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Indígenas colombianos ocupam centro de Bogotá para pressionar Duque

19/10/2020 19h01

Bogotá, 19 Out 2020 (AFP) - Milhares de indígenas que sofrem com o aumento da violência na Colômbia se reuniram nesta segunda-feira (19) bem perto do palácio presidencial, no coração de Bogotá, para exigir serem ouvidos pelo presidente Iván Duque, que criticou o protesto em meio à pandemia.

O grupo, que reúne membros de comunidades indígenas do sudoeste do país, uma das áreas que mais sofrem ameaças de grupos armados do narcotráfico, se reuniu na Praça de Bolívar, no centro da capital, após uma viagem de nove dias a pé e em ônibus.

Cerca de 7 mil manifestantes usando máscaras avançaram sem confrontos com a força pública, resguardados pela tradicional Guarda Indígena, portando coletes, rádios e cassetetes com fitas multicoloridas.

"O medo acabou", afirmou Ferley Quintero, membro do Conselho Regional Indígena do Cauca (CRIC), à AFP.

Segundo o dirigente, os indígenas decidiram atravessar parte do país para "dar voz de repúdio" às políticas do governo e serem ouvidos pelo presidente, já que ele se recusou encontrá-los em Cali, a cerca de 460 quilômetros de Bogotá, local próximo ao Cauca.

Embora tenham inúmeras reivindicações, os indígenas manifestam-se fortemente contra a onda de violência que os cerca e que, segundo seus dirigentes, já deixou ao menos 167 mortos em mais de dois anos de governo Duque.

O grupo que chegou a Bogotá começou dias antes uma manifestação que também contará com a participação de sindicatos e estudantes, que se mobilizarão em uma "greve nacional" convocada para quarta-feira contra o governo Duque, quase um ano depois dos grandes protestos críticos ao governo ocorridos no país.

Após a concentração, eles planejam retornar ao local de descanso e se juntar ao protesto no dia seguinte. Os povos indígenas representam cerca de 4,4% dos 50 milhões de habitantes da Colômbia.

- "Não continuem nos matando" -Os participantes da minga - como é conhecida o coletivo indígena em Quechua - dormiram no domingo em um centro esportivo que os recebeu por ordem da prefeita de Bogotá, Claudia López, adversária do governo.

Nesta segunda-feira, eles marcharam até a Praça de Bolívar em protesto por suas vidas.

"Queremos paz, igualdade, respeito e não sermos mais assassinados", afirmou Carmen Pito, de 53 anos.

"O governo deve nos ouvir e nos receber, nós merecemos respeito como todos", acrescentou a mulher que caminhava com sua bengala.

Diante da severa crise econômica provocada pela pandemia, Duque expressou aborrecimento com a "aglomeração" dos indígenas em Bogotá em um momento em que o país está perto de atingir um milhão de casos (28.000 mortes) em sete meses da pandemia, embora tenha evitado referir-se ao pedido de encontro cara a cara solicitado pelo grupo.

O governo rejeita o diálogo direto por considerá-lo uma espécie de debate político que, em sua opinião, só pode ocorrer no Congresso.

"Nada justifica que neste momento ponhamos em risco a saúde e a vida. Se tivermos discussões, que aconteçam no âmbito da democracia, sem que tenha que haver com movimentações ou ultimatos", declarou o presidente.

No poder desde 2018, Duque enfrenta o aumento da violência simultânea em algumas partes do país, após o acordo de paz que desarmou a mais poderosa guerrilha marxista da América, em 2016.

O Estado colombiano é acusado de não ter assumido o controle dos territórios deixados pelos rebeldes, o que facilitou o fortalecimento de novas organizações que disputam o mercado do narcotráfico, entre elas as formadas por dissidentes marginalizados do processo de paz.

"Eles estão nos matando, estão acabando com a juventude. Os indígenas, os negros, nós somos a população mais vulnerável", ressaltou Javier Peña, de 46 anos, um ativista das comunidades negras que aderiram à minga.

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