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GO: Polícia descarta participação de padrasto em morte de criança de 7 anos

Danilo de Sousa Silva - arquivo pessoal
Danilo de Sousa Silva Imagem: arquivo pessoal
do UOL

Galtiery Rodrigues

Colaboração para o UOL, em Goiânia

10/08/2020 21h14

A Polícia Civil de Goiás descartou a participação do padrasto no assassinato do menino Danilo de Sousa Silva, de 7 anos, que morreu afogado na lama em uma mata a 100 metros da casa onde ele morava, em Goiânia. A conclusão do inquérito indicou uma reviravolta no caso, anunciada hoje pelos delegados. Somente o outro suspeito, o ajudante de pedreiro Hian Alves de Oliveira, de 18 anos, vizinho da família do garoto, foi indiciado por ocultação de cadáver e homicídio duplamente qualificado.

O padrasto da criança, Reginaldo Lima Santos, de 33 anos, foi preso no dia 31 de julho, suspeito de ter matado o enteado, com a ajuda de Oliveira. De acordo com a polícia, o ajudante de pedreiro disse, a princípio, que foi procurado por Santos para ajudá-lo na morte do menino, em troca de uma moto e um carro. O padrasto chegou algemado à DIH (Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios) no dia, dizendo-se inocente e que tudo se tratava de uma armação.

Hoje, o delegado responsável pela investigação, Ernane Cázer, anunciou a mudança de versão apresentada por Oliveira. Segundo o investigador, o rapaz assumiu sozinho a autoria do crime, livrando Santos da participação. Os resultados dos laudos feitos pela perícia da Polícia Técnico-Científica e as diligências realizadas, nos últimos dias, corroboram os detalhes e as informações reveladas por ele, segundo o delegado titular da DIH, Rilmo Braga.

Oliveira teria premeditado o crime e planejado a ação por cerca de cinco dias, segundo Braga. O motivo estaria relacionado às desavenças constantes dele com Santos, por questões diversas. Além da vingança, outro elemento foi o sentimento de ciúmes que o rapaz começou a cultivar, ao se incomodar com a aproximação da família do rival com o pastor que o adotou e dono da casa onde ele morava. Conhecido no bairro, o pastor teria dado até ajudas financeiras para a família de Santos.

"Pelo passado e histórico do padrasto, o Hian [Oliveira] acreditava que, matando o Danilo, o crime seria, inegavelmente, imputado a ele", conta Braga. Santos é acusado e responde a processo na Justiça por tentativa de feminicídio contra a esposa, mãe do garoto. Em 2018, ele deu uma facada nela, quando ela estava grávida de oito meses, após uma discussão. "Em princípio, em que pese todo o passado criminoso do Reginaldo [Santos], não pesa em desfavor dele nenhuma suspeita de cometimento do delito atual", pondera o delegado.

Até a noite de hoje, Santos continuava preso, aguardando o alvará de soltura. O UOL não conseguiu localizar o advogado que o representa. Segundo agentes da DIH, o padrasto não chegou a constituir defesa.

Suspeito teria usado pipa para atrair criança

Danilo desapareceu no dia 21 de julho, e o corpo foi encontrado pela polícia uma semana depois, já em estado de decomposição, em um lamaçal numa mata próxima a casa dele no Parque Santa Rita, bairro da periferia de Goiânia. Ele sofreu agressões, mas os laudos da perícia concluíram que ele morreu asfixiado, ao inalar a água e a lama do local.

Para atrair a criança para o matagal, segundo a investigação, Oliveira teria usado o argumento de que iriam buscar uma pipa que tinha acabado de cair. De fato, uma pipa foi encontrada ao lado do corpo de Danilo no dia em que ele foi localizado. Além disso, uma criança do bairro contou para a polícia, dias depois, que viu os dois nas proximidades da mata, no dia do desaparecimento.

Nos interrogatórios, segundo a polícia, ainda na tentativa de culpar o padrasto, Oliveira revelou que um pedaço de pau teria sido utilizado para matar o menino. No dia 3 de agosto, o rapaz levou os agentes até o local onde a arma do crime teria sido escondida: nos fundos de uma obra onde ele estava trabalhando, antes de ser preso. As características do pau encontrado correspondem aos ferimentos causados no corpo de Danilo, conforme o resultado da perícia.

O advogado de Oliveira, o criminalista Gilles Gomes, recebeu com surpresa a conclusão do inquérito hoje, pois, segundo ele, era esperada a realização de uma nova reconstituição do caso. Na semana passada, uma reprodução simulada do crime, com a participação de Oliveira, foi interrompida, após o advogado conseguir uma liminar na Justiça.

Gomes solicitou aos delegados que o cliente fosse ouvido novamente, mas na presença do advogado, já que sete interrogatórios foram feitos, segundo ele, sem a presença de um defensor. "A gente solicitou, mas o pedido sequer foi atendido", diz. De acordo com ele, um dos motivos para o pedido é o fato de Oliveira declarar-se inocente e capaz de detalhar onde ele estava, com quem ele estava, no dia do desaparecimento do menino, e indicar pessoas que poderiam ser ouvidas para confirmar.

"Temos informações testemunhais que narram o exato momento que a vítima foi convidada (por Hian) para ir ao mato buscar a pipa", contrapõe o delegado Braga. O inquérito foi concluído e remetido ao Ministério Público de Goiás (MP/GO) ontem (9). A denúncia deve ser oferecida à Justiça até sexta-feira (14). Gomes diz que vai aguardar a posição do juiz, diante do caso, se vai ou não aceitar a denúncia, antes de tomar as próximas medidas.

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