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Jovem brasileira morre após procedimento estético em clínica do Paraguai

Sheiza Ayala morreu em Ponta Porã (MS), cinco dias após passar por procedimento estético em uma clínica no Paraguai - Reprodução / Facebook
Sheiza Ayala morreu em Ponta Porã (MS), cinco dias após passar por procedimento estético em uma clínica no Paraguai Imagem: Reprodução / Facebook
do UOL

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Ponta Grossa (PR)

18/09/2020 21h14

Uma estudante brasileira de 22 anos morreu ontem, em Ponta Porã, a 297 km de Campo Grande (MS), cinco dias após passar por um procedimento estético em uma clínica supostamente clandestina no Paraguai. Sheiza Ayala aplicou hidrogel nos glúteos, na cidade de Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil, e precisou ser internada 48 horas depois.

O procedimento estético ocorreu na manhã de 12 de setembro. No mesmo dia, ao longo da tarde, ela avisou à médica responsável pela clínica que estava com falta de ar e febre, segundo relata a família de Sheiza. A profissional orientou que a jovem tomasse "Coca-cola e café" e indicou que poderia ser ansiedade, de acordo com áudio a que a reportagem do UOL teve acesso.

"Não deram nenhuma assistência. Uma [médica] falou para tomar Coca-Cola e café, culpando a ansiedade dela pelo problema. Tem tudo registrado", afirmou a maquiadora Letícia Cunha, 24, amiga da vítima.

Os sintomas permaneceram, e Sheiza deu entrada na última segunda-feira (14) no Hospital Regional de Ponta Porã, com o quadro de saúde bastante debilitado. Em uma tomografia, os médicos constataram tromboembolismo pulmonar — bloqueio de uma ou mais artérias pulmonares. Além disso, houve hemorragia interna.

No mesmo dia da internação, Sheiza publicou em seu perfil no Twitter: "A pior coisa do mundo é não conseguir respirar".

"O médico identificou insuficiência respiratória. Ela foi direto para a Unidade de Terapia Intensiva. Como ela estava com quadro súbito de falta ar e fez este procedimento estético em um período anterior menor do que 48 horas, acreditamos que tenha sido causado pelo procedimento mesmo", informou o secretário municipal de Saúde de Ponta Porã, o médico Patrick Derzi.

Especialista em clínica médica, Derzi explicou que, se injetado em um vaso sanguíneo, o hidrogel pode causar o tromboembolismo pulmonar. "A substância deve ser aplicada por pessoas com formação técnica. Talvez a pessoa [médica] não tivesse este conhecimento", comentou o secretário de Saúde.

Em uma conversa por WhatsApp, a médica que intermediou o serviço informa à jovem que é obstetra. Já a profissional que aplicou o produto também seria graduada em medicina, mas em nenhum momento das trocas de mensagens obtidas na íntegra pelo UOL há menção da especialidade, necessária para o procedimento.

O UOL entrou em contato com a médica que injetou o hidrogel em Sheiza, mas ela não atendeu aos telefonemas nem respondeu às mensagens no celular. A intermediadora dos serviços teria apagado as contas nas redes sociais.

A imprensa paraguaia afirma que a médica que aplicou o hidrogel responde por homicídio culposo, em razão de uma paciente de 28 anos ter morrido em 2019 pelo mesmo motivo, em Pedro Juan Caballero.

A reportagem apurou que o procedimento de aplicação do produto oferecido pela clínica supostamente clandestina custa 2 milhões de guaranis, o que na cotação de hoje estaria em R$ 1.540. Composto por poliamida e soro fisiológico, o hidrogel geralmente é usado para diminuir marcas de expressão no rosto, além de redesenhar partes assimétricas do bumbum e pernas — neste caso, não é recomendado por especialistas e entidades de saúde.

Consultada, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul informou que ainda não há registro de boletim de ocorrência sobre o caso nas duas delegacias do município. Uma pessoa próxima à família disse que ainda é avaliado pelos parentes de Sheiza se registrarão o caso para ser investigado no Brasil ou no Paraguai. A jovem foi velada e sepultada hoje.

'Ela era um mar de surpresas', diz amiga

Sheiza iniciou neste ano o curso de estética, segundo Letícia Cunha. A maquiadora era uma das melhores das amigas da jovem e da família - moravam próximas e se conheciam desde os seis anos.

"Ela era um mar de surpresas. Tudo que vivia era sempre intensamente. Não tinha meio-termo. Nunca demonstrava tristeza para não preocupar os outros. É até complicado de falar sobre ela. Posso descrever que amava viver", frisou Letícia.

Além de estudar, a vítima fazia alguns trabalhos de modelos em Ponta Porã. A amiga reclama da falta de assistência por parte das médicas que tiveram contato com a jovem durante o pré e o pós procedimento.

A própria Sheiza ironizou a falta de assistência. Já internada no hospital, ela escreveu para a médica que aplicou o hidrogel: "Muito obrigado pela atenção. Por vocês, teria morrido em casa".

O UOL tentou contato com a família de Sheiza através da amiga da jovem, mas eles informaram que ainda não estão em condições de falar sobre o caso.

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