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Petroestados enfrentam futuro incerto diante de demanda em queda

Grant Smith

12/08/2020 15h40

(Bloomberg) -- De Bagdá a Caracas, muitas das capitais mundiais de petróleo passam por um verão de descontentamento. Pode ser um vislumbre do futuro.

O Iraque enfrentou protestos quando a rede elétrica do país entrou em colapso em meio ao calor escaldante, enquanto a produção de petróleo da Venezuela caiu para o menor nível em 75 anos. Na capital da Argélia, a crise causada pelas paralisações devido ao coronavírus aumenta o risco de novas manifestações e confrontos.

A Opep conseguiu recuperar as cotações do petróleo após o colapso histórico, mas os preços na casa de US$ 40 ainda estão baixos demais para a maioria dos membros, que enfrentam economias fracas, governos instáveis, populações jovens inquietas e devastações das mudanças climáticas. Como o legado da pandemia e a transição para energia mais limpa ameaçam manter os preços do petróleo baixos por mais tempo, há profundas consequências para a forma como os países ricos em petróleo são administrados.

"Os seis frágeis da Opep - Argélia, Irã, Iraque, Líbia, Nigéria e Venezuela - estão diante de uma perspectiva política e econômica muito precária", disse Helima Croft, chefe de estratégia de commodities da RBC Capital Markets.

A receita da Opep caiu cerca de 50% em relação ao ano anterior, e os antigos problemas financeiros dos membros estão vindo à tona.

Dependente do petróleo, Angola busca aumentar um empréstimo de US$ 3,7 bilhões com o Fundo Monetário Internacional em US$ 800 milhões. O país e a Nigéria desvalorizaram suas moedas, uma vez que a escassez de divisas estrangeiras afeta empresas domésticas. O Irã - atingido pelos choques gêmeos das sanções dos EUA e do vírus - e o vizinho Iraque também buscaram apoio do FMI.

Nem a Arábia Saudita está imune, tendo lançado uma série de medidas de austeridade no último trimestre, depois de seu déficit orçamentário ter triplicado para 109,2 bilhões de riais (US$ 29 bilhões).

As perspectivas para os petroestados mudaram drasticamente em relação há uma década. Os preços do petróleo negociavam perto de US$ 100 o barril, e consumidores estavam preocupados com a falta de suprimentos. Agora, a Opep precisa contar cada vez mais com a perspectiva de pico da demanda, quando o consumo começa a diminuir com a popularização da energia eólica e solar.

A Agência Internacional de Energia espera que esse ponto de inflexão na história do setor possa ocorrer em cerca de uma década. E a Covid-19 poderia acelerar o processo.

"A pandemia vai acelerar muitas das tecnologias e comportamentos que viriam de qualquer maneira", disse Amy Myers Jaffe, diretora-gerente do laboratório de política climática da Fletcher School of Law and Diplomacy da Universidade Tufts. Para os governos que dependem da venda de petróleo, as implicações podem ser graves.

©2020 Bloomberg L.P.

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