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Entre arrependidos, jovens e latinos, Biden pode conquistar o Arizona

O estado não votou em nenhum democrata para presidente desde que Bill Clinton foi reeleito em 1996 - Getty Images
O estado não votou em nenhum democrata para presidente desde que Bill Clinton foi reeleito em 1996 Imagem: Getty Images

20/10/2020 09h08

Josh Heaton diz que, quase "imediatamente" após votar em Donald Trump em 2016, ele se arrependeu. Este republicano de longa data agora apoia Joe Biden para reparar o que acredita ter sido um erro.

Ele mora no Arizona (sudoeste), estado que será decisivo nas eleições dos Estados Unidos e que passa por importantes mudanças demográficas que tendem a favorecer o Partido Democrata - como crescimento acelerado de áreas urbanas, maior presença de eleitores jovens com formação universitária, além de uma robusta comunidade latina -, mas que também tem muitos conservadores moderados que, como ele, optarão por virar as costas ao partido.

Em 2016, "senti que não tínhamos boas opções", e "a verdade é que, até ir votar, não sabia em quem iria votar... E imediatamente depois me arrependi", conta à AFP este engenheiro de 43 anos em sua casa, em um subúrbio de Phoenix.

"Tinha esperança de que, talvez, ao se tornar presidente fosse mais 'presidencial', mas não foi o caso", acrescenta Heaton, que se define como um homem "de valores, religioso, conservador" e critica a forma como Trump lida com a pandemia, sua política fiscal pouco conservadora, mas acima de tudo "seu narcisismo, suas mentiras".

É por isso que "votei em Joe Biden e não só isso, votei em todos os democratas nas urnas, algo que nunca fiz antes".

"Não é Bernie Sanders"

De acordo com as pesquisas, Biden e Trump estão empatados no Arizona, estado que não votou em nenhum democrata para presidente desde que Bill Clinton foi reeleito em 1996.

Ambas as campanhas investiram grandes somas de dinheiro neste estado decisivo, principalmente para Trump, que o venceu em 2016 por menos de 100.000 votos. Na segunda-feira, o republicano fez sua segunda visita ao estado em apenas um mês.

"Acho que o presidente Trump tem muito a perder", diz Gina Woodall, professora da Escola de Política da Universidade Estadual do Arizona.

"Se perder o Arizona, será muito mais difícil chegar aos 270 votos" no Colégio eleitoral para ganhar a presidência.

Com seus 7 milhões de habitantes, o Arizona tem 11 votos no Colégio Eleitoral.

O eleitor médio, republicano ou democrata, tende a ser mais moderado no Arizona e "está cansado do comportamento do presidente e da retórica de campanha", explica Woodall, que vê esta eleição como "um referendo sobre o presidente, seu comportamento, suas políticas", especialmente após a pandemia da covid-19.

Embora haja mais republicanos registrados neste estado e os independentes tendam a votar no vermelho, os democratas (azuis) estão "direcionando suas mensagens de forma mais eficaz para se alinharem aos eleitores moderados", afirmaexplica Samara Klar, professora da Escola de Governo da Universidade do Arizona.

Heaton, que votou em candidatos republicanos por 20 anos até agora, considera que seu antigo partido se tornou uma "espécie de culto" a Trump e acredita que "Biden seria um presidente melhor".

"Ele é muito mais de centro. Será que tende a ser mais de esquerda? Talvez, mas não é um extremista, não é Bernie Sanders", completa.

"Maioria" silenciosa

Como muitos estados, o Arizona começou a votar semanas antes da data de 3 de novembro, o dia oficial da eleição.

Normalmente as pessoas fazem isso pelo correio, mas, em meio a tantas informações cruzadas sobre sua confiabilidade, muitos optaram por votar diretamente nas assembleias de voto que já estão abertas.

"Parece que é o dia da eleição!", exclama Kathleen McGovern, de 71 anos, segurando o envelope verde contendo seu voto em Biden.

"Sempre fui democrata, mas tenho muitos amigos republicanos que me confessaram que vão mudar de voto" nesta eleição, "mas que têm medo de dizer isso".

É o caso de Heaton. Por muito tempo, ele se calou, pensando fazer parte de uma "minoria" de arrependidos, mas agora acredita que pode ser uma silenciosa "maioria".

Em frente à sua casa, já enfeitada para o Halloween, duas faixas repousam na grama. "Unidade sobre a divisão", diz uma, e a outra: "Republicanos do Arizona por Biden", grupo político do qual faz parte com sua esposa, Emily.

Seus membros costumam fazer campanha nas calçadas de grandes avenidas. Dos carros, buzinas de apoio e de rejeição, vaias dos seguidores de Trump, que também se mobilizam com faixas e caravanas de caminhões, agitando enormes bandeiras dos Estados Unidos e de sua campanha.

Heaton espera um dia votar nos republicanos novamente, mas não sabe quando. Por enquanto, quer apenas uma "grande vitória" democrata para encerrar o governo Trump.

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