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Apesar da Oktoberfest cancelada, Munique se diverte

Monika Griebeler

18/09/2020 15h01

Apesar da Oktoberfest cancelada, Munique se diverte - Maior festival público do mundo foi cancelado este ano devido ao coronavírus. Mas a capital da Baviera contornou o problema com a criação de eventos alternativos que também podem beneficiar o turismo no futuro.Christin passou o verão sob palmeiras, curtindo a sensação da areia entre os dedos dos pés – bem no centro de Munique, no parque Theresienwiese. É aqui que, a partir de meados de julho, normalmente haveria um grande canteiro de obras, com operários em semi-reboques e grandes guindastes, montando as tendas de cerveja e os brinquedos do parque de diversão da Oktoberfest: dez semanas de construção, duas semanas de diversão e depois mais cinco semanas para limpar tudo de novo.

Mas não neste verão do coronavírus. Pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial, a Oktoberfest – ou "Wiesn", como os bávaros a chamam carinhosamente, – foi cancelada. Em vez disso, os moradores de Munique têm o Theresienwiese, com uns bons 420 mil metros quadrados, todinho para eles. "É um estilo de vida completamente diferente", diz Christin, uma jovem de Munique.



Perdas de mais de 1 bilhão de euros

Clemens Baumgärtner, diretor da Oktoberfest e assessor econômico da cidade de Munique, diz que ficou "triste, abalado e quase paralisado" quando o maior festival público do mundo foi cancelado em abril. "Isso criou um vácuo difícil de preencher – e é claro que muitas empresas contam com a Oktoberfest."

O escritório de Baumgärtner calculou que as perdas são de aproximadamente 1,23 bilhão de euros (R$ 7,6 bilhões). Receitas que a cidade, os donos de bares, os comerciantes, os taxistas, os hoteleiros, os restaurantes, os vendedores de roupas típicas e de souvenirs e tantos outros não terão este ano. Mais de 500 empresas trabalham apenas no âmbito do festival, por meio das quais 13 mil empregos temporários são criados a cada ano.

A Oktoberfest não é apenas um enorme fator econômico para Munique, mas também uma atração turística e um evento adotado internacionalmente. O festival é realizado em todo o mundo, desde Blumenau, no sul do Brasil, até Kitchener, no Canadá, e Qingdao, na China.

A original costuma atrair ao Theresienwiese cerca de 6 milhões de visitantes. Em trajes típicos, amigos e desconhecidos normalmente festejam juntos nos bancos dos pavilhões das cervejarias, numa bebedeira coletiva. Enquanto isso, aposentados passeiam por entre as tendas mordiscando amêndoas torradas, casais apaixonados ganham ursinhos de pelúcia nas barraquinhas de tiro e crianças se divertem com as tradicionais voltas no carrossel de cadeiras voadoras. "A Wiesn é simplesmente um modo de vida", afirmou Baumgärtner à DW.



Cerveja à sombra das palmeiras

Já que não se pode substituir a Oktoberfest, é preciso salvar o possível, como os empregos dos artistas itinerantes. Para isso, a Secretaria da Economia criou o evento Sommer in der Stadt (Verão na Cidade), com passeios, estandes e cervejarias ao ar livre em vários lugares de Munique, naturalmente em conformidade com as regras de higiene e distanciamento social ditadas pela covid-19.

No Theresienwiese, por exemplo, montou-se uma praia artificial semeada de palmeiras, e foi disponibilizado um trepa-trepa onde os atletas podem treinar e as crianças fazem ginástica. À noite, atrás da avenida de palmeiras, a Secretaria Municipal de Esporte oferece aulas gratuitas de aeróbica com um treinador. Além disso, acontecem concertos ocasionais pelo parque.

A população de Munique tem aproveitado a oferta. Não muito longe da praia, estudantes montaram uma barraca de cerveja. Por todos os cantos, ecoa "Hey, hey, baby, uh, ah", o refrão do grande hit da Oktoberfest do DJ Ötzi. "Por último, alguém até montou uma piscina de verdade aqui", conta Christin.

Ela mora ao lado do Theresienwiese e vai à praia artificial todos os dias para se bronzear e ler. "Claro, é uma pena que a Oktoberfest teve que ser cancelada, mas quase prefiro deste jeito", pois assim a cidade desenvolveu ideias para os jovens e os animadores.



