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O muçulmano eleito presidente do país sul-americano que mais deve crescer no mundo neste ano

Ali foi parlamentar e ministro antes de chegar à presidência - Getty Images
Ali foi parlamentar e ministro antes de chegar à presidência Imagem: Getty Images

03/08/2020 10h18

Foram necessários cinco meses para que Irfaan Ali fosse declarado presidente da Guiana.

O político de 40 anos, nascido em uma família muçulmana com ascendência indiana, foi declarado neste domingo o vencedor do pleito de 2 de março pela Comissão Eleitoral do país sul-americano. Poucas horas depois, ele fez o juramento para assumir o cargo.

Ele governará a economia que registra a maior taxa de crescimento do mundo (86%), segundo o Fundo Monetário Internacional. Esse ritmo é 14 vezes maior do que o da China.

O Banco Mundial reforça a previsão do FMI e também aponta a Guiana, cuja população é de 800 mil pessoas, como um dos países com maior crescimento econômico este ano.

A chegada de Irfaan Ali ao posto de presidente foi controversa e despertou alertas de organismos internacionais.

Ele foi candidato da sigla de oposição, o Partido Progressista do Povo, e disputou o cargo contra o presidente anterior, David Granger, da chapa Unidade Nacional + Aliança para Mudança.

O resultado da eleição foi tão apertado que a frente vencedora ficou com 33 vagas no Congresso e a coalizão que tirou segundo lugar teve 31 vagas.

Em um dos relatórios do comitê eleitoral da Guiana, um dos diretores diz que "não acredita que o resultado reflita a vontade dos cidadãos", já que, segundo ele, teria havido irregularidades na recontagem dos votos.

Ainda assim, a entidade validou os resultados e declarou os vencedores.

As eleições da Guiana foram tão próximas que o país precisou de cinco meses para declarar um vencedor - Getty Images - Getty Images
As eleições da Guiana foram tão próximas que o país precisou de cinco meses para declarar um vencedor
Imagem: Getty Images

Nos meses anteriores, o partido de Ali apresentou uma série de recursos, já que em um primeiro momento o seu rival havia sido declarado o vencedor. Mas Ali conseguiu a recontagem dos votos.

Os dois partidos bateram recordes de recursos jurídicos, ambos denunciando um ao outro por fraude.

O presidente

Mohamed Irfaan Ali nasceu em Leonora, um vilarejo dentro de uma das ilhas que são parte do território da Guiana.

Ele tem um doutorado em planejamento urbano e foi parlamentar entre 2006 e 2015.

Também chegou a ser ministro em duas oportunidades.

Durante o seu mandato como ministro de Moradias ele implementou a campanha de doações mais extensa da história do país, respaldada pela distribuição massiva de lotes a cidadãos de vários estratos da sociedade e de diferentes regiões geográficas.

Durante sua experiência parlamentar, ele presidiu um dos comitês mais importantes, o de Contas Públicas.

Ele é membro do PPP há mais de 20 anos, tendo começado sua militância no braço juvenil do partido.

Também trabalhou como coordenador no Banco de Desenvolvimento do Caribe.

O novo presidente tem 40 anos - Getty Images - Getty Images
O novo presidente tem 40 anos
Imagem: Getty Images

Nas eleições de março, Ali propôs programas para aliviar setores econômicos mais desfavorecidos, além de ajuda para a comunidade empresarial.

Entre as políticas planejadas está a eliminação do Imposto de Valor Agregado (IVA) em áreas-chave como eletricidade, água e atendimento médico.

País descolado

A Guiana descobriu que tem riqueza petrolífera há cinco anos e em 2020 começou a exportar petróleo bruto.

As reservas não são tão vastas quanto as de grandes produtores mundiais.

Mas são suficientes para que haja um crescimento sem precedentes na sua história.

"Eventualmente poderia se chegar a algo entre 700 mil e um milhão de barris de petróleo por dia", disse Marcelo de Assis, especialista da consultoria internacional Wood Mackenzie.

Isso é o equivalente a todas as exportações da Colômbia, por exemplo. Mas se o valor é dividido por habitante, começa-se a entender o tamanho do impacto dessas receitas na economia. A Colômbia tem uma população 50 vezes maior do que a da Guiana.

Uma reportagem da rede americana CNBC estimou que a Guiana pode se transformar no país com o maior número de barris de petróleo per capita.

E segue em andamento uma disputa entre a Guiana e a Venezuela pela região de Esséquibo. A polêmica esteve presente nas eleições de março.

A região é rica em minérios e florestas. Atualmente é administrada pela Guiana, mas a Venezuela reivindica partes da região.

Trata-se de um território de quase 160 mil quilômetros quadrados a oeste do rio Esséquibo, ou quase dois terços da Guiana, cuja área total é de 214 mil quilômetros quadrados.

Nos mapas da Venezuela, a região aparece como parte do país. Em raras ocasiões, ela é apresentada como território em disputa.

Em 2018, o governo da Guiana fez uma solicitação à Corte Internacional de Justiça de Haia para que se resolva o conflito territorial que já dura 54 anos.

Essa é a controvérsia internacional mais importante que Ali terá de enfrentar em seu mandato.

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