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Hallel, presa quatro vezes por se recusar a prestar o serviço militar em Israel

24/11/2020 07h56

Atlit, Israel, 24 Nov 2020 (AFP) - Na porta de uma prisão militar do norte de Israel, a jovem Hallel Rabin, detida quatro vezes por se recusar a prestar o serviço militar, afirma que é a "pessoa mais feliz do mundo" por estar novamente em liberdade.

Aos 19 anos, ela poderia ser enviada por mais 80 dias à prisão militar "número 6" de Atlit, onde afirma que passou os 56 dias "mais longos do mundo".

Mas, após interrogatórios em quatro audiências, o exército considerou que seu pacifismo era sincero e não era influenciado por uma oposição à política israelense, o que poderia ter resultado em outra detenção.

Em Israel, o exército tem um papel central na sociedade e todos os jovens, homens e mulheres, devem prestar ao menos dois anos de serviço militar, exceto alguns judeus ultraortodoxos e árabes israelenses.

"O exército é uma das coisas mais evidentes em Israel: você cresce dizendo que um dia será soldado, que ficará calado e fará o seu trabalho", explica Hallel depois de abraçar a mãe ao sair do centro de detenção.

Para evitar o serviço militar, alguns decidem frequentar em período integral uma yeshivá - escola em que se estuda o Talmud -, o que é motivo de isenção, e outros optam por se declarar loucos, diretamente.

- E o que acontece com o Irã? -Hallel Rabin, porém, decidiu alegar suas convicções pacifistas e se recusou a participar em um "sistema de violência", pois acredita que "há muitas outras formas de de comprometer-se com a sociedade".

"Eu não poderia escolher o caminho fácil e dizer que estava louca", explica a jovem. "Não estou louca, louca é a situação aqui", completa.

Apesar dos insultos por "traição" e das ameaças recebidas nas redes sociais, Hallel não mudou de ideia. "Decidi que não deixaria que o ódio deles me afetasse".

E os inimigos de Israel, que ameaçam apagar o país do mapa? A jovem garante que não é "ingênua" e que conhece os desafios que seu país enfrenta.

Em 2019, cinco objetores de consciência - os "refuzniks" - foram detidos, segundo a associação pacifista Yesh Gvul.

Ao ser questionado pela AFP, o exército se recusou a comentar o caso de Hallel Rabin, mas afirmou que os objetores podem "apresentar suas razões (para não servir no exército) ante um comitê" que, por sua parte, emite uma "recomendação" para a central de recrutamento.

Quando os membros do comitê militar responsável por decidir sobre a isenção perguntaram "Você sabe que o Irã vai adquirir uma bomba atômica? Você acha que deveriam ter permissão para isso?", ela conta que não conseguiu evitar uma risada e respondeu que não correspondia a ela solucionar o problema.

- "Em nenhum exército do mundo" -Se tivesse nascido em outro país, também responderia "não"?

"Eu não serviria em nenhum exército do mundo, mas a situação nos Territórios Palestinos reforça minha convicção", explica.

Agora que está oficialmente isenta do serviço militar, ela vai prestar serviço comunitário e deseja ajudar, por exemplo, crianças com dificuldades.

Em 2002, a Suprema Corte decidiu que era possível conceder isenções por pacifismo, mas estabeleceu uma distinção entre o pacifismo e a "objeção de consciência seletiva", algo que poderia "enfraquecer os laços que nos unem como nação".

Em outras palavras: uma pessoa pode se recusar a prestar o serviço militar por oposição à guerra em geral, mas não por opor-se apenas, por exemplo, à política israelense nos Territórios Palestinos.

"Israel não quer ouvir vozes diferentes", lamenta a mãe de Hallel, Irit Rabin, que serviu o exército na juventude.

"Nós não dissemos a ela o que fazer, apenas que tinha o direito natural de escolher o próprio caminho", explica, orgulhosa da filha. "Contribuiu para o país de uma forma muito particular", afirma, abraçando Hallel.

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