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Congresso do Peru nega confiança ao premiê e desata crise política

Pedro Cateriano - Cris Bouroncle/AFP
Pedro Cateriano Imagem: Cris Bouroncle/AFP

04/08/2020 19h09

Lima, 4 Ago 2020 (AFP) - O Peru mergulhou em uma inesperada crise política nesta terça-feira (4) em meio a uma grave emergência de saúde devido à pandemia, depois de o Congresso negar um voto de confiança ao novo presidente do Conselho de Ministros, Pedro Cateriano, que o obriga a demitir todo o gabinete.

"A moção de confiança solicitada não foi aprovada, o resultado é 37 votos a favor, 54 contra e 34 abstenções", anunciou o presidente do Congresso, Manuel Merino, após uma sessão parlamentar de mais de 20 horas, que começou na segunda-feira.

Merino indicou que "a decisão será comunicada ao Presidente da República", Martín Vizcarra, que deve formar um novo gabinete ministerial, o quinto em seus dois anos e quatro meses no poder, sem Cateriano.

Cateriano precisava de 66 votos, de um total de 130, para ratificar seu gabinete pelo Congresso, que é controlado por uma aliança heterogênea de quatro partidos populistas de centro-direita e esquerda.

A rejeição força Cateriano e os outros 18 ministros do gabinete, nomeados por Vizcarra em 15 de julho, a renunciarem.

A votação foi uma dura derrota política para Vizcarra, que governa sozinho desde março de 2018, pois não possui partido nem bancada própria no parlamento, apesar de seus altos índices de aprovação na população, segundo pesquisas.

O atual presidente assumiu o poder após a renúncia de Pedro Pablo Kuckzynski (2016-2018), de quem foi o primeiro vice-presidente.

A crise obriga Vizcarra a designar um novo presidente do Conselho de Ministros nas próximas 72 horas e a reformar seu gabinete, sem a presença de Cateriano.

"Aceito a decisão que o Congresso tomou hoje. Consequentemente, formarei um novo gabinete dentro do prazo determinado por lei", disse Vizcarra em mensagem ao país.

Em seu discurso, o presidente denunciou "o cálculo político" do Congresso, que não busca o bem-estar da população, mas privilegia interesses privados, aludindo à demanda de retroceder na reforma da universidade.

Vizcarra esperava o apoio do Congresso em meio à pandemia, afirmando que "a luta contra a COVID-19 não é assunto para poucos, é uma causa que deve nos unir a todos".

Panorama complicado

"A situação é bastante complicada porque envolve uma mudança na equipe que lida com a pandemia, no momento em que afeta a saúde e a economia, com quatro milhões de desempregados", disse à AFP o analista Augusto Álvarez Rodrich.

O parlamento "não vê a magnitude da crise, porque existem grupos que fazem negócios privados no Congresso", acrescentou.

O atual Congresso assumiu suas funções em março passado, depois de realizar eleições extraordinárias em janeiro para substituir a legislativa que Vizcarra dissolveu constitucionalmente em 30 de setembro de 2019 para encerrar reiterados choques de poderes.

A crise estoura no momento em que o Peru enfrenta a pandemia de coronavírus, com um aumento de infecções e mortes, um mês depois que um gradual desconfinamento começa a reativar a economia debilitada, mesmo sendo uma das mais dinâmicas da América Latina antes da emergência sanitária.

"Foi algo incomum, um gabinete que começa não receber voto de confiança, em meio à pior crise do Peru devido à pandemia", avaliou o analista Fernando Rospigliosi ao canal de televisão N.

O país andino, com 33 milhões de habitantes, ultrapassa os 433.000 casos e se aproxima de 20.000 mortes da nova pandemia de coronavírus.

O Peru é o segundo país terceiro com mais número de casos e mortes na América Latina em casos e mortes, atrás do Brasil e do México.

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