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Covid-19: recordista de casos em março, leste da França registra aceleração mais lenta da epidemia

22/09/2020 12h09

O leste da França foi a área mais atingida pela Covid-19 durante a primeira onda epidêmica no país. De março a maio, mais de 3.400 pessoas morreram nos hospitais da região. Curiosamente, a circulação do vírus agora é menor - as cidades de Estrasburgo e Nancy, por exemplo, têm uma taxa de contaminação um pouco acima de 50 pessoas para cada 100.000 - o que indica que a circulação do vírus, por enquanto, está relativamente sob controle. A título de comparação, em Marselha, onde a situação é crítica, essa taxa chega a 200. 

Em Nancy, no leste, poucos leitos estão ocupados nas unidades de terapia intensiva dedicadas à Covid-19, e há raras hospitalizações, ainda que elas aumentem paulatinamente, explica o infectologista francês Christian Rabaud, presidente da Comissão Médica do Hospital da cidade. Para ele, o fato da região estar sendo, por enquanto, relativamente poupada na segunda onda, permanece um mistério. Uma das hipóteses está relacionada ao movimento da população durante as férias de verão no hemisfério norte, em julho e agosto.

"Os lugares onde o vírus voltou a circular são, essencialmente, destino de férias entre jovens, que não desenvolvem formas graves, mas depois essas pessoas voltaram para casa", explica o infectologista. Segundo ele, como a maioria da população francesa vive nas grandes metrópoles, o vírus se propagou em cidades como Paris, ou Marselha, ou em estações balneárias, como Nice. "Marselha reúne os dois: é um lugar para passar férias e uma metrópole, e isso é explosivo", detalha. 

Diferentemente da região leste, frisa, que não é um lugar onde tradicionalmente os franceses passam as férias. Além disso, já tem uma taxa de contaminação de cerca de 10%, o que protege parcialmente a população do SARS-Cov-2, mesmo que ela ainda esteja distante da chamada imunidade coletiva - entre 60 e 70%.

 "É um conjunto de fatores que faz com que o leste seja menos atingido, ou esteja, pelo menos, 'atrasado'. Mas talvez não seja o caso daqui 15 dias ou um mês", declara. De acordo com ele, a atividade epidêmica moderada não é fruto de uma conscientização coletiva da população e da adoção das medidas de proteção.

Segunda onda e reorganização do hospital

Segundo Rabaud, no auge da epidemia, todos os esforços das equipes estavam voltados para um único objetivo: receber todos os pacientes graves e salvar o máximo de pessoas possível. Exames, cirurgias e outros procedimentos foram suspensos. "Globalmente, foi complicado, cansativo, exaustivo, pesado, mas em termos de organização, foi relativamente simples, já que só fazíamos isso e todos nossos recursos humanos e financeiros eram dedicados, sem limite, para enfrentar a Covid", explicou à RFI Brasil.

Os meses entre março e maio, diz, foram cansativos, mas, desde junho, após o confinamento, foi preciso reorganizar o hospital para atender pacientes com doenças crônicas, como o Diabetes por exemplo. "Tivemos que reabrir setores, e reinserir novamente as equipes especializadas neles, com seu know-how específico, para atender esses doentes".

Segundo Rabaud, essa reorganização foi complexa: quando a primeira onda chegou ao fim, houve cortes nos recursos atribuídos aos hospitais, o que gerou tensão entre as equipes. O problema agora se acumula a chegada de novos pacientes Covid-19. "Temos um novo problema: continuamos a gerenciar todos os outros doentes além dos contaminados pela Covid", explica. Ele diz que atualmente existe uma "concorrência" na atribuição dos leitos e lembra que o sistema hospitalar francês já estava sobrecarregado mesmo antes da crise.

Evitar um novo confinamento

Depois de seis meses de epidemia, o objetivo agora é evitar um novo confinamento. Ele acredita que as respostas devem ser pontuais, como na Espanha ou algumas cidades francesas, com bares fechando mais cedo, por exemplo, ou lmitando as reuniões públicas e privadas.

De acordo com ele, o R0, que é a taxa de reprodução do vírus, ainda está sob controle relativo na França, contrariamente a fevereiro, quando ultrapassava 2. O R0 indica, em média, quantas pessoas podem ser contaminadas por um caso positivo. Além disso, lembra, a população hoje sabe como e tem meios de se proteger. "Se formos obrigados a confinar novamente, isso será a prova de que gerenciamos tudo muito mal no país", afirma.

 

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