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Gigante das fintechs, Nubank nasce de frustração de colombiano com burocracia

10/08/2020 18h39

São Paulo, 10 ago (EFE).- Frustrado com os obstáculos para abrir uma conta bancária no Brasil, o empreendedor colombiano David Vélez decidiu, em 2013, fundar o primeiro banco exclusivamente digital do país, o Nubank.

Com sete anos de vida, a instituição já é um dos principais bancos do mundo nesta categoria, com 26 milhões de clientes e avaliado em mais de US$ 1 bilhão, marca que alcançou em 2018.

Vélez, de 38 anos, nasceu em Medellín, na Colômbia, e que mora São Paulo, desafiou o mercado bancário brasileiro, um dos mais concentrados do mundo, e agora pretende expandir as operações do banco para o México, país que, segundo ele, tem muitas semelhanças com o Brasil.

Em entrevista exclusiva à Agência Efe, o CEO e cofundador do Nubank destacou que não tem intenção de vender ou abrir o capital do banco. Vélez conta que a estratégia é crescer mais no segmento de cartões de crédito e empréstimos pessoais.

Com o avanço acelerado da digitalização no Brasil, a meta da fintech, de acordo com ele, é ampliar o número de clientes para além dos hiperconectados "millenials" (nascidos entre 1981 e 1996).

O Nubank, que além de Vélez também tem como fundadores a brasileira Cristina Junqueira e o americano Edward Wible, é uma das primeiras 'startups unicórnio' na América Latina (ou seja, avaliada em ao menos US$ 1 bilhão).

Atualmente, o banco digital tem 2.700 funcionários em mais de 30 países, com escritórios em São Paulo, Cidade do México, Buenos Aires e Berlim.

Confira a entrevista:.

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Agência Efe: Como surgiu a ideia para a criação do Nubank?

David Vélez: Venho de uma família de empreendedores na Colômbia e cresci ouvindo dentro de casa que esse era o caminho a seguir. Fui trabalhar em São Paulo (na empresa de capital de risco Sequoia). Como se sabe, qualquer recém-chegado no Brasil precisa abrir uma conta em um banco, e tive uma experiência bastante frustrante e onerosa na hora de abrir uma conta. Tive que ir a várias agências bancárias, passar por uma porta blindada com vários seguranças armados, como se fosse um criminoso. Se passaram três ou quatro meses até que pude abrir uma conta que me custava centenas de reais ao ano. Eu a abri no HSBC. Foi tão doloroso que comecei a pensar como seria possível que os consumidores bancários estivessem passando por esse tipo de experiência. E, no meu caso, era uma experiência "prime", porque eu estava na (avenida Brigadeiro) Faria Lima, centro financeiro do Brasil. Ficava pensando como seria a experiência dos outros 90% da população, das pessoas bancarizadas e que não têm acesso aos bancos. Cheguei à conclusão de que havia uma grande oportunidade para criar um novo banco digital, dada a vantagem que se estava tendo em 2012 e 2013 com a penetração da internet e de smartphones (no Brasil).

Efe: O Nubank tem 26 milhões de clientes, 25 milhões deles no Brasil. Algum dos cinco grandes bancos do Brasil (Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Itaú, Bradesco e Santander) já tentou comprar o Nubank?

Vélez: Digamos que conversamos. Temos boas relações com todos os grandes bancos, mas desde o princípio fomos muito claros que a intenção era criar uma empresa a longo prazo, e não para ser vendida em cinco ou seis anos. Vemos um mercado dominado por cinco grandes bancos, que são donos de 90% dos empréstimos, dos depósitos, dos financiamentos, dos empréstimos universitários, e o que queremos é mudar esse mercado para oferecer uma melhor experiência para os consumidores.

Efe: Atualmente, qual é o perfil do cliente do Nubank?

Vélez: Hoje, nossa média de idade (de clientes) é de 32 anos. Já evoluímos e chegamos a outros tipos de clientes. Temos nas faixas de 40, 50, 60 e 70 anos. Especialmente durante a pandemia, vimos aceleração dos segmentos acima de 60 anos.

Efe: Quais são as apostas de produtos bancários do Nubank no Brasil?

Vélez: Crescemos muito, temos cerca de 26 milhões de clientes, mas quando falamos em percentual de números de contas digitais, cartões de crédito, por exemplo, somos muito pequenos. Por exemplo, em cartão de crédito temos 9% do mercado, e em empréstimos pessoais temos menos de 1%. Por outro lado, lançamos um produto para contas de pequenas empresas no ano passado que cresceu muito. Temos quase 250 mil empresas como clientes. Também é uma prioridade a internacionalização, estamos crescendo bem no México, e queremos continuar acelerando.

Efe: E por que no México?

Vélez: Porque há muitas semelhanças com o Brasil. Está também dominado por um oligopólio bancário. Faltam concorrência, alternativas, os preços estão acima do que deveriam, e isso cria uma experiência ruim para o consumidor. No México, há uma penetração de 10% em cartões de crédito, ou seja, baixíssima, e no Brasil, de 60%. Desbancarizados (pessoas sem conta em banco), há 40% no México, e 30% no Brasil. Por outro lado, vemos uma população muito jovem. Metade da população do Brasil tem menos de 31 anos, e no México metade tem menos de 24. São populações muito jovens e conectadas. Brasil e México estão entre os cinco do mundo em números de usuários de Whatsapp, Twitter, Uber, Netflix.

Efe: Há intenção da empresa em lançar ações na bolsa?

Vélez: Provavelmente sim, em algum momento vamos abrir o capital, mas não a curto prazo, porque não é uma prioridade da empresa.

Efe: No caso de abrir capital, seria na bolsa de São Paulo?

Vélez: Pode ser em São Paulo ou Estados Unidos. Muitas empresas brasileiras de tecnologia estrearam nos EUA, porque no país há um mercado de investidores de tecnologia que entendem melhor as empresas desse segmento.

Antonio Torres del Cerro

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