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Família quer processo contra Sabesp e terceirizada por morte de Guilherme

Membros do MP-SP (de pé) recebem os familiares do adolescente Guilherme Guedes (sentados), assassinado aos 15 anos, que pedem a responsabilização civil da Sabesp e de uma terceirizada pelo caso - Marcelo Oliveira/UOL
Membros do MP-SP (de pé) recebem os familiares do adolescente Guilherme Guedes (sentados), assassinado aos 15 anos, que pedem a responsabilização civil da Sabesp e de uma terceirizada pelo caso Imagem: Marcelo Oliveira/UOL
do UOL

Marcelo Oliveira

Do UOL, em São Paulo

15/08/2020 04h00

Resumo da notícia

  • A família do adolescente Guilherme Guedes, morto pelo segurança de uma empresa terceirizada da Sabesp, denunciou a companhia ao MP
  • A família e uma ONG que luta contra o genocídio acusam a empresa de negligência
  • Os autores da representação querem que o MP abra inquérito civil para apurar o papel da Sabesp e da terceirizada na morte
  • A Sabesp afirma que o terreno é particular e que lamenta o episódio

A família do jovem negro Guilherme Silva Guedes, 15 anos, sequestrado, torturado e morto em 14 de junho deste ano pediu que o Ministério Público do Estado de São Paulo abra um inquérito civil público para apurar a responsabilidade da Sabesp e da empresa terceirizada Globalsan no caso. Ontem, o MP denunciou um sargento da PM e um ex-soldado pelo crime.

Um dos denunciados, o sargento Adriano Fernandes de Campos, preso temporariamente desde 17 de junho, era dono da empresa Campos Forte Portaria, contratada para prestar serviços de zeladoria para a Globalsan. Mas ele atuava de fato como segurança para a empresa, responsável pela administração de um terreno da Sabesp localizado na Vila Clara, no mesmo quarteirão onde ficava a casa em que morava Guilherme.

O sargento Adriano, por sua vez, teria recrutado o ex-soldado da PM Gilberto Eric Rodrigues para participar do crime, de acordo com as investigações. O segundo acusado fugiu do presídio militar Romão Gomes, em 2015, após dois anos preso acusado de ter participado de uma chacina.

Os dois investigados foram identificados pela Polícia Civil por meio de um vídeo que mostra o momento em que Guilherme foi sequestrado. O vídeo foi obtido pela família com vizinhos de bairro.

A Sabesp nega que seja proprietária do terreno. Procurada, a Globalsan não atendeu ligações, nem respondeu às perguntas do UOL enviadas por e-mail sobre a contratação da Campos Forte pela empresa.

Conforme revelado pelo UOL, o uso do terreno da Sabesp como passagem por moradores da Vila Clara para chegar ao estacionamento de um supermercado vizinho motivou a alegação de que ocorriam furtos no local. Os vizinhos iam até o terreno para recolher alimentos descartados pelo mercado.

Essa denúncia sobre os furtos nunca foi apresentada à polícia, mas o sargento teria resolvido "investigar" o caso, o que pode estar por trás da morte de Guilherme.

Preso, Adriano nega participação no crime e manteve-se calado em seus depoimentos à Polícia Civil. Sua defesa alega inocência.

MP recebe a família

A mãe de Guilherme Guedes, Joyce Silva, pediu Justiça e a prisão do suspeito Gilberto Eric Rodrigues, que segue foragido - Marcelo Oliveira/UOL - Marcelo Oliveira/UOL
Imagem: Marcelo Oliveira/UOL

A mãe de Guilherme, Joyce Silva, e outros familiares da vítima, foram recebidos na tarde de ontem no MP pelo promotor de Justiça Neudival Mascarenhas, responsável pela investigação criminal do caso, e pelo promotor de Justiça Arthur Pinto Lemos Júnior, secretário de políticas criminais do MP, assessor direto do Procurador-Geral de Justiça, Mário Luiz Sarrubbo.

A família entregou uma petição, pedindo a abertura do inquérito civil. O documento foi protocolado e será analisado pelo MP. Segundo o promotor Mascarenhas, a família e as vítimas de violência têm o direito de "cobrar responsabilidade maior de empresas na contratação de segurança privada".

Ao UOL, a mãe de Guilherme disse que espera justiça. "Como um ex-policial, foragido, acusado de vários homicídios era funcionário de uma empresa de segurança de um PM da ativa?", questionou.

Responsabilização de empresa pode gerar indenização

Segundo a advogada Ana Lúcia Marchiori, da Rede de Proteção e Resistência Contra o Genocídio, autora da petição, há uma série de irregularidades nessas contratações, que implicam as empresas e que precisam ser investigadas, além dos crimes de sequestro, tortura e assassinato.

Uma delas é que a empresa de Adriano, de zeladoria, prestava serviços de segurança privada para a Globalsan. "Isto é uma fraude", afirmou a advogada. Outra infração é esta empresa ser propriedade de um policial militar da ativa, o que é proibido pelo Código Penal Militar.

A advogada afirma que a Globalsan, como prestadora de serviços da Sabesp, deveria agir em conformidade ao Código de Conduta e Integridade da contratante, não praticando ações de violação de direitos humanos, como os que aconteceram no assassinato do jovem Guilherme.

"O código de ética da Sabesp prevê que diretores, funcionários e terceirizados devem obedecer estas regras e, certamente, tortura e homicídio não fazem parte delas", disse a advogada, para quem a Sabesp e a Globalsan foram negligentes.

Sabesp diz que área é particular

Por nota, a Sabesp disse que "lamenta o ocorrido e está à disposição das autoridades policiais no que for necessário".

A companhia não confirma quem é proprietária do terreno. Diz apenas que a área "é particular, apartada, que serve de canteiro de serviços de empresa contratada por licitação".

Indagada sobre a continuidade do contrato com a Globalsan, a Sabesp não respondeu.

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