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Bolsonaro troca derrotas por cloroquina e falas "para dentro" do governo

Jair Bolsonaro segura caixa de cloroquina do lado de fora do Palácio da Alvorada - REUTERS/Adriano Machado
Jair Bolsonaro segura caixa de cloroquina do lado de fora do Palácio da Alvorada Imagem: REUTERS/Adriano Machado
do UOL

Guilherme Mazieiro e Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

03/08/2020 04h00Atualizada em 03/08/2020 13h26

Resumo da notícia

  • Após onda de derrotas no STF e prisão de Queiroz, Bolsonaro evita polêmicas e foca em cloroquina
  • As críticas à imprensa e a lideranças políticas deram espaço ao medicamento sem eficácia científica contra a covid-19
  • O remédio aparece em lives, eventos públicos e foi oferecido até às emas do Alvorada
  • Para aliados, a versão light de Bolsonaro, alinhada ao centrão, melhora o ambiente político

Além do recolhimento imposto pela covid-19, derrotas no STF (Supremo Tribunal Federal) e a prisão de Fabrício Queiroz levaram Jair Bolsonaro (sem partido) a reduzir o tom. As declarações fortes e ataques do presidente se converteram em propaganda da cloroquina, apresentada por ele em aparições públicas e defendida por seus apoiadores.

O medicamento, sem eficácia científica comprovada, aparece nas lives do presidente, e é oferecido para seus apoiadores e até para as emas do Alvorada. Entre aliados do presidente, o entendimento é o de que a estratégia melhorou o ambiente político e permitiu abertura para retomar a agenda positiva do governo.

Com as caixas de remédio nas mãos, o presidente abandonou os ataques à imprensa, ao Judiciário e às lideranças políticas. Essa versão pragmática de Bolsonaro já dá indícios de que pode diminuir a animosidade no Congresso e começa a criar condições para avançar no projeto Renda Brasil — nova roupagem para o Bolsa Família.

O único aceno público feito pelo presidente a seus aliados, nas últimas semanas, foi pedir para a AGU (Advocacia-Geral da União) acionar o STF em prol de empresários bolsonaristas. Os apoiadores tiveram perfis derrubados em redes sociais por decisão do ministro Alexandre de Moraes.

Dentro do governo há a percepção de que Bolsonaro voltou a atenção para as pastas que não têm polêmicas e são elogiadas no mundo político. O destaque está em ministérios como o da Infraestrutura, sob Tarcisio Gomes de Freitas, e Desenvolvimento Regional, sob Rogério Marinho.

Foi ao lado de Marinho que Bolsonaro fez sua primeira viagem após a recuperação do coronavírus na última quinta (30). Ele aproveitou para fazer selfie com o líder do centrão, Ciro Nogueira (PP-PI), no Nordeste.

O movimento político de Bolsonaro abriu espaço para acomodar os aliados do centrão. Entre os aliados ideológicos, demitiu o ex-ministro da Educação Abraham Weintruab e tirou cargos de aliados como Bia Kicis (PSL-DF).

No entendimento do líder do governo no Congresso, Eduardo Gomes (MDB-TO), o presidente passou a "falar para dentro" do governo.

"Não tem obrigação de falar o dia todo para fora. O que está ficando claro é que o governo está sendo bem tocado e as coisas acontecem em diversas áreas. Isso toma tempo. E uma questão que tem que ser respeitada é que ele ficou doente", disse Gomes.

Corda esticada

Desde o começo do ano, o STF impôs diversas derrotas a Bolsonaro. As decisões contrárias ao governo vão desde medidas para barrar a troca do diretor-geral da Polícia Federal, até prisão de apoiadores no primeiro semestre.

Nos últimos meses, avançaram processos do Judiciário que partiram do ministro do STF Alexandre de Moraes com investigações contra fake news e do Ministério Público no Rio de Janeiro, que prendeu Queiroz. O ex-policial militar é amigo da família Bolsonaro há décadas.

Queiroz é ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). Ambos investigados sobre eventual participação no esquema de rachadinha na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, segundo o MP estadual.

O líder do governo defende o presidente e diz que Bolsonaro mantém a linha de defesa da cloroquina desde antes de ser contaminado e que, portanto, não há oportunismo em fazer uso da medicação.

"Nós, como governo, tratamos de assuntos estruturantes fundamentais como reforma tributária. E a questão da política não tem absolutamente nada a ver com isso. O presidente e todo o parlamento estão [trabalhando] há 1 ano e 8 meses, as coisas vão acontecendo de maneira natural. Todo mundo vai se adequando", afirmou Gomes.

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