De volta para o futuro, Bundesliga encara novos desafios
Treze meses mais tarde, nenhum torcedor estava nesse mesmo estádio para a primeira partida da 58ª temporada da Bundesliga. A autoridade sanitária de Munique tinha vetado a presença de público por conta do aumento dos novos casos de coronavírus na cidade.
De todo modo, Bayern e Schalke estavam prontos para o pontapé inicial. Pouco antes, um locutor entusiasmado anunciava em inglês e com indisfarçável sotaque britânico, o tradicional clássico do futebol alemão. Suas palavras, muito parecidas com as de um comercial qualquer de TV na forma e no conteúdo, evidentemente eram dirigidas ao público que ficou em casa em frente à telinha.
Se em Munique e também em Colônia os torcedores tiveram que ficar em casa, em outras cidades houve jogos com torcida, ressalvando que apenas 20% da capacidade de lotação das arenas poderiam ser utilizados.
No Weserstadion em Bremen, por exemplo, o técnico Florian Kohfeldt, do Werder, estava feliz antes da partida com o Hertha, porque finalmente "vamos ter futebol de verdade". Cerca de 8.400 torcedores tentaram empurrar os verdes, mas não adiantou. Acabaram derrotados (1x4), e a felicidade estampada no rosto de Kohfeldt antes do confronto deu lugar à uma fisionomia sombria, imaginando talvez tempos difíceis por vir no futuro imediato.
No acanhado e icônico estádio do Union Berlin, 4.400 fãs não se cansaram de cantar o tempo todo. Não adiantou. Derrota amarga diante do Augsburg (1x3) e muito trabalho pela frente para o técnico Urs Fischer, que precisa reconstruir a equipe depois da saída de alguns jogadores importantes, como o artilheiro sueco Sebastian Andersson.
Em Dortmund, teve gente na lendária "muralha amarela" e alguns milhares de torcedores espalhados pelas arquibancadas tentando manter certo distanciamento físico. O Borussia local foi bem, esbanjando experiência de veteranos na defesa e velocidade letal dos jovens no ataque. Começaram bem os aurinegros, impondo uma vitória categórica aos potros de Gladbach - para alegria da torcida e alívio do técnico suíço Lucien Favre.
Desde março não era permitida a presença de público nos estádios. Agora há uma autorização temporária limitada a 20% da capacidade das arenas. É uma fase de testes, que poderá durar até o final do ano porque, apesar de todas as medidas tomadas pelas autoridades sanitárias, enquanto não houver uma vacina eficaz, quem está no comando é o coronavírus. Consequentemente, a qualquer momento a situação pode mudar e obrigar o governo a impor novas medidas restritivas.
Caso isso ocorra, a Bundesliga vai encarar o desafio de passar boa parte da nova temporada praticamente sem público nos estádios ou com público bastante reduzido, como é o caso agora. Tal situação vai acarretar sérios problemas financeiros, especialmente para aqueles clubes que dependem num grau maior da bilheteria do estádio para deixar suas contas em dia.
Para compensar esse tipo de prejuízo, a Bundesliga deveria repensar rapidamente o seu atual modelo de distribuição dos valores referentes aos direitos televisivos, no qual os grandes ganham cada vez mais, e os pequenos, cada vez menos.
Outro desafio diz respeito à competitividade do campeonato. Não é novidade para ninguém que o Bayern domina a Bundesliga ao seu bel-prazer há anos. A novidade está no fato inconteste que o domínio está se transformando em dominação. Não tem vez para ninguém no futebol alemão porque, afinal, os bávaros imperam. O trono tem dono. O que está em disputa é quem será o primeiro de todo o resto.
O que se viu na abertura da nova temporada foi uma superioridade impressionante de uma equipe sobre a outra. Formalmente tratava-se de um jogo entre dois times da mesma liga. Na realidade, porém, Bayern e Schalke pertencem a dois mundos completamente diferentes, e um está a anos-luz do outro. Este 8x0 imposto pelos bávaros sobre os azuis reais deixa muito claro que algo precisa mudar na Bundesliga - sob pena de este campeonato se tornar uma farsa.
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Gerd Wenzel começou no jornalismo esportivo em 1991 na TV Cultura de São Paulo, quando pela primeira vez foi exibida a Bundesliga no Brasil. Desde 2002, atua nos canais ESPN como especialista em futebol alemão. Semanalmente, às quintas, produz o Podcast "Bundesliga no Ar". A coluna Halbzeit sai às terças. Siga-o no Twitter, Facebook e no site Bundesliga.com.br
Autor: Gerd Wenzel
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