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Empresas do Brasil preferem cultura interna de competição, revela pesquisa

Empresas com cultura corporativa focada em competição têm a segunda pior avaliação em clima organizacional - Joshua Golde/Unsplash
Empresas com cultura corporativa focada em competição têm a segunda pior avaliação em clima organizacional Imagem: Joshua Golde/Unsplash
do UOL

Diogo Antônio Rodriguez

Do UOL, em São Paulo

30/10/2020 04h00

Resumo da notícia

  • 27% das empresas brasileiras adotam cultura corporativa focada em competitividade; 15%, em uma causa ou ideal; e 14%, em relacionamentos
  • Apesar disso, pesquisa realizada pela FIA indica que empresas com esse tipo de cultura obtiveram a segunda pior nota em clima organizacional
  • Especialista alerta que ênfase em resultados vai contra a tendência atual de valorizar saúde mental e habilidades socioemocionais dos colaboradores
  • Pesquisa também mostra que adesão à cultura corporativa é essencial para a retenção de talentos

A cultura corporativa mais comum entre as empresas brasileiras é a que incentiva a competitividade como a melhor maneira de buscar resultados. Esta é uma das descobertas da pesquisa FIA Employee Experience 2020 (FEEx), realizada com 150 mil funcionários de mais de 300 empresas em todo o país. Ela servirá de base para o Prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar, do qual UOL é parceiro, e cujos vencedores serão anunciados em novembro.

De acordo com os próprios funcionários, que responderam anonimamente à pesquisa entre agosto e setembro, 27% trabalham em uma empresa com cultura competitiva. Em segundo lugar (15%), vieram as com cultura idealista, que valorizam uma causa maior, social ou humanitária. Em terceiro (14%) as organizações que privilegiam relacionamentos, nas quais o ambiente é caloroso e familiar.

A pesquisa também incluía outras quatro opções: as que focam em inovação (12,7%), ordem (12,5%), protagonismo (10%) ou segurança (7,3%).

A cultura competitiva foi mais identificada nas áreas de transporte e logística (36%), atendimento ao cliente (30%) e serviços financeiros (29%). A idealista predominou nos serviços de saúde (27%) e públicos (25%). A de inovação, entre as indústrias químicas e petroquímicas (23%).

A contradição da competitividade

Vivian Rio Stella, idealizadora da VRS Academy - Divulgação/VRS Academy - Divulgação/VRS Academy
Vivian, da VRS Academy: cultura de competitividade revela contradição no mercado
Imagem: Divulgação/VRS Academy
Para Vivian Rio Stella, idealizadora da consultoria de ensino corporativo VRS Academy e professora de comunicação empresarial na Faculdade Casper Líbero (SP), a preferência pela cultura de competitividade indica uma contradição entre prática e discurso no mercado brasileiro. "Ao mesmo tempo que se fala cada vez mais de saúde mental, de habilidades socioemocionais, de criatividade, ainda são utilizados indicadores que focam apenas em resultado e competição", analisa.

A FEEx também traz indícios de que essa ênfase não gera o melhor ambiente de trabalho. As informações fornecidas pelos funcionários foram computadas para gerar o chamado i-CO, ou índice de clima organizacional. Empresas que privilegiam a inovação tiveram a nota mais alta: 90,8. Já as competitivas ficaram em penúltimo lugar, com 78,1. Só perdem para as de cultura focada em ordem, com regras, estruturas e processos rígidos, cujo i-CO foi de 71,9.

Vivian também chama a atenção para outro dado relevante. Quando perguntados sobre quais motivos tornariam uma empresa um lugar incrível para se trabalhar, os entrevistados deram preferência aos valores da companhia e a um trabalho motivador - ambas as alternativas com 20%. Logo depois, vieram as oportunidades de desenvolvimento, com 19%, e a percepção de que seu esforço reflete diretamente no sucesso da empresa, com 17%.

"Resta saber o que faz as pessoas se engajarem e vestirem a camisa, opção que ficou em primeiro lugar", afirma a consultora. "E o líder é um grande motor do engajamento. De que adiantam campanhas internas e externas que mostram uma vertente humanizada da empresa, se o líder direto da pessoa só foca em resultado?"

Na cultura certa, o funcionário fica

Matthias Wegener, consultor de RH da Atmosfera FIA - Simon Plestenjak/Atmosfera FIA - Simon Plestenjak/Atmosfera FIA
Wegener, da FIA: "Em momentos de crise, as pessoas tendem a se apegar ao emprego"
Imagem: Simon Plestenjak/Atmosfera FIA
A cultura corporativa é um fator de peso na retenção de talentos. Segundo os dados da FEEx, dos 61,6% dos entrevistados que se disseram totalmente adaptados ao estilo da companhia, metade deseja permanecer nela até se aposentar. Entre os que estão apenas parcialmente adaptados (32,9%), esse desejo cai para 31%. E, entre os que não se adaptaram (0,9%), cai ainda mais, para 18%.

Como seria de se imaginar, os que não se adaptaram também são os que mais buscam outras oportunidades. Cerca de 20% deles afirmaram que se candidataram a uma vaga em outro empregador, mas não foram chamados. Entre os que aderem totalmente à cultura, esse valor é de apenas 4%.

Historicamente, porém, o desejo por um novo emprego costuma ser influenciado por um fator completamente externo às empresas: a situação econômica do país. "Em momentos de crise, as pessoas tendem a se apegar mais à oportunidade de emprego que elas têm no momento", explica Matthias Wegener, um dos supervisores da pesquisa FEEx.

Isso pode ser notado na taxa de entrevistados que foram convidados para um processo seletivo em outra companhia, mas decidiram não aceitar. Independentemente do nível de adesão à cultura, as estatísticas ficaram todas próximas, na faixa entre 23% e 29%. "A linha de raciocíno é: 'melhor ficar aqui e garantir o que tenho hoje, do que procurar outra coisa'", resume Wegener.

O Prêmio Lugares Incríveis para Trabalhar é uma iniciativa do UOL e da Fundação Instituto de Administração (FIA) que vai destacar as empresas brasileiras com os mais altos níveis de satisfação entre os seus colaboradores. Os vencedores serão definidos a partir dos resultados da pesquisa FIA Employee Experience, que mede o ambiente de trabalho, a cultura organizacional, a atuação da liderança e a satisfação com os serviços de RH. A pesquisa já está na fase de coleta de dados das empresas inscritas e os vencedores do Prêmio devem ser anunciados em novembro.

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