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Dólar e pandemia derrubam em 50% compra de casa na Flórida por brasileiros

Ricardo Molina: canal com dicas para quem quer viver e investir na Flórida possui mais de 420 mil inscritos no YouTube - Divulgação
Ricardo Molina: canal com dicas para quem quer viver e investir na Flórida possui mais de 420 mil inscritos no YouTube Imagem: Divulgação
do UOL

Natasha Bin

Colaboração para o UOL, em Miami (EUA)

30/10/2020 04h00

O sonho de ter uma casa na Flórida, nos EUA, ficou ainda mais distante para os brasileiros. Com a desvalorização do real perante a moeda norte-americana e a restrição da entrada de turistas provenientes do Brasil por causa da pandemia do novo coronavírus, a procura pela compra de imóveis nas regiões de Miami e Orlando desacelerou.

"De março para cá, caiu muito. No mínimo 40% ou 50% devido ao fechamento das fronteiras", disse Daniel Ickowicz, diretor de vendas da Elite International Realty, localizada nos arredores de Miami.

Esperando dólar baixar

O cenário é o mesmo na imobiliária Talent, de Orlando. "Caiu 45% a procura. O pessoal está aguardando uma baixa do dólar para concretizar o negócio", afirmou Ricardo Molina, corretor e criador de um canal no YouTube com dicas para quem quer viver e investir na Flórida.

Com o dólar acumulando uma alta de 40% em 2020 em relação à moeda brasileira, outro cenário começa a ser desenhado: o dos brasileiros que querem se desfazer dos imóveis mantidos no exterior, como é o caso do empresário Márcio Ayres, que mantinha um apartamento em Miami desde 2011.

Comprou a R$ 1,80, vendeu a R$ 6

"Na época da compra, eu percebi que não ia manter o real tão valorizado como estava. Eu sabia que ou eu ganhava na valorização do imóvel ou na cotação. E eu ganhei na cotação, tripliquei", declarou Ayres, que comprou o imóvel quando o câmbio era de R$ 1,80 e vendeu durante a pandemia pelo mesmo preço, mas quando a cotação estava em cerca de R$ 6.

Surfei na onda. Durante a negociação, o dólar variou de R$ 4,50 a R$ 6.
Márcio Ayres, empresário

Empresário Márcio Ayres comprou apartamento em Miami quando o câmbio era de R$ 1,80 para cada dólar - Divulgação - Divulgação
Empresário Márcio Ayres comprou apartamento em Miami quando o câmbio era de R$ 1,80 para cada dólar
Imagem: Divulgação

Para o empresário, o investimento foi válido. "Usufruí bastante, mas gastei também. É um custo alto ter um imóvel nos EUA. Eu acho que vendi no momento certo e ganhei dinheiro".

Custo de US$ 3.500 por mês só para manter

Entre impostos, condomínio, contas e um funcionário para administrar o apartamento de 120 metros quadrados no Brickell, bairro nobre considerado o centro financeiro de Miami, Ayres gastava US$ 3.500 por mês. "Eu queria me livrar de mais um compromisso."

Hoje, o brasileiro já tem parte da venda repatriada e não descarta a possibilidade de investir novamente em imóvel no exterior, caso encontre uma boa oportunidade.

O maior segredo foi ter tido um bom amparo jurídico e imobiliário. Administrar a distância não é tão simples, requer dinheiro e ajuda. Tem que estar bem assessorado.
Márcio Ayres

"Vou tirar proveito desse câmbio"

De abril para maio deste ano, Daniel Ickowicz, da Elite, percebeu um aumento de 40% no interesse de brasileiros em vender os imóveis nos EUA.

"O pessoal está precisando de recurso no Brasil e pensa 'vou tirar proveito desse câmbio'. É uma decisão friamente calculada para ganhar no câmbio e repatriar o dinheiro, seja para investir ou para ter um fundo de caixa", disse.

Economista diz que é bom vender

Na opinião de Jackson Bittencourt, economista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, a decisão é acertada, principalmente para quem aproveitou o câmbio baixo na hora da compra.

Quem está a fim de ganhar dinheiro e está vendo que aqui no Brasil está difícil, vale vender o imóvel nos EUA e transformar esse valor em algo muito superior por causa da taxa de câmbio. É repatriar o dinheiro com a taxa de câmbio três vezes maior e ganhar poder de barganha ou para comprar imóveis no Brasil ou para investir em fundos imobiliários.
Jackson Bittencourt

Segundo o economista, o momento é ideal, pois é esperada uma desvalorização no preço dos imóveis nos EUA. Por enquanto, a curva ainda é ascendente.

Segundo o relatório mais recente da Agência Federal de Financiamento da Habitação dos Estados Unidos (FHFA), o preço dos imóveis subiu 6,5% em julho de 2020 em comparação ao mesmo mês do ano anterior.

Juros para compra baixaram

Por outro lado, para quem quer investir a longo prazo, a taxa de juros atual pode ser a oportunidade que faltava para o financiamento de um imóvel em solo norte-americano.

"A compra de imóveis aqueceu para todo mundo que está 'dolarizado'. Houve uma queda brutal da taxa de juros, que agora é de 3% ao ano", disse Molina, da Talent.

Dólar deve demorar a cair

Para quem não está dolarizado e aguarda um momento mais favorável para o câmbio, a espera pode ser longa.

Não há expectativa de que o dólar baixe. Há uma perspectiva de crescimento econômico no Brasil só para depois de 2022, o que significa trazer muitos investidores e com isso a taxa do dólar tende a cair a partir de 2022 e 2023.
Jackson Bittencourt, professor a PUC-PR

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