Chile tem noite de protestos antes de voto chave sobre acesso a fundos previdenciários
Santiago, 15 Jul 2020 (AFP) - O Chile viveu uma noite de panelaços, saques e barricadas, após convocações feitas nas redes sociais para apoiar um projeto de lei visando à retirada antecipada de valores depositados em fundos previdenciários. O texto será submetido a votação chave no Congresso nesta quarta-feira, em meio à quarentena.
O barulho das panelas foi sentido com força a partir das 21h locais, por mais de uma hora, em grande parte de Santiago e nas principais cidades do país. Em seguida, houve distúrbios, carros incendiados e barricadas erguidas em diferentes bairros da capital chilena.
Os protestos buscam pressionar pela aprovação de uma lei que possibilite a retirada antecipada de 10% dos valores depositados em fundos previdenciários, cujo debate foi aprovado na semana passada pela Câmara dos Deputados em votação considerada uma "derrota histórica" para a direita da coalizão do governo de Sebastián Piñera.
Segundo pesquisas, a medida conta com o apoio de mais de 80% dos cidadãos, em meio a uma crise econômica sem precedentes após quatro meses de confinamento.
O descontentamento social voltou a ser sentido em Santiago, onde vivem 7,1 milhões dos 18 milhões de chilenos, e que, como capital, concentra a maior parte do PIB do país. Após 55 dias de quarentena total na região metropolitana, a classe média, que arrasta níveis de endividamento acima de 70%, sente a crise em seus lares e não recebeu nenhuma assistência pública direta.
O cenário econômico sombrio se cruza com uma estratégia sanitária que teve tropeços depois de dois meses de aparente êxito, e que deixou o Chile entre os 10 países com mais casos do novo coronavírus.
- Violência -
Os distúrbios em bairros periféricos de Santiago foram registrados em meio ao toque de recolher em vigor. Manifestantes ergueram barricadas e saquearam supermercados.
No centro de Santiago, um grupo de encapuzados incendiou 20 veículos em uma concessionária, além de um ônibus público. No total, houve 28 barricadas, 13 saques e dois ataques a quartéis da polícia, que levaram à prisão de 61 pessoas em todo o país, segundo a polícia.
"Nenhuma discussão democrática, nenhuma causa pode justificar atos de violência como os que ocorreram ontem à noite", criticou nesta quarta-feira o ministro do Interior e da Segurança, Gonzalo Blumel.
- Dia chave no Congresso -
Os panelaços e barricadas antecederam a votação na Câmara dos Deputados sobre uma retirada antecipada dos fundos previdenciários privados no país, pioneiro em instaurar um sistema de capitalização absolutamente individual, sem o aporte dos empregadores, em plena ditadura de Augusto Pinochet (1973 - 1990).
A Câmara aprovou na semana passada legislar sobre a iniciativa, e debate agora, em particular, os artigos do projeto, antes da sua revisão pelo Senado. Se ela for rejeitada, o projeto será arquivado, um resultado adverso para grande parte da opinião pública.
O presidente Sebastián Piñera se opôs à iniciativa e alertou que a mesma prejudicará as aposentadorias dos chilenos. Para evitar a sua aprovação, ele anunciou novas medidas nesta terça-feira, dentro de um plano de apoio à classe média, fortemente afetada pela pandemia.
Piñera concedeu um bônus de transferência direta de cerca de US$ 630 para trabalhadores de classe média ou desempregados que tivessem um certo nível de renda formal antes da pandemia, além de um crédito solidário de até US$ 2.400, adiamento dos aluguéis e créditos estudantis.
msa-pa/bl/tt/mr/lb
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