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No Brasil, cartel mexicano populariza e leva drogas sintéticas à periferia

Drogas sintéticas apreendidas pela polícia de SP; as da fileira de baixo, são ecstasy verdadeiros, as de cima, adulterados - Eduardo Knapp/Folhapress
Drogas sintéticas apreendidas pela polícia de SP; as da fileira de baixo, são ecstasy verdadeiros, as de cima, adulterados
Imagem: Eduardo Knapp/Folhapress
do UOL

Luís Adorno

Do UOL, em São Paulo

20/09/2020 04h00

Investigações brasileiras apontam que o cartel mexicano CJNG (Cartel Jalisco Nueva Generación), o maior grupo criminoso daquele país e especialista no tráfico de drogas sintéticas, intensificou ações no Brasil nos últimos três anos.

O UOL teve acesso exclusivo a dados das investigações paralelas que correm sobre o CJNG no Brasil. Um relatório que está nas mãos da PF (Polícia Federal) e de polícias estaduais aponta que, embora o grupo tenha surgido há menos de 10 anos, a partir de uma cisão do cartel de Sinaloa, cujo chefe foi, Joaquín "El Chapo" Guzmán, o CJNG teve crescimento acelerado.

O CJNG focou no controle de importantes regiões portuárias do México, nas cidades de Manzanillo, Lázaro Cárdenas e Veracruz, e no mercado de drogas emergentes, como as metanfetaminas e os opioides, que dependem em seus processos de elaboração de insumos oriundos da China.

Em São Paulo, policiais civis do Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes) afirmam que as drogas sintéticas, que anos atrás eram consumidas por pessoas de classe média, invadiram bairros da periferia, sendo tão consumidas quanto maconha e cocaína.

Isso leva os investigadores a crer que, em São Paulo e em todo o Brasil, independentemente da classe social, a droga sintética criou seu mercado. Coincidentemente ou não, no mesmo período que o CJNG intensificou sua ação no país. As polícias tentam entender, agora, se o cartel atua em parceria com facções criminosas brasileiras ou se disputa o território.

Integrantes do CJNG

O delegado Elvis Secco, coordenador-geral de Repressão a Drogas e Facções Criminosas da PF, confirmou que existem investigações em andamento sobre o cartel mexicano no Brasil, mas a apuração é feita de maneira sigilosa.

Risco de trocas de informações

O CJNG tem extrema capacidade operacional e bélica no México, segundo as investigações. A estratégia é se apropriar dos mercados dos cartéis adversários e dissuadir ações de resposta por parte do próprio estado.

Embora não estejam claros os objetivos do CJNG no Brasil, os investigadores temem que o cartel lave dinheiro, faça compra e exportação de cocaína andina nos portos brasileiros e identifique oportunidades no ainda pouco explorado mercado brasileiro de drogas sintéticas.

Os métodos utilizados pelo CJNG no México são marcados pelo uso da violência e pela intimidação de autoridades estatais. Os investigadores não descartam que a intensificação da presença no Brasil resulte em intercâmbios comerciais e organizacionais com as facções criminosas brasileiras, a exemplo do que já aconteceu no Brasil com o PCC (Primeiro Comando da Capital).

Conexão México-Paraguai-Brasil

Nos últimos cinco anos, foram registrados pelo menos cinco episódios envolvendo criminosos mexicanos suspeitos de integrarem o CJNG no Brasil. Parte deles era do estado mexicano de Jalisco, área de origem do cartel.

No dia 7 de dezembro de 2016, a Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) do Paraguai, deteve os mexicanos Jimmy Wayne Gallien, Armando Carrillo, Marcos Antonio Castro e Martín Manuel Huerta por estarem envolvidos em operação de tráfico internacional naquele país.

Foram apreendidos mais de 300 quilos. Havia cilindros industriais importados de Jalisco e que, posteriormente, seriam enviados a Holanda, através do porto de Santos (SP).

Jimmy Wayne Gallien que liderava o grupo, já havia vindo ao Brasil pelo menos três vezes nos últimos cinco anos. A quadrilha, segundo a polícia paraguaia, tinha um esquema de coordenação logística de tráfico internacional, com contatos em Jalisco.

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