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Como Kamala Harris reencontrou sua identidade política

11/08/2020 20h22

Por James Oliphant

WASHINGTON (Reuters) - Meses após sua campanha à Presidência dos Estados Unidos cair por terra com questões sobre sua identidade política, Kamala Harris encontrou, de repente e vigorosamente, sua voz --e em momento oportuno. 

Harris, uma senadora de 55 anos do Estado da Califórnia, foi escolhida pelo candidato presidencial democrata, Joe Biden, como companheira de chapa na terça-feira, fazendo história como a primeira mulher negra e asiática-americana em uma candidatura presidencial. 

Sua escolha não foi tão surpreendente. Com os Estados Unidos no meio de um processo de reconhecimento de sua história de injustiça racial, Biden era cada vez mais pressionado a escolher uma mulher negra para companheira de chapa.

Harris, que se tornou a segunda mulher negra do Senado em sua história quando foi eleita em 2016, sempre esteve no topo da lista.

Mas ela fez tudo menos manter um perfil discreto enquanto Biden se decidia. Em vez disso, Harris emergiu como uma defensora feroz das reformas policiais e da justiça social --no Senado, nas ruas, e na mídia, discutindo com republicanos no plenário do Senado e fazendo duras críticas ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. 

"Ela tem sido muito resoluta", disse Marc Morial, presidente da Liga Urbana Nacional, tradicional grupo de defesa de direitos civis e de luta por justiça social, que trabalhou com Harris em questões ligadas à reformas. "Ela tem a habilidade de enfrentar qualquer um." 

Para Harris, a ex-promotora e procuradora-geral do Estado da Califórnia que quebrou barreiras, o momento providenciou uma claridade de propósito que muitas vezes estava ausente em sua campanha presidencial fracassada. 

Após um início forte, a campanha de Harris naufragou diante de reviravoltas estratégicas. Primeiro se posicionou como uma progressista aos moldes de reformistas como os senadores Bernie Sanders e Elizabeth Warren, depois, Harris tentou se voltar para o centro. Seu posicionamento sobre o sistema de saúde, por exemplo, se tornou uma miscelânea de propostas. Ela desistiu da corrida em dezembro, antes que qualquer voto fosse dado nas eleições primárias do partido democrata. 

"Ela estava tentando jogar no meio um pouco, e tentando ser de tudo para todas as pessoas", disse Joel Payne, um estrategista democrata que trabalhou na campanha de Hillary Clinton em 2016. 

Agora, segundo Payne, "Há mais uma voz mais definida. Há uma clareza maior em sua persona pública." 

Seu passado como agente da lei já foi visto como uma vulnerabilidade no início da corrida pela indicação do partido. Mas seu posicionamento recente tem impressionado alguns céticos, que dizem que ela não fez o bastante para investigar mortes causadas por policiais ou que muita vezes ela ficou ao lado de procuradores em casos de condenação injusta no passado. 

Nos dias após a morte de George Floyd nas mãos de policiais em Mineápolis em maio, incidente que provocou uma discussão nacional sobre injustiça racial, Harris se juntou aos manifestantes nas ruas de Washington. 

No Capitólio, ela, ao lado do senador Cory Booker, um afro-americano que também foi pré-candidato à Presidência, liderou a iniciativa dos democratas para combater os abusos policiais além do combate a uma proposta alternativa dos republicanos para a reforma policial, classificada por ela como "meras palavras".

Seus esforços receberam um importante reconhecimento no início de agosto, quando Ben Crump, o advogado da família de Floyd, publicou um artigo de opinião apoiando sua candidatura.

“O caso para mim é simples: ela tem sido uma agente de mudança em todos os níveis do governo --local, estadual e federal-- por 30 anos”, escreveu Crump no momento em que definição pela candidatura a vice na chapa de Biden entrava em seu estágio final.

Enquanto defendia publicamente a justiça social, Harris também trabalhava para fortalecer seu relacionamento com Biden. Os dois são amigos há muito tempo por causa da amizade de Harris com Beau Biden, filho de Biden, que serviu como procurador-geral de Delaware e trabalhou com Harris quando ela ocupou o mesmo cargo em seu Estado.

"Na época em que Kamala era procuradora-geral, ela trabalhava em estreita colaboração com Beau. Eu pude acompanhar quando eles atacavam os grandes bancos, levantavam os trabalhadores e protegiam mulheres e crianças de abusos", escreveu o candidato democrata no Twitter na terça-feira.

"Eu estava orgulhoso na época e agora estou orgulhoso de tê-la como minha parceira nesta campanha", acrescentou.

Mas o relacionamento de Harris com Joe Biden foi duramente testado no ano passado, quando em um debate democrata ela atacou Biden por causa de sua antiga posição sobre ônibus obrigatório para alunos de escolas públicas. A esposa de Biden, Jill, disse mais tarde que viu o ataque como um "soco no estômago", enquanto alguns assessores de Biden o consideraram oportunista.

Desde que ela anunciou seu apoio a Biden em março, Harris se tornou uma defensora ferrenha de sua candidatura e uma arrecadadora de fundos eficaz em seu nome. Biden disse a repórteres em agosto que deixou o debate para trás. "Eu não guardo rancor", disse ele.

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