Königsplatz: famosa no Instagram

Num trailer de cerveja na Königsplatz, Peter Bausch, presidente interino da Associação de Artistas Itinerantes de Munique, dá de ombros, resignado: "É um pequeno passo rumo à normalidade, mas estamos perdendo uma temporada inteira." Ele admite, porém, que a iniciativa Verão na Cidade contribuiu um pouco, inclusive para seu estado de espírito, pois ele está feliz de voltar a trabalhar. "É claro que vivemos disso, mas, no fundo, se trata de levar alegria às pessoas."

Isso fica bem evidente aqui na Königsplatz, que se tornou um pequeno point do Instagram: uma roda-gigante gira em frente ao portão. Bem no estilo Oktoberfest, crianças gritam nas cadeiras voadoras e na montanha-russa, enquanto os adultos tomam uma cerveja gelada no biergarten.

"Não dá para substituir a Oktoberfest: encontrar os amigos, beber cerveja, a sensação toda", lamenta Gerhard, de Munique, que passou por acaso com a família e acabou ficando. "Mas acho bom que se ofereça algo assim aqui", diz, acenando para a esposa e a filha, que acabam de passar voando no alto do carrossel.





Oktoberfest 2020: de volta às origens

Baumgärtner está satisfeito com seu Verão na Cidade, que foi prorrogado até o início de outubro. "Até agora, tem sido um sucesso, também porque não houve infecções, nem multidões, nem bebedeiras exageradas." Muitas outras cidades alemãs têm seguido o conceito, que "foi bem recebido".

Isso também é o que espera o setor hoteleiro. Afinal, eles também têm um plano para salvar a temporada: de 19 de setembro a 4 de outubro, o período original da Oktoberfest, se realiza a "Wirtshaus Wiesn". "A Oktoberfest não é um local, mas uma atitude perante a vida", comenta Gregor Lemke, porta-voz dos hoteleiros do centro de Munique.

Não se trata, portanto, de uma substituição, mas sim de um retorno às origens: a primeira Oktoberfest, por ocasião do casamento do príncipe Ludwig da Baviera com a princesa Teresa da Saxônia, em 1810, foi uma festa de fim de verão para toda a cidade.

À noite, povo se reuniu nas tavernas para dançar e comemorar. E é assim que deve ser agora de novo. "É tudo uma questão de mostrar às pessoas: mantenham a alegria de viver, se divirtam juntas, o coronavírus não pode acabar com isso", diz Lemke.

Ao total, são 54 estabelecimentos participantes: as tavernas do centro e as que costumam servir bebidas na Oktoberfest. No cardápio, será oferecida a tradicional Wiesnbier, a cerveja da Oktoberfest das respectivas cervejarias, frango, joelho de porco e steckerlfisch, peixe grelhado no espeto.

Bandas bávaras se apresentarão e os visitantes são convidados a comparecer em trajes típicos. As semanas do festival se inauguraram oficialmente em toda a cidade com a tradicional abertura do primeiro barril de cerveja, ao som da exclamação "O'zapft is".



Volta aguardada para 2021

Todos estão convidados. "O festival está aberto a todo o mundo", diz Lemke. Mas ele e seus colegas presumem que, por causa do coronavírus, o evento atrairá sobretudo visitantes de Munique ou da Baviera. Portanto, será menos internacional e menos desbragada do que nas tendas da Oktoberfest, que acomodam até 10 mil lugares.

As tavernas devem seguir as regras atuais de distanciamento e higiene. Será permitido schunkeln, balançar ao som da música, mas não dançar nas mesas. E, afinal, não se trata de festança alucinada, mas de tradição, enfatiza Lemke, para quem "a Oktoberfest é única e deve continuar assim".

Se o evento Wirtshaus Wiesn for um sucesso, poderá haver reprise em 2021, paralelamente à Oktoberfest clássica. O mesmo se aplica ao Verão na Cidade, conta Baumgärtner, argumentando que até lá todos esperam já haver algum medicamento ou vacina contra o coronavírus.

Só uma coisa vai sair de cena: a praia das palmeiras no Theresienwiese, pois lá é lugar, primeiro para o canteiro de obras, e depois para a animação da Oktoberfest.

Adaptação: Isadora Pamplona

Autor: Monika Griebeler

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