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Para o papa, 'a migração não é uma ameaça para o cristianismo'

23/11/2020 21h58

Cidade do Vaticano, 24 Nov 2020 (AFP) - O papa Francisco, defensor de corredores humanitários para acolher os migrantes na Europa, insistiu em um novo livro, divulgado nesta segunda-feira (23), que "a migração não é uma ameaça ao cristianismo".

"Rejeitar um migrante em dificuldades, seja de qual confissão religiosa for, por medo de diluir nossa cultura 'cristã' é uma falsificação grotesca tanto do cristianismo quanto da cultura", escreveu o papa no livro intitulado "Vamos sonhar juntos", amplamente inspirado em suas reflexões sobre a pandemia do novo coronavírus.

"A migração não é uma ameaça para o cristianismo, exceto na imaginação daqueles que se beneficiam simulando-o. Promover o Evangelho e não acolher o estrangeiro necessitado, nem afirmar sua humanidade como filho de Deus é querer fomentar uma cultura cristã apenas de nome; vazia de toda a sua novidade", reitera Francisco.

A insistência do sumo pontífice em repreender os países ricos, sobretudo na Europa, pelo tema dos migrantes, lhe rende às vezes críticas que o acusam de ingenuidade, inclusive entre os católicos.

Mas, o papa considera que estas críticas vêm frequentemente de cidadãos pouco praticantes.

"Uma fantasia do nacional-populismo em países de maioria cristã é defender a 'civilização cristã' de supostos inimigos, seja do islã, dos judeus, da União Europeia ou das Nações Unidas", afirma.

"Esta defesa é atraente para aqueles que com frequência não são mais crentes, mas que consideram o patrimônio de sua nação como uma identidade. Aumentam seus medos e sua perda de identidade, ao mesmo tempo em que diminui sua participação nas igrejas", ressalta.

Em seu novo livro, o papa insiste na precariedade dos migrantes, que vivem confinados em acampamentos insalubres em plena pandemia do novo coronavírus.

"Estes acampamentos de refugiados transformam o sonho de conquistar uma vida melhor em câmaras de tortura", escreveu, acrescentando: "se a covid entrar em um campo de refugiados, pode gerar uma verdadeira catástrofe".

Para Jorge Bergolgio, neto de migrantes italianos radicados na Argentina, "a dignidade dos nossos povos exige corredores seguros para migrantes e refugiados, de forma que possam se mudar sem medo de zonas de morte a outras mais seguras".

"É inaceitável deixar que centenas de migrantes morram em perigosas travessias marítimas ou em travessias pelo deserto", avaliou.

Nesta nova declaração, o papa lembrou que os migrantes "mal pagos" costumam constituir a mão de obra de sociedades mais desenvolvidas e continuam sendo "desprezados".

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