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Atentado do EI abala últimas horas de trégua no Afeganistão

02/08/2020 18h17

Cabul, 2 Ago 2020 (AFP) - O governo afegão pediu neste domingo (2) que os talibãs estendam o cessar-fogo de três dias iniciado na sexta-feira no Afeganistão, e que nas últimas horas foi sacudido por um atentado atribuído ao grupo Estado Islâmico.

A frágil calma foi rompida neste domingo depois que um grupo armado atacou um presídio em Jalalabad, no leste do Afeganistão, provocando a morte de pelo menos três pessoas e deixou cinco feridos, segundo o porta-voz do Ministério do Interior, Tareq Arian.

O EI, que não estava vinculado no cessar-fogo, reivindicou a autoria do atentado em um comunicado em sua agência de propaganda, Amaq.

"Os combates continuam" e alguns atacantes "tomaram posições em um mercado perto da prisão e enfrentaram as forças de segurança", explicou à AFP Attaullah Khogyani, porta-voz das autoridades da província de Nangarhar, cuja capital é Islamabad. As forças governamentais "controlam a situação", acrescentou.

Zabihullah Mujahid, um dos porta-vozes dos talibãs, negou qualquer implicação dos insurgentes afegãos no ataque.

"Cerca de cem presos tentaram fugir da prisão", mas a maioria foi capturada, afirmou Tareq Aziz, porta-voz da polícia de Nangarhar.

Horas antes do ataque, o porta-voz da Presidência, Sedi Sediqqui, assegurou que "esperamos que os talivãs não retomem a violência".

"As ações do governo afegão e os passos dados a favor do processo devem ser recíprocos da parte dos talibãs", acrescentou.

O presidente afegão, Ashraf Ghani, e os talibãs deram a entender que após o fim da festa muçulmana do Aid al Adha poderiam começar as negociações entre o governo e os insurgentes.

O acordo assinado entre os talibãs e os Estados Unidos em fevereiro previa o início das chamadas negociações interafegãs em março, mas estas foram adiadas por rivalidades políticas e pela questão da troca de prisioneiros.

Este acordo de Doha estipulava que o governo libertasse 5.000 insurgentes e os talibãs, 1.000 integrantes das forças de segurança afegãs.

As autoridades informaram neste domingo que 300 talibãs tinham sido libertados desde a sexta, elevando a 4.900 o número de insurgentes que saíram da prisão, embora tenham se negado a libertar alguns dos detidos acusados de crimes graves.

Os talibãs também afirmaram ter cumprido seu compromisso.

- "Pudemos esquecer a guerra" -O raro respiro que a trégua representou, a terceira em 19 anos de conflito, permitiu aos afegãos se deslocar e ver suas famílias.

"Pude visitar meu povoado pela primeira vez em dois anos", assegurou Khalil Ahmad, procedente da instável província de Uruzgan, controlada pelos insurgentes.

"Havia vários postos de controle dos talibãs na estrada, mas não incomodaram ninguém", explicou.

Shahpoor Shadab, morador de Jalalabad (leste), explicou à AFP que este "Aid se sente diferente, os parques estão cheios de gente".

"Quase conseguimos esquecer que o país está em guerra há 40 anos", esclareceu, satisfeito.

"Estou um pouco desanimado, pois os mortos e o sangue podem voltar a partir de amanhã", admitiu Fawad Babak, comerciante de Cabul.

Na província de Zabul, foram recitados poemas pedindo que a trégua seja permanente.

"A paz é uma necessidade e uma aspiração para todos", assegurou Saedar Wali, que participou do ato.

"É uma grande oportunidade para que hoje se prolongue o cessar-fogo e amanhã comecem as negociações com os talibãs", acrescentou.

Mais de 3.500 membros das forças de segurança afegãs e cerca de 800 civis perderam a vida desde que foi assinado o acordo entre os talibãs e os Estados Unidos, segundo o presidente afegão, que atribui a maioria das mortes de civis aos insurgentes.

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