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Covid-19: premiê britânico endurece medidas e pede ajuda da população para evitar lockdown nacional

22/09/2020 12h37

O primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou nesta terça-feira (22) mais restrições, que deverão permanecer em vigor pelos próximos seis meses, para conter o avanço rápido do coronavírus no país. O premiê fez um apelo para que a população colabore cumprindo as medidas, de forma a evitar um novo lockdown nacional.

Vivian Oswald, correspondente da RFI em Londres

A partir de quinta-feira (24), restaurantes, bares e pubs não poderão atender a clientela depois das 22 horas. O uso de máscaras de proteção passa a ser obrigatório também para funcionários dos setores de varejo, hotelaria, restauração e aluguel de automóveis. A partir de outubro, atividades dos clubes de futebol, conferências de negócios e exposições estarão suspensos. Além disso, cai de 30 para 15 o número de pessoas permitidas em cerimônias como casamentos. O governo também recomenda que aqueles que puderem trabalhar de casa o façam. Até agora, vinha incentivando à volta gradual aos escritórios para estimular a economia.

Com um quinto da população sob lockdown  - e quase a metade vivendo sob algum tipo de restrição - o Reino Unido acaba de aumentar de três para quatro o nível de alerta de contaminação da Covid-19. A tabela vai de 1 a 5, sendo este último o mais grave.

"Este é o momento para agirmos",  afirmou Johnson ao parlamento britânico no início da tarde desta terça-feira. A ideia, segundo ele, é baixar o "R", o indicador usado para medir a velocidade das infecções. Ele garantiu que está tentando descartar ações mais extremas, como um lockdown nacional. "Mas só podemos evitá-lo se as medidas funcionarem e se o comportamento das pessoas mudar", explicou.

O premiê afirmou que o número de novos casos diários no país quadruplicou em um mês. Nas últimas 24 horas, foram quase quatro mil, além de 12 mortes. As projeções da equipe de cientistas do governo apontam para cerca de 50 mil novos casos e 200 mortes por dia em meados de outubro, se nada for feito. 

"As medidas vão valer por seis meses. Nossa batalha contra o vírus continua. Estamos tomando medidas decisivas e dando passos apropriados", disse Jonhson, lembrando que 30 milhões de britânicos já vivem sob algum tipo de restrição neste momento.

Restrições mais pesadas

Com o número de contaminações pelo novo coronavírus aumentando, o governo britânico tenta aliar a imposição de restrições mais pesadas à necessidade de deixar algum espaço para a economia continuar funcionando. Os cientistas que aconselham o governo reconheceram que as medidas que já estavam em vigor não são suficientes. 

Desde a semana passada, as pessoas não podem se reunir em grupos de mais de seis, sob pena de multas altas. Em várias regiões do país, a própria "regra dos seis", como ficou conhecida, foi superada. Não se pode mais misturar em espaços fechados gente que não more sob o mesmo teto, ainda que sejam menos de seis pessoas.

Escolas e universidades permanecerão abertas, assim como o comércio. "A vasta maioria da economia do Reino Unido continua funcionando", destacou o premiê. 

Por enquanto, os setores de hotelaria e restauração também continuarão em operação, desde que sigam as regras sanitárias em vigor. O segmento que já demitiu dezenas de milhares de pessoas trabalha com pouca margem de manobra para se manter. Em julho, quando reabriram as portas (fechadas desde 23 de março após o anúncio do lockdown), bares, restaurantes, pubs e hotéis tiveram de investir pesado em medidas de segurança sanitária.

O governo diz que vai ampliar o período de ajuda financeira a essas empresas. Mas os cofres públicos não têm como financiar todos os setores da economia por tempo indeterminado.

Até a noite de segunda-feira (21), o governo não descartava o que vinha sendo chamado de "mini-lockdown", um período curto, talvez de duas semanas, de isolamento nacional para tentar retardar o ritmo das contaminações. Mas esta é uma alternativa draconiana que fica sobre a mesa para ser usada caso necessário. Johnson avisou ao parlamento que o governo pode aplicar novas restrições a qualquer momento, se julgar pertinente. 

Impacto político para o governo britânico

Ainda não é possível saber qual será o impacto político desta segunda onda da pandemia para Johnson. Durante o fim de semana, integrantes do gabinete se reuniram com os cientistas que o aconselham e com Dominic Cummings, o marqueteiro que é o homem de confiança do premiê, considerado guru deste governo. O que se quer é poupar a economia, enquanto se evitam as contaminações. O PIB britânico caiu 20,4% no segundo trimestre deste ano por conta da pandemia.

Tudo isso vai para a conta de Johnson. Talvez esta tenha sido uma das razões para ele não ter participado da apresentação sobre a gravidade da situação feita pelos cientistas nesta segunda-feira, para se dissociar um pouco das medidas negativas que devem ser tomadas daqui para frente.

O fato é que, por mais que tenha aberto mão da bandeira da austeridade e recorrido aos cofres púbicos para tentar conter as crises sanitária e econômica, o governo conservador de Boris Johnson não tem como se afastar das decisões mais duras que está por tomar, nem das suas consequências para a vida dos cidadãos e a situação da economia nacional. Os próprios cientistas reconheceram que mais restrições significam pobreza a desprovimento. E que é preciso encontrar um meio termo entre salvar vidas e afetar a economia.

Johnson é acusado de ter demorado a implementar as restrições no início da primeira onda da pandemia e anunciar o lockdown tardiamente.

Deputados de oposição e do seu próprio partido acham que devem ter direito de opinar sobre as medidas que estão sendo adotadas pelo governo para enfrentar a pandemia. Por esta razão, ao terminar o pronunciamento na Câmara dos Comuns, Johnson disse aos parlamentares que terão chances de opinar e verificar a eficácia medidas.

A lista apresentada pelo primeiro-ministro foi bem recebida pelo líder da oposição Keir Starmer, do Partido Trabalhista, que, no entanto, cobrou do governo garantias sobre os próximos passos e sobre como pretende continuar ajudando as famílias prejudicadas pelas restrições em vigor. Ele criticou o sistema de testagem da Covid-19, que não tem dado conta da demanda da população do país. 

Além disso, Starmer perguntou a Johnson quais serão as garantias de que as pessoas poderiam passar o Natal juntas. Esse é justamente um dos grandes temores do governo conservador: ter que responder a esta pergunta com mais uma notícia ruim, depois de um ano cheio de restrições e uma economia em queda. O Natal é uma das datas mais festejadas pelos britânicos.

 

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