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Estudo suíço mostra que mediação externa pode ser solução em brigas de casal

03/08/2020 13h18

Estudo feito por universidade suíça demonstra pela primeira vez as vantagens da mediação nas discussões de casais e identifica os efeitos no cérebro.

Valéria Maniero, correspondente da RFI na Suíça

O ditado foi atualizado e agora já se diz que em briga de marido e mulher devemos, sim, meter a colher. Mas não é só isso: um estudo da Universidade de Genebra (Unige) mostra que nossos neurônios apreciam a mediação de uma terceira pessoa durante as discussões de casais. A intervenção de terceiros tem impactos positivos no desfecho dos conflitos e também está associada ao aumento da atividade em regiões-chave do cérebro pertencentes ao circuito de recompensa. Essa é a principal conclusão da pesquisa da qual fizeram parte duas cientistas Unige, publicado na revista internacional Cortex.

"O experimento consistiu em fornecer questionários comportamentais aos casais e submetê-los à ressonância magnética funcional (fMRI) antes e após uma sessão na qual os dois parceiros discutem. Os casais que receberam mediação ativa relataram maior satisfação no final do conflito do que os casais não mediados", diz o comunicado da Universidade de Genebra.

Um aumento da ativação na região-chave no circuito de recompensa também foi identificado no grupo de mediação em comparação ao outro grupo. "É a primeira vez que um estudo controlado e randomizado consegue demonstrar as vantagens da mediação para conflitos de casais e identificar uma assinatura biológica relacionada", informa a Unige.

As fontes de conflitos

Para conduzir esse experimento, os membros da equipe de Olga Klimecki, pesquisadora sênior e professora do Centro Suíço para Ciências Afetivas ligado à Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Unige, inscreveram 36 casais (heterossexuais, monogâmicos e juntos há pelo menos um ano). Antes de chegarem à Unige, os participantes tiveram que escolher em uma lista de 15 assuntos (sogros, sexualidade, finanças, tarefas domésticas, tempo passado juntos, etc.) aqueles que geravam conflitos com mais frequência com o companheiro. Os participantes foram, então, convidados a iniciar uma discussão sobre um desses temas. Alguns dos casais escolheram um tópico marcado pelos dois; outros preferiram começar por um assunto que somente um deles considerava fonte de conflito.

"Os primeiros dez minutos eram, geralmente, um pouco embaraçosos, mas as coisas então começavam a fluir com uma naturalidade impressionante e inevitavelmente terminavam em conflito", explicou Halima Rafi, doutoranda na Faculdade de Psicologia da Unige e uma das pesquisadoras da equipe.

A sessão, que durou uma hora, foi acompanhada por um mediador profissional que mediou a disputa em metade dos casos. Na outra metade, ele permaneceu completamente passivo. Os participantes preencheram um questionário comportamental antes e depois da discussão para medir o estado emocional deles.

Segundo o comunicado da Unige, os dados dos questionários indicaram que o casal que teve uma terceira pessoa fazendo a mediação - ou seja, foi beneficiado por uma mediação ativa - foi melhor na resolução de conflitos, ficando também mais satisfeito com o conteúdo e o progresso da discussão.

Olga Klimecki, que coordenou o estudo, conversou com a RFI e dá mais detalhes sobre os resultados da pesquisa.

RFI - Agora sabemos que quando os casais discutem, a mediação de terceiros melhora o resultado do confronto. Levando isso em conta, como esse estudo pode ajudar as pessoas em suas vidas diárias nos relacionamentos com seus parceiros?

Olga - Nossos resultados podem ser um incentivo para que os casais busquem mediação desde o início, quando surgem problemas, a fim de aumentar os níveis de satisfação em relação a tópicos conflitantes e a fim de manter as ativações neurais relacionadas ao amor e à recompensa, apesar do conflito.

RFI - O que os casais podem aprender com esse estudo? Que lições os casais podem tirar dele?

Discutir de forma mais construtiva possível, o que pode ser ajudado por um mediador de maneira significativa. A mensagem que fica é: se os conflitos sobre certos tópicos persistirem, é aconselhável procurar um mediador o quanto antes.

RFI - A que tipo de medição você se refere? Um terapeuta? Ela também poderia ser feita por um amigo?

Nós tínhamos mediadores profissionais, que foram moderando de maneira facilitadora. Em outras palavras: eles não disseram aos casais o que estava errado ou certo ou como a solução deveria ser, mas facilitaram a discussão para ajudar os casais a chegar a uma solução que fosse melhor para eles.

É claro que amigos e terapeutas podem ajudar, mas este não era o tópico desse estudo, por isso é difícil saber como isso se compararia aos nossos resultados. O que nós sabemos é que, quando há problemas persistentes, uma pessoa neutra, de fora, pode ser melhor que os amigos, porque não há relação em jogo e a terceira pessoa (terapeuta ou mediador) é treinada na área.

RFI - No comunicado, vocês dizem que os "resultados sugerem, pela primeira vez, que a mediação de terceiros tem um impacto significativo e positivo na maneira como os casais discutem, tanto comportamental quanto neuralmente". Vocês também dizem que gostariam de continuar a pesquisa e ver, por exemplo, se nós podemos medir efeitos similares em conflitos de diferentes tipos e não necessarimente relacionados ao amor". Quais outros tipos de conflitos seriam esses?

Eu estava pensando também em conflitos dentro de empresas ou entre diferentes grupos, sejam eles grupos culturais ou raciais (contexto do "Black Lives Matter"), entre países ou outros.

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