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Volta às aulas na rede pública do Rio teve só 4,7% dos estudantes esperados

19.out.2020 - O estudante Artur Mineiro, 18, no primeiro dia de retorno da rede pública do Rio - Marcela Lemos/UOL
19.out.2020 - O estudante Artur Mineiro, 18, no primeiro dia de retorno da rede pública do Rio Imagem: Marcela Lemos/UOL
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Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

19/10/2020 17h57

A três meses do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), parte das escolas públicas da rede estadual do Rio retomou hoje as aulas presenciais. A reabertura parcial, que aconteceu em 16 cidades fluminenses após sete meses fechadas devido à pandemia do novo coronavírus, se deu de forma tímida e diante de incertezas sobre a eficácia do ano letivo para os alunos.

Levantamento parcial da Seduc (Secretaria de Educação) divulgado na noite de hoje aponta que a volta às aulas teve adesão de apenas 4,7% dos alunos esperados —3.000 de um total de 63 mil estudantes. Foi autorizado o retorno opcional somente para alunos do 3º ano do ensino médio e do 4º módulo de EJA (Educação de Jovens e Adultos). Segundo a pasta, a capital teve maior adesão, com a presença de 1.600 estudantes, pouco mais da metade do total que compareceu.

Dentre as escolas autorizadas, ao menos 24 não iniciaram as atividades —19 na capital, uma em Niterói, uma em Mesquita e três em Casimiro de Abreu. Entre as justificativas, estão falta de funcionários e de estrutura adequada que garanta segurança sanitária.

A reabertura das escolas estaduais ocorre após 20 dias a retomada do ensino presencial na rede particular.

Alunos criticam ensino virtual

Um estudante do colégio estadual Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado (zona sul), preferia contudo que o ano tivesse sido cancelado. Ela falou sobre a dificuldade de adaptação às aulas virtuais.

"A gente não tem escolha. Vamos ter que fazer o Enem independente do que foi dado, como foi dado. Foi bem difícil no início acompanhar as aulas online, mas acabei me adaptando. O colégio depois de três meses disponibilizou apostilas em casa para gente e, por isso, eu preferia que o ano letivo fosse cancelado. Foi um ano muito conturbado", disse Richard do Nascimento, 18, que vai prestar vestibular para Engenharia.

Artur Mineiro, 18, também destacou a dificuldade em acompanhar as aulas online, mas discordou sobre o cancelamento do ano letivo.

"A melhor saída pra mim é a aprovação automática. A gente encerra já isso e, se necessário, ano que vem entro em um cursinho. Foi muito difícil acompanhar as aulas virtuais, acabei me perdendo e isso desanima. Teve um mês aí que acabei abandonando. Agora, eles vão retomar os conteúdos de onde pararam, não sei ainda se vai ter revisão. Não sabemos direito como vai ser até o final do ano", contou o aluno.

Resolução da Secretaria de Educação do dia 14 deste mês determinou que os alunos da rede pública serão aprovados automaticamente este ano.

Já Alessandro Pacheco, 17, disse que iniciou no mês passado um cursinho de vestibular comunitário para reforçar os estudos para o Enem.

"No início era difícil até acessar a plataforma, depois que eu peguei o jeito, segui as aulas normalmente, mas acabei desandando em alguns momentos, fui ficando sobrecarregado. É uma coisa muito nova e não estávamos esperando por isso. A estimativa era de duas semanas sem aula e só estamos voltando agora em outubro", disse o aluno que vai prestar vestibular de Direito.

Baixo movimento na capital, diz sindicato

O movimento no colégio visitado pelo UOL foi tímido na manhã de hoje assim como em outras escolas da capital, conforme relatou o Sindicato dos Professores.

Um funcionário do colégio Visconde de Cairu, no Méier, na zona norte do Rio, confirmou que a escola se preparou para o retorno, mas que a adesão foi baixa.

"Abrimos para aparecerem menos de 15 alunos. Acredito que a maioria vai continuar no ensino remoto. O medo de contaminação ainda é grande e muitos pais não acham que vale a pena retomar a aula presencial já no fim do ano", disse o profissional que pediu para não ter a identidade revelada.

No entanto nem todas escolas autorizadas a retomar as aulas foram abertas. Na capital, 19 não abriram. É o caso do Colégio André Maurois que comunicou à Seduc a impossibilidade de abrir as portas.

"A direção da escola encaminhou ofício para Regional informando que cumpriu os protocolos exigidos, mas que recomendava a não abertura da escola por falta de funcionários, laudos técnicos sobre ventilação e comprovação de treinamento da equipe de limpeza e cozinha", publicou nas redes sociais.

O colégio comunicou ainda que a secretaria enviaria uma equipe externa para assumir as atividades, já que os servidores da unidade se declararam impedidos de retornar.

Para contornar esse tipo de problema, a Seduc ofereceu o pagamento de Gratificação por Lotação Prioritária —a hora extra do setor de educação— para os professores que se dispuserem a trabalhar.

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