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Evo Morales deixa a Argentina rumo à Venezuela

24/10/2020 08h06

O ex-presidente boliviano Evo Morales, refugiado na Argentina, viajou na sexta-feira (23) de forma repentina para a Venezuela. Ele embarcou em um avião da companhia estatal venezuelana Conviasa, colocado à disposição pelo regime de Nicolás Maduro. Paralelamente, em La Paz, o Tribunal Supremo Eleitoral da Bolívia anunciou oficialmente a vitória do presidente eleito, Luis Arce, por 55,1% dos votos no primeiro turno.

Márcio Resende, correspondente em Buenos Aires

O ex-líder boliviano partiu da Argentina com destino à Venezuela sem anúncio prévio e sem que se saiba por quanto tempo ficará fora do país onde está refugiado. A viagem foi confirmada pela agência oficial argentina Télam com base em fontes do governo. Já a assessoria de imprensa de Morales em Buenos Aires manteve-se discreta, sem confirmar nem desmentir a informação.

Morales, aliado de Maduro, está refugiado na Argentina desde 11 de dezembro do ano passado. Ele chegou ao país um dia após a posse do presidente argentino, Alberto Fernández. Antes, o ex-líder boliviano havia passado um mês no México sob a proteção do presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador.

A saída da Bolívia ocorreu depois de Morales renunciar, no dia 10 de novembro, em meio a uma convulsão social motivada por denúncias de fraude. Ele já havia passado 14 anos no poder e tentava impor um quarto mandato consecutivo na presidência, apesar de um plebiscito ter rejeitado essa possibilidade.

"Cedo ou tarde"

Nesta semana, logo após a vitória do seu candidato e ex-ministro da Economia, Luis Arce, na eleição presidencial boliviana, Morales disse que seu retorno ao país era "uma questão de tempo".

"Cedo ou tarde vamos voltar à Bolívia. Se há tantos processos, é porque são parte de uma guerra suja de tanto mentir. Então, é questão de tempo", prometeu.

Morales evitou responder se ocuparia algum cargo no próximo governo de Arce. Indicou, no entanto, que voltaria a Cochabamba para se dedicar à agricultura.

"O meu grande desejo é voltar à Bolívia, entrar na região onde cresci como dirigente sindical. Vou voltar a Cochabamba pela agricultura, para ser um pequeno produtor", desconversou.

Retorno condicionado

O ex-presidente boliviano também associou o seu retorno à Bolívia ao fim dos processos judiciais que o ameaçam de prisão e previu que as acusações "vão cair".

"Agora tenho a possibilidade de voltar sem muitos problemas. Quero que saibam que tenho 30 processos. Nenhum é por corrupção. Vocês vão ver, irmãs e irmãos, todos esses processos vão cair", afirmou Morales durante uma videoconferência com centenas de dirigentes e trabalhadores plantadores de coca das Seis Federações do Trópico de Cochabamba, berço político-sindical de Morales.

Para o ex-presidente, os processos por fraude eleitoral, sedição, genocídio, terrorismo, financiamento e incitação pública a delinquir e até estupro são parte de uma "guerra suja" do atual governo de Jeanine Áñez.

Remoção de obstáculos judiciais

Além de Morales condicionar sua volta à Bolívia ao fim das ordens de prisão, dirigentes políticos do seu partido, o Movimento Ao Socialismo (MAS), recomendaram ao ex-presidente, por enquanto, continuar fora do país.

"Nós não acreditamos que seja o momento adequado [para Morales voltar à Bolívia]. Ele ainda tem problemas a serem solucionados, e nós, liderados por Luis Arce e como Congresso, temos tarefas a terminar", indicou a senadora Eva Copa, presidente da Assembleia Nacional, sugerindo que os parlamentares vão trabalhar para remover os obstáculos jurídicos.

Além dos processos na Bolívia, o atual governo conservador de Jeanine Áñez promoveu uma denúncia por delitos de lesa humanidade na Corte Internacional de Haia.

Posse de Arce está marcada para 8 de novembro

Enquanto Morales voava para se encontrar com Maduro, o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia oficializava a vitória de Luis Arce no primeiro turno da presidencial por 55,1% dos votos.

O segundo colocado, Carlos Mesa, obteve 28,83%, e o terceiro, Luis Fernando Camacho, 14%. Eles serão os principais opositores ao governo do presidente eleito, que tomará posse no dia 8 de novembro, confirmou o presidente do TSE, Salvador Romero.

 

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