguarda laudo de morte para decidir indiciamento

João Alberto foi morto na saída para estacionamento do Carrefour - Reprodução
João Alberto foi morto na saída para estacionamento do Carrefour Imagem: Reprodução
do UOL

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Porto Alegre

30/11/2020 16h01Atualizada em 30/11/2020 16h56

O laudo pericial que aponta a causa da morte de João Alberto - cliente negro morto após ser espancado por seguranças do Carrefour de Porto Alegre - é considerado decisivo para determinar de que maneira os três presos devem ser indiciados. O documento está sendo elaborado pelo IGP (Instituto-Geral de Perícias) e ainda não há data para ser entregue. Um laudo preliminar já atestou a hipótese de asfixia.

Dois seguranças - Magno Braz Borges,30, e o policial militar temporário Giovane Gaspar da Silva, 24 - foram presos no dia do crime. Já a agente de fiscalização do Carrefour Adriana Alves Dutra, 51, foi presa temporariamente cinco dias após a morte de Beto, como era conhecida a vítima. Até então, os três deveriam ser indiciados por homicídio triplamente qualificado - por motivo fútil, uso de recurso que dificultou a defesa e asfixia.

"Única coisa que pode afetar o indiciamento é que a causa morte não seja asfixia", observou a diretora do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), Vanessa Pitrez, em coletiva de imprensa hoje.

Delegados concedem coletiva sobre caso João Alberto - Hygino Vasconcellos/UOL - Hygino Vasconcellos/UOL
Delegados concedem coletiva sobre caso João Alberto
Imagem: Hygino Vasconcellos/UOL

O laudo final ainda não foi entregue pelo IGP, o que a polícia espera que ocorra nos próximos dias. Quando o caso veio à tona, a delegada Roberta Bertoldo já havia levantado a possibilidade de que Beto teria perdido a vida após sofrer um ataque cardíaco.

Ao ser questionada sobre a possibilidade dos três também serem enquadrados por injúria racial, a diretora do departamento afirma que "nenhum hipótese é descartada". Disse que ainda não se sabe a motivação para o crime. "O que nós buscamos é identificar motivação racial ou não, ou se o crime foi praticado por outro motivo."

Ao todo, mais de 40 pessoas foram ouvidas e outras testemunhas seguem prestando depoimento. No final de semana, os investigadores se detiveram na análise de imagens de câmeras de segurança.

Durante a coletiva, Roberta observou que há relatos de importunação de Beto a funcionários e clientes do Carrefour, o que UOL já havia adiantado na última sexta-feira (27). As situações ainda estão sendo apuradas, segundo a delegada.

Caso João Alberto

João Alberto Silveira Freitas, 40 anos, foi morto em 19 de novembro no Carrefour da zona norte de Porto Alegre. Segundo a esposa dele, Milena Borges Alves, 43, o casal foi ao supermercado para comprar ingredientes para um pudim de pão e adquirir verduras. Gastaram cerca de R$ 60. Ela conta que ficaram poucos minutos no Carrefour e que Beto saiu na frente em direção ao estacionamento. Ao chegar ao local, Milena se deparou com o marido se debatendo no chão. Ele chegou a pedir ajuda, mas a esposa foi impedida de chegar perto dele.

João Alberto era casado e pai de quatro filhas de outros casamentos. Na foto, ele com a esposa e a enteada - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
João Alberto Silveira Freitas e a esposa, Milena Borges Alves (e); ele foi espancado em uma loja do Carrefour em Porto Alegre e morreu
Imagem: Arquivo pessoal

Imagens de câmeras de segurança mostram a circulação de Beto na área dos caixas e as agressões no estacionamento. A gravação mostra Beto desferindo um soco no PM temporário, o que é seguido por chutes, pontapés e socos do segurança e do PM temporário.

A maior parte das imagens mostra a imobilização com uso da perna flexionada do segurança sobre as costas de Beto. Nos Estados Unidos, George Floyd foi mantido por 7 minutos e 46 segundos com o joelho do policial sobre o pescoço dele, segundo os promotores de Minnesota.

No mesmo dia da morte de Beto os dois seguranças foram presos. Cinco dias depois ocorreu a prisão da fiscal de fiscalização do Carrefour Adriana Alves Dutra, 51 anos.

A morte de Beto gerou protestos em Porto Alegre e em outras partes do país. Na capital gaúcha, um grupo de 50 pessoas conseguiu acessar o pátio do mercado, mas recuou após atuação da Brigada Militar. Uma pessoa conseguiu invadir e pichou a fachada do prédio. Outros colocaram fogo em materiais.

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