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Queda de juros faz investimento em renda fixa ficar pior ainda; que fazer?

do UOL

João José Oliveira

do UOL, em São Paulo

05/08/2020 18h41Atualizada em 06/08/2020 17h46

Resumo da notícia

  • Banco Central corta taxa básica de juros para 2% ao ano, nova mínima histórica
  • Quinta redução apenas em 2020 deixa menos atraentes aplicações como poupança e Tesouro Selic
  • Fluxo de recursos para Bolsa deve ganhar força, dizem profissionais de mercado

O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central cortou a taxa básica de juros (Selic) para 2% ao ano, menor patamar desde o início da série histórica, em 1996. Esse novo corte deixou as aplicações conservadoras em renda fixa —como poupança, Tesouro Selic e Fundos DI— ainda menos atraentes como alternativas de longo prazo.

Em busca de rendimentos mais interessantes, aplicadores devem ampliar a migração de recursos para produtos de renda variável, como ações, fundos de ações e fundos imobiliários, dizem profissionais de mercado, ainda que essas opções representem maior risco, em especial em um ano marcado por pandemia e crise.

Produtos de renda fixa em baixa; veja simulações

Produtos que acompanham a Selic ou seguem o CDI, que tem relação com a taxa básica de juros, terão uma variação ainda mais desvantajosa em relação à inflação.

Veja abaixo alguns exemplos, considerando uma aplicação para saque feito após 360 dias de investimento. Nesses casos, investimentos que pagam imposto são taxados em 17,5% sobre o rendimento. Para medir se há algum ganho real, ou seja, acima da inflação, consideramos o IPCA projetado pelo mercado no Boletim Focus do Bancos Central para 2021, que é de 3%. Então, para cada R$ 1.000 aplicados, a inflação deve corroer R$ 30.

Tesouro Selic

  • Valor aplicado: R$ 1.000
  • Rendimento bruto: R$ 20
  • Rendimento líquido: R$ 16,50 (desconta R$ 3,50 de Imposto)
  • Ganho real: perda de R$ 13,50 (desconta inflação)

Fundo DI (com taxa de administração de 0,5%)

  • Valor aplicado: R$ 1.000
  • Rendimento bruto: R$ 20
  • Rendimento líquido: R$ 12,35 (desconta imposto e taxa de administração)
  • Ganho real: perda de R$ 17,65 (desconta inflação)

Poupança nova

  • Valor aplicado: R$ 1.000
  • Rendimento bruto: R$ 14 (70% da Selic)
  • Rendimento líquido: R$ 14 (não paga imposto)
  • Ganho real: perda de R$ 16

Poupança antiga

Quem tem dinheiro aplicado nas chamadas cadernetas antigas, aquelas que seguem as regras válidas até 2012, vai receber um rendimento maior, de 0,6% ao mês mais TR (que está em zero). Então, nessas aplicações, o rendimento anual é de aproximadamente 6% ao ano, dando a cada R$ 1.000 aplicados um ganho de R$ 60, ou seja, o dobro da inflação projetada para 2021.

O problema dessas aplicações é que elas não podem mais receber depósitos. Apenas saques são permitidos. Por isso, quem tem dinheiro aplicado aqui deve preservar ao máximo porque o ganho proporcionado é hoje imbatível.

Produtos servem como reserva de emergência

Essas simulações mostram que os produtos tradicionais de renda fixa, considerados de menor risco, estão cada vez mais incapazes sequer de seguir a inflação. Ainda assim, devem funcionar como alternativas de reserva de emergência, dizem profissionais financeiros.

A renda fixa continua tendo seu papel para compor aquela parte dos investimentos que precisam estar disponível para cobrir imprevistos. A maior finalidade dessas aplicações não é a rentabilidade, mas representar um dinheiro que esteja disponível, com menor risco possível, seja de calote, seja de oscilação.
William Castro Alves, estrategista-chefe da Avenue Securities

Bolsa e alguns fundos são opção

Para profissionais de mercado, os investidores precisam diversificar as aplicações se o objetivo do investimento for de longo prazo, com um horizonte superior a cinco anos, pelo menos.

Para o executivo da Integral Investimentos, Mauro Rached, o novo corte mostra, de um lado, que a economia está pior, e por isso precisa de mais esse estímulo. Por outro lado, a Selic mais baixa sinaliza que os juros devem demorar mais para voltar a subir —o que é positivo para quem pretende aumentar posições em aplicações de risco.

Muito provavelmente, a tendência da maioria dos investidores de pequeno porte na Bolsa é olhar esse corte de juros pela vertente altista dessa medida.
Mauro Rached, executivo da Integral Investimentos

Segundo dados da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais representa as instituições do mercado de capitais brasileiro), os fundos de ações e fundos multimercados apresentam este ano até o dia 4 de agosto, uma captação líquida —ou seja, novas aplicações menos as retiradas— de R$ 55,5 bilhões e R$ 56 bilhões, respectivamente. Na contramão, os fundos de renda fixa registram saques líquidos acumulados de R$ 50 bilhões no mesmo período.

"Estamos vendo já há algum tempo o número percentual de pessoas físicas subir muito na Bolsa, mas ainda é um número muito baixo, de 1,1% da população brasileira que investe dinheiro em Bolsa. Nos Estados Unidos, para comparar, esse percentual é de cerca de 50% da população", disse o sócio da Acqua Investimentos, Bruno Musa.

Foco no longo prazo

Os profissionais de mercado destacam que Bolsa e outros produtos de renda variável, como fundos imobiliários ou fundos multimercados, devem ser vistos como aplicações de longo prazo porque sempre podem apresentar oscilações e perdas no curto prazo.

De fato, em 2020, até o fim de julho, por exemplo, o Ibovespa, principal indicador acionário do país, apresentavam perda de 11%. E para zerar essas perdas, o indicador teria que subir mais 13% até dezembro.

Mas os mesmos especialistas lembram que o Ibovespa vem de quatro anos seguidos de ganhos: 38,9% em 2016, mais 26,9% em 2017, depois 15% em 2018, e ainda 32% em 2019.

Acredito numa migração de recursos maior para fundos multimercado, fundos imobiliários e fundos de ações na busca por retornos maiores. O brasileiro também está começando a diversificar seus recursos por país, então os fundos internacionais ganham cada vez mais apelo.
Gustavo Cruz, estrategista da plataforma RB Investimentos

O chefe de alocação da XP Investimentos, Felipe Dexheimer, traçou diferentes cenários para a economia nos próximos cinco anos, para estimar quanto a Bolsa pode render, na média por ano, ao investidor. "Esperamos um retorno próximo de 10% ao ano para o investidor, comparado a uma inflação de 3% e um CDI de 4% ao ano", disse.

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