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Menina com problema no esôfago morre engasgada: 'Era como funil', diz pai

Rebecca Rayane tinha má formação no esôfago e se engasgava com facilidade - Arquivo Pessoal
Rebecca Rayane tinha má formação no esôfago e se engasgava com facilidade Imagem: Arquivo Pessoal
do UOL

Felipe Munhoz

Colaboração para o UOL, em Lençóis (BA)

28/10/2020 08h41Atualizada em 28/10/2020 11h08

Rebecca Rayane da Silva Pereira, de 4 anos, morreu na sexta-feira (23), em Jundiaí (SP), depois de engasgar enquanto jantava com a mãe, Taciane Pereira. De acordo com o pai, uma má formação no esôfago fazia a menina ter pequenos engasgos em todas as refeições, algo que a família tinha aprendido a lidar.

O segurança Diego Alves Pereira, 30, pai de Rebecca, explicou ao UOL que a filha nasceu prematura, com 33 semanas de gestação, com atresia de esôfago (formação incompleta do órgão). Ela teve que fazer várias cirurgias após o nascimento e, no local do procedimento, o esôfago era como um funil.

"Na maioria das vezes, quando ela avisava que o alimento não tinha descido, nós fazíamos o movimento do 'j' no estômago dela [manobra de Heimlich ensinada pelos médicos], aí saía para fora. Desta vez, ela avisou, minha esposa fez [a manobra], aí saiu, mas ela puxou para dentro e entrou nas vias respiratória", disse Diego, que afirmou ainda que, poucas vezes, eles tinham que fazer este procedimento.

diego - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Rebecca com o pai, Diego
Imagem: Arquivo Pessoal

Diego contou que Taciane chamou um vizinho, que as levou para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Vetor Oeste. A prefeitura de Jundiaí informou, em nota enviada à reportagem, que "Rebecca Rayane deu entrada na UPA, às 21h20, já em óbito (declarado às 21h22 pela médica pediatra do plantão que realizou o atendimento)".

Ao UOL, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), afirmou, também por nota, que "o caso foi registrado como morte suspeita pelo 1º DP de Jundiaí e é investigado pelo 5º DP da cidade, responsável pela área dos fatos". A nota diz ainda que um inquérito policial foi instaurado e a unidade aguarda os resultados dos exames periciais, que estão em elaboração.

O que é a atresia de esôfago?

A médica intensivista pediátrica Júlia Calabuig, 38, formada pela Unifesp e que atua em UTIs de três hospitais da rede pública paulista, explicou que a atresia de esôfago é uma alteração congênita. E é uma formação incompleta que acontece durante o desenvolvimento do feto e atinge um a cada 3 mil bebês, aproximadamente.

"É uma falha na comunicação deste tubo [do esôfago]. Então ele é um tubo descontinuado. O esôfago liga a boca ao estômago, então, durante o desenvolvimento do feto, existe uma falha. E ele não consegue levar o alimento da boca até o estômago antes da correção cirúrgica porque ele fica interrompido", explicou a médica.

Assim que a atresia de esôfago é descoberta, a alimentação do bebê é interrompida e ele passa a ser nutrido por meio de sonda colocada diretamente no estômago ou por via venosa, até ser possível fazer a cirurgia. A má formação não é necessariamente ligada ao nascimento com 33 semanas de Rebecca. "Não é obrigatoriamente por conta da prematuridade, não. Pode nascer no tempo certo e ter a má formação também", disse a médica.

"No pós-cirúrgico, o que acontece é que na parte ligada há um processo de cicatrização. E, onde faz esta cicatriz, a luz do tubo do esôfago vai ficar de menor calibre. Então, os pacientes de pós-cirúrgico têm chance de engasgar mais por conta deste estreitamento no tubo. E, além disso, a musculatura de um esôfago que foi ligado, nem sempre tem a mesma eficácia de um esôfago normal", observou Calabuig.

Diego disse que este era exatamente o caso de sua filha. "No local da cirurgia, ficou estreito tipo um funil, onde parava os alimentos e saía com líquido", afirmou o pai de Rebecca.

Vida normal, menos para comer

O pai de Rebecca contou que a filha levava uma vida normal, só demandava mais cuidados durante a alimentação, pois eles precisavam cortar os alimentos em pedaços bem pequenos e dar sempre separados.

"Ela vivia bem. Não reclamava de nada. Nós conversávamos com ela sempre e ela entendia. Não chorava nada, só avisava quando a comida parava. E, quando saía, voltava a comer normalmente", lembrou.

'Ela está em um bom lugar'

Diego disse que ele e sua esposa, que têm ainda um menino de 7 anos, estão serenos e, ao mesmo tempo, sofrem muito com a morte da filha.

"Estamos tranquilos. Ela está em um bom lugar. Essa foi a vontade de Deus e Ele tem nos confortado. Estamos sofrendo muito, é claro, mas sabemos que Deus tem um propósito em tudo o que acontece. Está doendo, mas vai passar. Somos cristãos e sabemos que a morte não é o fim", afirmou.

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