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George Pell revela ter sido alvo de insultos na prisão

14/07/2020 13h50

ROMA, 14 JUL (ANSA) - O cardeal George Pell, que teve sua condenação por pedofilia anulada, descreveu sua experiência durante o período em que ficou em uma prisão da Austrália, entre dezembro de 2018 até a sua libertação em abril deste ano. Segundo o religioso, todos os detentos demonstraram desprezo por ele, que sofreu maus tratos, insultos e até foi alvo de uma cuspurada de um prisioneiro.   

"Todos nós somos tentados a desprezar aqueles que acreditamos serem piores que nós", disse a um jornal australiano, enfatizando que "até os assassinos compartilham desprezo por aqueles que violam os jovens". Pell ressaltou que esses insultos sofridos nas prisões de Melbourne e Barwon, nas quais passou 13 meses, apesar de desagradáveis, não questionavam sua confiança no homem, no certo e no errado".   

O religioso que era considerado o mais alto membro da Igreja Católica a ser sentenciado por abusos sexuais relatou com detalhes sua vivência em uma cela de cerca de oito metros de comprimento por dois metros de largura. No local, continha uma cama com um colchão "não muito grosso", dois cobertores, uma chaleira, um espaço para comer e uma televisão. Durante o dia, ele tinha dois intervalos de meia hora e, em um deles, recebeu cusparada por outro prisioneiro em uma área de exercícios em comum. "Enquanto andava pelo perímetro, alguém cuspiu em mim através do arame da abertura e começou a me condenar. Foi uma surpresa total, então voltei furioso à janela para enfrentar meu agressor e repreendê-lo", contou Pell.   

O cardeal ainda explicou que, na penitenciária de Melbourne, morava na cela 11, unidade 8, no quinto andar, onde tinha outras 12 celas pequenas ao longo de uma parede externa, com prisioneiros barulhentos em uma extremidade.   

"Estive no extremo de 'Toorak', nomeado assim por causa de um subúrbio rico de Melbourne, exatamente igual ao extremo barulhento, mas geralmente sem batidas e gritos, sem angústia e raiva, de pessoas frequentemente destruídas por drogas, especialmente a metanfetamina cristalina". Pell lembrou que "ficava impressionado por quanto tempo podiam bater com os punhos", mas um guarda explicou "que eles chutavam com os pés como cavalos".   

"Alguns inundavam suas celas ou as sujavam. De vez em quando, o esquadrão de cães era chamado ou alguém tinha que ser gaseado.   

Na minha primeira noite, pensei ter ouvido uma mulher chorando; outro prisioneiro estava ligando para a sua mãe", acrescentou.   

Em seu relato, um dos principais religiosos do Vaticano também recordou ter sido denunciado por outros prisioneiros. "Uma tarde, ouvi uma discussão feroz sobre a minha culpa. A opinião sobre minha inocência ou culpa ficou dividida entre os prisioneiros, como na maioria dos setores da sociedade australiana, embora os meios de comunicação com algumas exceções esplêndidas tenham sido muito hostis", finalizou.   

Relembre o Caso - As acusações de abuso sexual de menores contra Pell vieram à tona em 2015, depois de uma das vítimas relatar o caso à polícia de Victoria. No final de junho de 2017, após dois anos de investigação na Austrália, o cardeal foi formalmente incriminado com várias acusações por "crimes históricos de violência sexual" em dois casos separados. Pell, no entanto, declarou-se inocente de todas as acusações. Na ocasião, ele as considerou "falsas". Com a sentença, o religioso se tornou o mais alto representante da Igreja Católica condenado em um caso de pedofilia. A denúncia contra Pell ocorreu depois de uma longa investigação.   

Na época, uma comissão ouviu milhares de depoimentos e escutou denúncias de abusos contra crianças envolvendo igrejas, orfanatos, clubes esportivos e até escolas.   

A rejeição do primeiro recurso ainda privou o religioso de seu título honorário da Ordem da Austrália, considerado a maior honraria do país. Em abril deste ano, porém, a Alta Corte da Austrália anulou a condenação por pedofilia de Pell, que havia sido sentenciado a seis anos de prisão pelo crime em 2018. (ANSA).   

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