Passageiras são submetidas a exame ginecológico forçado após mistério de bebê abandonado em aeroporto do Catar
Várias passageiras foram submetidas a exames ginecológicos forçados após a descoberta de um recém-nascido prematuro abandonado em um dos banheiros do aeroporto internacional de Doha, capital do Catar. A informação foi divulgada pelo canal Seven News, da Austrália, onde o incidente foi classificado como "extremamente perturbador".
Os fatos aconteceram no dia 2 de outubro, mas só vieram a público agora. Entre as passageiras obrigadas a realizar exames ginecológicos, várias eram australianas.
A ministra das Relações Exteriores da Austrália, Marise Payne, expressou nesta segunda-feira (26) a desaprovação de seu país. "Eu nunca ouvi tal coisa em minha vida. Expressamos nossa preocupação de maneira muito clara às autoridades do Catar", afirmou, antes de acrescentar que a Polícia Federal da Austrália havia assumido a questão e que um relatório das autoridades do Catar sobre o incidente é "iminente".
O aeroporto internacional de Doha se limitou a afirmar que os funcionários da área médica expressaram preocupação às autoridades do terminal sobre a saúde e o bem-estar de uma mãe que acabara de dar à luz e pediram que ela fosse localizada antes de viajar. "As pessoas que tiveram acesso ao setor do aeroporto onde o recém-nascido foi encontrado foram convidadas a participar da busca", acrescentaram as autoridades aeroportuárias, sem informar especificamente o que foi solicitado às mulheres e quantas foram abordadas.
Por causa da investigação, o voo QR908, da Qatar Airways com destino a Sydney, teve quatro horas de atraso, de acordo com o site Flight Radar 24. Segundo Marise Payne, muitos passageiros contataram autoridades australianas para alertar sobre o incidente.
Lei islâmica
O Catar segue a lei islâmica, que pune duramente as mulheres que ficam grávidas fora do casamento. O que se sabe até agora é que passageiras de diversas nacionalidades, mas principalmente australianas, tiveram que desembarcar de vários aviões e foram levadas para ambulâncias, onde passaram por exames para saber se haviam dado à luz recentemente.
"Obrigaram as mulheres a passar por testes físicos invasivos, principalmente o exame de Papanicolau à força", declarou uma fonte em Doha, após ser informada sobre uma investigação interna a respeito do incidente.
"Todas estavam consternadas, algumas irritadas, uma chorava e ninguém conseguia acreditar no que tinha acabado de acontecer", disse Wolfgang Babeck, um advogado australiano que estava a bordo de um dos voos afetados pelo incidente e para quem o caso pode representar uma "violação do direito internacional". Ele disse que as mulheres submetidas aos exames retornaram ao avião "em estado de choque", depois que foram obrigadas a ficar parcialmente nuas para os exames realizados por uma médica.
Além das australianas, uma passageira francesa também foi obrigada a passar pelo exame.
País da Copa do Mundo
"O recém-nascido continua sem identificação, mas está bem de saúde e sob cuidados dos profissionais médicos e do serviço social", informou o aeroporto de Doha, que pede a colaboração de qualquer pessoa que tenha informações sobre a mãe da criança.
A companhia Qatar Airways se recusou a comentar o ocorrido. O caso pode manchar a reputação do Catar, enquanto o país se prepara para receber dezenas de milhares de visitantes estrangeiros na Copa do Mundo de 2022.
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