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Supersafra de maconha no Paraguai dobra apreensões no Brasil em 2020

Pandemia interrompeu operações de erradicação de plantações e permitiu safra maior no Paraguai. Ao mesmo tempo, estradas vazias fizeram crescer apreensões no Brasil - Senad/Efe
Pandemia interrompeu operações de erradicação de plantações e permitiu safra maior no Paraguai. Ao mesmo tempo, estradas vazias fizeram crescer apreensões no Brasil Imagem: Senad/Efe
do UOL

Vinicius Konchinski

Colaboração para o UOL, em Curitiba

26/10/2020 04h02

Uma pausa em operações conjuntas de Brasil e Paraguai para o combate ao plantio de maconha no país vizinho abriu uma brecha para uma supersafra da droga em terras paraguaias. Com mais droga no Paraguai, as apreensões de maconha em estados brasileiros da divisa praticamente dobrou de 2019 para 2020. Isso mesmo com a fronteira fechada por conta da pandemia.

De acordo com a PF (Polícia Federal), de janeiro a setembro deste ano, foram apreendidas mais de 257 toneladas de maconha só em ações realizadas no Paraná e Mato Grosso do Sul. Isso corresponde a 80% de toda maconha apreendida pela PF no país.

Já durante todo o ano passado, ações nesses mesmos estados resultaram na apreensão de pouco mais da metade do que foi recolhido em 2020, 136 toneladas.

"Dobrar a quantidade apreendida não é normal. Houve uma supersafra", afirmou o coronel da Polícia Militar Wagner Ferreira da Silva, diretor do DOF-MS (Departamento de Operações de Fronteiras do Mato Grosso do Sul), órgão estadual que também realiza ações de combate ao tráfico entre Brasil e Paraguai. "Historicamente, as apreensões crescem até 20% ao ano. Este ano é um fenômeno."

Silva disse que, só o DOF-MS, já apreendeu mais de 212 toneladas de droga este ano, sendo 99% de maconha e derivados. Em 2019, fechou o ano com 107 toneladas.

"Todas as forças de segurança aumentaram suas apreensões", complementou o capitão Gustavo Dalledone Zancan, subcomandante do batalhão de Polícia Rodoviária da PM-PR (Polícia Militar do Paraná). "Isso também tem relação com o aumento do cultivo no Paraguai."

Fiscalização paralisada

O combate ao plantio de maconha no Paraguai é feito com a colaboração da PF brasileira, na chamada operação Nova Aliança.

De acordo com a própria PF, a operação tem de quatro a seis fases anualmente. Em 2020, porém, só uma fase foi realizada, em agosto.

"Em virtude da pandemia [do coronavírus], ocorreram restrições na fronteira entre o Brasil e o Paraguai, o que impossibilitou a execução de, ao menos, três fases da erradicação [do cultivo de maconha]", justificou o órgão.

"No Paraguai, que tem clima e solo favorável, o ciclo de produção da maconha leva uns 120 dias. A pausa nas operações de combate ao cultivo facilitou o aumento da produção", complementou coronel Dias, do DOF-MS.

A Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai foi questionada pelo UOL sobre a safra de maconha no país. Não respondeu.

Pandemia impulsiona tráfico

Segundo o coronel Dias, a pandemia também colaborou com o crescimento das apreensões de maconha, pois impulsionou a demanda por droga no Brasil e tornou a fiscalização mais efetiva. "As rodovias ficaram vazias", explicou. "Ficou mais fácil parar e checar veículos que ainda estavam transitando, o que levou a mais apreensões."

Capitão Zancan, da PM-PR, confirmou a maior efetividade do combate ao tráfico na pandemia e ressaltou que, apesar das fronteiras fechadas, o comércio ilegal de drogas não parou. "A fronteira oficial fechou, mas a travessia do Paraguai para o Brasil seguiu por rios e pela fronteira seca."

Sobre a erradicação de plantações, a PF informou que, na única fase da operação Nova Aliança realizada neste ano, 520 toneladas de maconha foram eliminadas em território paraguaio. No Brasil, foram 658 toneladas.

Já a PRF (Polícia Rodoviária Federal) informou que apreendeu quase 470 toneladas de maconha de janeiro ao final de agosto deste ano em todo país. No mesmo período do ano passado, foram 202 toneladas da droga.

O órgão informou que suas operações têm como foco o "estrangulamento" da logística do crime organizado e já acarretaram um prejuízo de cerca de R$ 4,5 bilhões a criminosos em 2020. Em todo ano passado, operações semelhantes causaram prejuízo de R$ 4,4 bilhões ao crime organizado.

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