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Trapalhadas de Boris Johnson podem levar a rebelião de conservadores e fortalecem oposição

27/09/2020 16h46

Em meio ao novo surto da covid-19, as difíceis negociações pós-Brexit e a economia ameaçada, os tempos são difíceis para o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson. Ele conta com uma grande maioria parlamentar, mas entre 40 e 60 deputados conservadores podem se rebelar na próxima semana e se recusar a renovar os poderes excepcionais concedidos ao governo para gerenciar a pandemia.

O Reino Unido é o país mais castigado pelo coronavírus na Europa, com quase 42 mil mortes. Como todos os líderes mundiais, Johnson já passou pela prova em relação ao enfrentamento da doença, mas o novo surto no Reino Unido somado aos temores de um Brexit sem acordo até 31 de dezembro provocam a raiva de uma parte da classe política. Seus detratores acusam o primeiro-ministro de ter prejudicado deliberadamente as relações com Bruxelas, ao apresentar um projeto de lei que modifica as disposições do acordo e põe em risco a obtenção de um acordo de livre comércio, a poucos meses do fim do período de transição pós-Brexit, no fim do ano.

Esta estratégia, que viola o direito internacional ao revogar partes de um tratado em vigor desde que o Reino Unido deixou a União Europeia, em 31 de janeiro, irritou parlamentares conservadores e desencadeou uma rebelião. A situação atual é radicalmente diferente da do ano passado, quando o polêmico político de cabelos desajeitados acabava de ser eleito líder do Partido Conservador, e que pouco depois obteve uma grande vitória nas eleições legislativas de dezembro.

"Dogmático"

Agora, até a imprensa conservadora, que costuma ser favorável a Johnson, censura o premiê por suas últimas decisões. O jornal Spectator, do qual o agora primeiro-ministro e ex-jornalista havia sido editor-chefe, afirma que ele preside "a desordem, o fracasso, a rebelião, a turbulência e a confusão".

Alguns conservadores chegam a expressar preocupação com os possíveis efeitos do novo coronavírus - do qual Johnson ficou muito doente em abril - sobre sua capacidade de governar. "Seja qual for a causa, ela se tornou dogmática e se opõe ao debate", afirmou o Daily Mail.

"Ele não está mais em condições de ser primeiro-ministro e deve renunciar assim que o Brexit terminar", escreveu nas páginas do Spectator Toby Young, antes grande apoiador de Johnson.

Na opinião de Tim Bale, cientista político da Queen Mary University, se os conservadores colocaram Johnson no comando, não foi porque pensaram que ele seria um "bom primeiro-ministro" - mas "porque estavam desesperados para ganhar as eleições", ressaltou o especialista à AFP. Agora, eles têm "a esperança de que apareça alguém digno do cargo", acrescenta.

Novos nomes no partido e recuperação dos trabalhistas

Uma alternativa pode ser o jovem ministro das Finanças, Rishi Sunak, cuja popularidade crescente ofusca Johnson, graças a suas políticas engenhosas e generosas para salvar a economia da pandemia. "Fala-se de Sunak como um potencial primeiro-ministro", afirmou o jornal conservador Daily Telegraph, embora tenha alertado que Sunak pode enfrentar um golpe quando tiver de explicar como vai pagar seus subsídios e aumento de impostos.

Johnson também lida com a popularidade crescente do novo líder da oposição trabalhista, Keir Starmer, eleito em abril e cuja energia e oratória já lhe renderam maus momentos no Parlamento.

Neste domingo, pela primeira vez desde julho de 2019, uma pesquisa de opinião apontou que o partido trabalhista venceria os conservadores. A sondagem do instituto Opinium foi publicada na semanal progressista The Observer, do The Guardian.

O partido da oposição, que recuperou força desde a chegada de Starmer, está três pontos à frente dos 'tories', com 42% contra 39%. Há apenas seis meses, quando começou a pandemia de coronavírus, os conservadores continuavam liderando com uma vantagem de 26 pontos.

Com informações da AFP

 

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