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Vice-governador do AM nega acusações sobre respiradores superfaturados

O vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida - Pedro França/Agência Senado
O vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Imagem: Pedro França/Agência Senado
do UOL

Rosiene Carvalho

Colaboração para o UOL, em Manaus

28/10/2020 23h30

O vice-governador do Amazonas, Carlos Almeida Filho (sem partido), negou hoje em entrevista à imprensa seu envolvimento no esquema que envolve a compra superfaturada de 28 respiradores durante a pandemia do novo coronavírus. Os equipamentos, adquiridos por intermediação de uma loja de vinhos, eram inadequados para o uso em vítimas da covid-19.

O evento para falar da Operação Sangria resultou em confusão, com jornalistas, inclusive do UOL, sendo impedidos de fazer perguntas e com equipamentos tomados com uso de força física pelos assessores do político.

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Amazonas divulgou nota em repúdio ao ato de violência física e verbal. "É inaceitável tal comportamento por qualquer cidadão, ainda mais uma autoridade pública, paga com recursos públicos e que deve, por obrigação, prestar contas à sociedade."

Em nota, o governo do Amazonas se limitou a informar que determinou o afastamento de uma das assessoras envolvidas na confusão.

Sangria no Amazonas

De acordo com a PGR (Procuradoria-Geral da República), Carlos Almeida e o governado do estado, Wilson Lima (PSC), tinham conhecimento e autorizaram desvios de dinheiro público na saúde.

Na primeira fase da operação, Lima teve a casa e o gabinete revistados pela PF (Polícia Federal). O vice foi alvo na segunda fase. Ambos negam envolvimento com a irregularidade.

O vice já implicou o governador no esquema. Mas hoje evitou tocar no assunto.

"Em nenhum momento determinei, a servidor público ou não, contrato que visasse direcionamento no setor da saúde. Em nenhum momento, determinei a compra de respiradores da empresa Sonoar", disse Carlos Almeida.

A Sonoar é uma das empresas que mais lucraram com a venda dos respiradores inadequados. Segundo a PF, por meio de uma triangulação, vendeu os aparelhos a uma loja de vinhos, que revendeu ao governo. De acordo com a investigação, a Sonoar tem como sócio oculto o marido da ex-secretária de Comunicação Daniela Assayag.

A apuração levantou suspeitas sobre reuniões que Almeida fez com agentes políticos e do governo num escritório de advocacia em Manaus.

Registrou ainda a entrada e saída do vice-governador com uma lancheira do local, considerando a conduta suspeita. Na imprensa, o episódio foi interpretado como suspeita de que ele carregava propina.

Hoje, Carlos Almeida disse que, desde que se afastou da Casa Civil, acusando o governo de tomar rumos com os quais ele não concordava, deixou de usar o seu gabinete, por isso teve reuniões no escritório de advocacia citado pela PF.

Sobre a lancheira, afirmou que foi vítima de interpretações levianas e que há oito anos faz controle alimentar, levando a mesma bolsa.

Almeida deixou várias pergunta sem resposta, com a assessoria dele tentando impedir que fossem feitas. Por exemplo, não explicou como não tinha conhecimento sobre as irregularidades na Secretaria de Saúde, diante das evidências apontadas pela investigação, nem sobre a influência na cúpula da secretaria.

A compra de respiradores inadequados numa loja de vinhos com preço superfaturado foi exposta por reportagem do UOL no dia 20 de abril.

Dois dias depois, a subprocuradora-geral da República Lindôra Araújo solicitou ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) autorização para abertura de investigação. Resultou em duas fases da Operação Sangria, quando foram presos a cúpula da Susam (Secretaria de Estado de Saúde), funcionários públicos e empresários.

A decisão que deflagrou a segunda fase da Operação Sangria cita parte da investigação em que a cúpula da Susam conversa, num grupo de WhatsApp, como iria montar os "arranjos" no contrato. Um dos subsecretários sugere que seja feito um processo fantasma e o então secretário da Saúde, Rodrigo Tobias, afirma que conversou com Carlos Almeida, que deu a ele algumas "alternativas".

Em outro trecho, o secretário Tobias orienta um subsecretário a procurar Carlos Almeida após ouvir queixa sobre investigação do MP. Tobias diz que Carlos "tem que ajudar"

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