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"Novos pobres": relatório de associação francesa revela efeitos econômicos do confinamento

30/09/2020 11h10

A associação caritativa Secours Populaire registrou um forte aumento dos pedidos de ajuda alimentar durante o confinamento, de março a maio deste ano. De acordo com um relatório sobre a pobreza na França, publicado nesta quarta-feira (30), cerca da metade das novas inscrições aconteceu nesse período.

Durante os cerca de dois meses de lockdown, 1.270.000 pessoas solicitaram ajuda alimentar à associação. Cerca de 45% delas, segundo o relatório, eram desconhecidos, segundo os dados divulgados no relatório, feito em parceria com o instituto francês de pesquisa Ipsos. "É muito", disse a secretária-geral da associação Henriette Steinberg, em entrevista à RFI

"São centenas de milhares de pessoas que perderam seu trabalho, por conta da falência de pequenas empresas. Por isso cada vez mais famílias se inscrevem no comitê da associação pedindo ajuda", completa. "Mas temo que esse número aumente", declarou.

De acordo com o estudo, de cada três franceses, pelo menos um perdeu renda em função da crise provocada pelo coronavírus. Cerca de 57% também não saíram de férias neste ano - 25% por conta de dificuldades financeiras.

O confinamento também acentuou as desigualdades escolares. Muitos alunos não tinham o equipamento adequado e o acesso à internet para acompanhar os cursos à distância, além de morar em lugares muito pequenos, sem um espaço destinado para acompanhar as aulas. Os universitários que dependem de "bicos" para financiar seus estudos também foram muito afetados pela crise e o desemprego, ressalta Henriette Steinberg.

Por isso, diz a representante do Secours Populaire, a associação vem tentado "multiplicar" as iniciativas para obter alimentos de qualidade a tarifas mais baixas, "e possibilitar aos franceses mais pobre refeições decentes." Segundo ela, "é possível ajudar, não podemos simplesmente observar os lucros da grande indústria e ignorar as dificuldades cotidianas das pessoas", critica.

Para ela, o impacto da epidemia no aumento da precariedade está ligado ao grande número de pequenas empresas do país, com um dois assalariados, que não resistiram ao confinamento. "Essas pessoas sempre trabalharam e nunca precisaram de nada. Mesmo vivendo modestamente, conseguiam arcar com suas despesas, o que não é mais o caso", explica. 

Famílias são as mais atingidas

A situação mais complicada, destaca, é a das famílias, que se viram obrigadas a pedir ajuda para suprir suas necessidades básicas. As consequências dessa precarização são, diz Henriette Steinberg, a certeza para 81% dessa população de que seus filhos serão ainda mais pobres do que eles próprios. "Esse dado mostra a atual situação de desesperança em que se encontra a população em nosso país."

Mas, para o Secours Populaire, diz, é fora de questão aceitar essa desesperança. "É preciso fazer proposições concretas e mobilizar, primeiramente os próprios cidadãos, a agir", reitera. Ela lembra que a associação também pode ajudar, em termos burocrático, as pessoas a fazer valer seus direitos: muitos franceses não obtêm as ajudas do Estado porque não conseguem dar entrada nos pedidos. Na França, a alta do desemprego deve continuar, com a supressão de 800  postos de trabalho, segundo o Banque de France.

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