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Fotógrafo ferido em manifestação revive em Paris momentos da guerra síria

30.nov.2020 - O fotógrafo sírio Ameer al-Halbi, de 24 anos, ferido durante confrontos em uma manifestação contra o projeto de lei de segurança global em Paris - SAMEER AL-DOUMY / AFP
30.nov.2020 - O fotógrafo sírio Ameer al-Halbi, de 24 anos, ferido durante confrontos em uma manifestação contra o projeto de lei de segurança global em Paris Imagem: SAMEER AL-DOUMY / AFP

30/11/2020 15h17

Ainda abalado após ter sido ferido no sábado (28) em uma manifestação em Paris, o fotógrafo sírio Ameer al-Halbi afirma que o mais duro foi reviver na França uma cena já experimentada há oito anos, em sua Aleppo natal, vendo "sangue por todos os lados".

Al-Halbi, que cobriu o conflito sírio para a AFP, trabalhava como fotógrafo freelancer na manifestação contra um polêmico projeto de lei sobre segurança e violência policial.

Uma investigação "administrativa interna", reivindicada pela AFP, foi aberta pela polícia para determinar as circunstâncias da agressão.

AFP: O que aconteceu no sábado à noite?

Quando cheguei à Praça da Bastilha, começaram os confrontos entre manifestantes e policiais. Continuei tirando fotos, embora a situação tenha se tornado violenta. Alguns minutos antes [do incidente], tirei fotos de policiais que estavam agredindo alguém. Éramos três, quatro fotógrafos apoiados contra uma parede, nos distanciamos.

Em um momento, a polícia correu para os manifestantes. Me perguntei se devia correr, como todo mundo, ou continuar tirando fotos, mas sou fotógrafo, então continuei. Minha câmara é imponente, está claro que estava tirando fotos. Não sei exatamente o que aconteceu. Estava concentrado na minha câmera, mais do que ao meu redor (...) Não estava prestando atenção. Os policiais chegaram e de repente eu me vi no chão, sem me dar conta do que aconteceu. Acho que foi uma única vez.

As pessoas pisaram em mim e depois alguém me ajudou. Não tinha meu equipamento de proteção, que foi confiscado pela polícia em uma manifestação dos "coletes amarelos", porque não tinha credencial de imprensa. No hospital, operaram meu nariz e o supercílio durante 30 minutos sem anestesia. Tinham medo de uma hemorragia, eu gritava, foi muito doloroso.

AFP: O que você sentiu na hora do golpe?

Tinha mais medo de perder minha câmara do que por mim mesmo. Não pensei que estava ferido, realmente não senti dor. Quando cheguei ao fim da rua, vi sangue na roupa, na câmera. Estava fazendo meu trabalho, não esperava isso. Não fiz nada de errado. Antes [de chegar à França, há três anos], não acreditava que a polícia pudesse ser violenta no exterior. A primeira vez que cobri uma manifestação em Paris, tinha confiança, tirava fotos violentas, mas estava em um país que respeitava as liberdades e a imprensa. Não esperava que isso acontecesse em Paris. Foi um choque. Não consigo dormir, revivo a situação.

AFP: Qual é seu sentimento em virtude de sua experiência na Síria?

Foi duro, porque me devolveu uma imagem da Síria. Me lembrou uma situação vivida quando tinha 15 anos durante uma manifestação em Aleppo, em 2012. Tinha sido baleado na mão, estava preso entre os manifestantes e os policiais e não podia ir para o hospital imediatamente.

Não estou comparando a França com a Síria, a violência ali é incomparável, mas foi chocante reviver isso em Paris, em um ambiente onde nunca imaginei que veria sangue por todo o lado na rua. Foi louco ter a imagem de Aleppo em Paris, oito anos depois. Em Aleppo, perdi uma câmera, vi bombardeios na minha frente. Mas a visão da minha câmera ensanguentada me afetou.

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