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Armênia e Azerbaijão decididos a seguir em combate e sem vontade de negociar

30/09/2020 16h16

Stepanakert, Azerbaijão, 30 Set 2020 (AFP) - Armênia e Azerbaijão rejeitaram, nesta quarta-feira (30), os apelos internacionais para um cessar-fogo e iniciar negociações, no quarto dia de confrontos em Nagorno Karabakh - um enclave separatista armênio em território azerbaijano apoiado por Yerevan.

Stepanakert, capital da república autoproclamada, mergulhou na escuridão nesta noite, mas o som dos combates de frente não foram ouvidos. Segundo as autoridades locais, a cidade sofreu bombardeios no domingo.

No nível diplomático, o ministro das Relações Exteriores russo propôs, nesta quarta-feira, a seus homólogos da Armênia e do Azerbaijão que aceitassem negociações para acabar como conflito que ambas repúblicas enfrentam sobre a região de Nagorno Karabakh.

O chanceler russo, Serguéi Lavrov, "confirmou a disponibilidade de Moscou para organizar os contatos necessários, incluindo a realização de uma reunião dos chefes de diplomacia do Azerbaijão, Armênia e Rússia", disse um comunicado do ministério.

A diplomacia russa denunciou, nesta quarta, que combatentes da Síria e Líbia foram enviados para a área do conflito em Nagorno Karabakh.

"Combatentes dos grupos armados ilegais, especialmente da Síria e Líbia, estão sendo enviados para a área de conflito em Nagorno Karabakh para participar dos combates", afirmou a diplomacia russa.

Acrescentou também que está "profundamente preocupada pelos procedimentos que podem gerar uma escalada das tensões no conflito" e em toda a região.

O primeiro-ministro armênio, Nikol Pachinian, fechou a porta para negociações imediatas, poucas horas depois da votação unânime do Conselho de Segurança da ONU por uma declaração que pede o "fim imediato dos hostilidades e a retomada de negociações construtivas".

"Não é apropriado falar de uma reunião de cúpula Armênia-Azerbaijão-Rússia, no momento em que acontecem intensos combates", disse ele à imprensa russa, de acordo com a agência estatal Interfax.

"Para que aconteçam negociações, precisamos de uma atmosfera e de condições adequadas".

Antes dele, o presidente azerbaijano, Ilham Aliev, também foi firme na noite de terça-feira na televisão russa: "o primeiro-ministro armênio declara publicamente que Karabakh é Armênia, de que processo de negociações se trata?"

O Kremlin, que pede o cessar imediato dos combates, os mais graves desde 2016, afirmou que está disposto a atuar como mediador, em uma região instável que pode ser muito afetada por uma eventual guerra aberta entre Baku e Yerevan.

Baku, no entanto, disse nesta quarta-feira que está "determinado" a lutar enquanto "não vermos claramente que as tropas armênias deixaram o território do Azerbaijão", afirmou a representação azerbaijana da Organização pela Segurança e Cooperação na Europa (OSCE).

De acordo com os balanços oficiais, provavelmente parciais, os confrontos que explodiram no domingo deixaram 98 mortos: 81 combatentes separatistas e 17 civis dos dois lados.

O Azerbaijão não anunciou nenhuma baixa militar, e os dois lados trocam acusações sobre o início das hostilidades.

Um repórter da AFP presenciou na região azerbeijana de Beylagan, a poucos quilômetros da frente de batalha, o enterro de um soldado morto no combate, segundo os habitantes. Em meio aos gritos das pessoas, seu caixão - envolto na bandeira do Azerbaijão - foi levado ao cemitério.

- "Grande orgulho" -O número de mortos pode ser muito maior. O ministério azerbaijano da Defesa afirmou que os combates prosseguem e citou a morte de 2.300 separatistas armênios desde o fim de semana.

O porta-voz do ministério armênio da Defesa, Artsroun Hovhannisian, relatou que 790 soldados do outro lado morreram, e 1.900 ficaram feridos.

As partes envolvidas também anunciaram a destruição de tanques, drones e outros materiais, mas os dados não foram confirmados por fontes independentes.

A retórica de guerra alimenta o fervor patriótico nos dois países. Ambos os territórios decretaram lei marcial, e muitos voluntários se apresentaram para os combates.

O Azerbaijão afirma que reconquistou territórios e impede as linhas de abastecimento armênias. Nagorno Karabakh alega que retomou posições.

- Possível internacionalização -A Armênia afirmou na terça-feira que um caça turco de apoio ao Azerbaijão derrubou um de seus aviões militares. Ancara e Baku desmentiram a acusação.

Yerevan voltou a acusar, nesta quarta, a "aviação russa de realizar voos de provocação" na fronteira comum.

Uma intervenção militar direta da Turquia representaria uma guinada importante e a internacionalização do conflito.

O governo turco foi o único que não pediu um cessar-fogo. Pelo contrário, estimulou o aliado Azerbaijão a retomar o controle de Karabakh à força e a humilhar a Armênia, seu inimigo histórico.

Já o Kremlin disse que "não apoia os pedidos" da Turquia, com quem mantém relações complicadas mas pragmáticas, além de pedir que "não jogue lenha na fogueira".

O presidente francês, Emmanuel Macron, condenou as declarações "imprudentes e perigosas" de Ancara pedindo a Baku uma "reconquista" militar de Karabakh.

"Estamos perto de uma guerra em grande escala, talvez inclusive em nível regional", alertou Olesya Vartanyan, analista do International Crisis Group.

A Corte Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) pediu às duas partes que se abstivessem de qualquer ação "que pudesse levar a violações dos direitos das populações civis".

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