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Libaneses homenageiam vítimas e protestam contra o governo uma semana após catástrofe

11/08/2020 18h24

Beirute, 11 Ago 2020 (AFP) - Uma multidão, que chorava e expressava sua revolta, homenageou na tarde desta terça-feira as vítimas da explosão que devastou a capital libanesa há uma semana e prometeu derrubar toda a classe dirigente.

O governo do premier Hassan Diab renunciou ontem. Mas nas ruas, a população também pede a saída do chefe de Estado, do chefe do Parlamento e dos deputados, acusados de corrupção e incompetência e considerados responsáveis pela devastação na capital libanesa. "Todos quer dizer todos", clamam os manifestantes, sem cessar.

Às 18h08 locais, os sinos das igrejas foram ouvidos e os chamados à oração nas mesquitas tiveram início. A essa hora, Beirute foi sacudida no último dia 4 por uma dupla explosão no porto da capital, causada por um incêndio em um depósito que guardava, segundo autoridades, 2750 toneladas de nitrato de amônio.

A multidão, a maioria vestida de branco, reuniu-se na entrada do porto, devastado. A alguns quilômetros dali, perto da sede do Parlamento, houve confrontos pelo quarto dia consecutivo: dezenas de manifestantes lançaram petardos contra as forças de ordem, que responderam com gás lacrimogêneo.

- Quem tomará as rédeas do país? -

A renúncia do governo libanês abriu hoje uma fase de negociações e debates para determinar quem assumirá as rédeas de o país. Desde o outono de 2019, o Líbano tem sido palco de uma revolta popular sem precedentes, na qual milhares de libaneses saem às ruas para denunciar as dificuldades econômicas que só se agravam e uma classe política sem mudanças há décadas, acusada de corrupção e incompetência.

Para acalmar as ruas após a explosão, o governo do primeiro-ministro Hassan Diab renunciou na segunda-feira. Mas, exatamente uma semana após a tragédia do porto, os libaneses exigem que os responsáveis sejam levados à Justiça e sejam responsabilizados pela negligência do Estado.

"A república está desmoronando", foi a manchete do jornal L'Orient-Le Jour desta terça-feira. "O apocalipse de 4 de agosto foi a manifestação mais dura e severa do mau funcionamento das instituições e do aparato estatal", comentou o jornal em seu editorial.

Nomeado no final de janeiro, o governo de Diab consistia em um único campo político, o do movimento xiita Hezbollah e seus aliados. O governo cuidará dos assuntos correntes até que seu sucessor seja nomeado.

Diab era criticado há vários meses por sua incapacidade de responder à crise econômica, desvalorização histórica da libra libanesa, escassez de combustível e hiperinflação.

A grande questão continua sendo quem irá sucedê-lo, em um país acostumado a debates intermináveis entre forças políticas que passam meses negociando pastas antes de nomearem um governo.

Citando fontes políticas, o jornal "Al-Akhbar", próximo do Hezbollah, assegura que Washington, Riade e Paris estão pressionando pela nomeação do ex-embaixador Nawaf Salam como chefe de um "governo neutro". Este diplomata de grande experiência, que representou seu país na ONU, foi juiz da Corte Internacional de Justiça (CIJ).

A posição do influente Hezbollah e a de seu aliado, o presidente do Parlamento Nabih Berri, ainda não é conhecida, disse o jornal.

Os libaneses permanecem quase indiferentes aos debates políticos. Eles ainda estão nos bairros devastados de Beirute, limpando por conta própria os escombros, enquanto criticam a inércia das autoridades.

- Pão para duas semanas -O porto foi arrasado. Em um país mergulhado em uma severa crise econômica, a tragédia gerou insegurança alimentar.

Quase "85% dos alimentos do Líbano são importados e passam por este porto", disse David Beasley, diretor do Programa Mundial de Alimentos (PMA) na segunda-feira.

Ele falou do porto, onde um avião descarregava geradores, guindastes e elementos para fazer depósitos temporários.

O objetivo é restabelecer alguns serviços "em duas semanas" para garantir o abastecimento alimentar do país.

"No estado atual, os libaneses terão pão por apenas mais duas semanas, por isso é essencial lançar essas operações", disse Beasley.

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