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Aumento de casos de Covid-19 nos EUA é fruto do fim precoce da quarentena, afirmam especialistas

14/07/2020 13h16

O aumento dos casos do Covid-19 registrado nos últimos dias nos Estados Unidos chama a atenção para os riscos ligados ao relaxamento da quarentena. Segundo especialistas ouvidos pela RFI, a alta nas contaminações está diretamente ligada ao fim do confinamento, considerado precoce em alguns estados do país mais atingido pela pandemia no mundo.

Os Estados Unidos caminham para quase 3,5 milhões de pessoas contaminadas, de acordo com números divulgados na segunda-feira (13). Pelo menos 40 dos 50 estados do país registraram uma recrudescência nos contágios e mais de 60 mil novos casos foram detectados em 24 horas. Diante dessa situação, as autoridades de algumas cidades e até de estados inteiros, como a Califórnia, decidiram retomar as medidas de confinamento da população.

"Os Estados Unidos assistem claramente a uma segunda onda de contaminações", alerta Anne-Laure Beaussier, socióloga e autora do livro "La Santé aux Etats-Unis : une histoire politique" ("A saúde nos Estados Unidos : uma história política", em tradução livre). Segundo a especialista, "há uma correlação entre uma abertura precoce da economia e uma segunda onda, principalmente em estados republicanos, como Texas e Flórida, mas também do sul, como Alabama e Mississipi e Tennessee, onde houve uma mensagem contraditória por parte da Casa Branca sobre o uso de máscaras e o distanciamento físico, que impediram uma gestão dessa epidemia", analisa.

O médico e professor de medicina, Frederick Southwick, que atua na Flórida, compartilha a opinião da socióloga francesa. Segundo ele, "se temos tantos casos na Flórida é simplesmente porque o governo decidiu reabrir esse estado no início do mês de junho".

Ambos chamam a atenção para um discurso discordante entre a Casa Branca e algumas regiões, graças a uma sistema de descentralização que "mostra a desigualdade entre alguns estados", como ressalta Anne-Laure Beaussier.

E essa falta de uma mensagem única provoca ruídos de comunicação. "Ninguém teve informações sobre o uso de máscaras ou o respeito do distanciamento físico. As autoridades consideraram que todos conheciam os gestos a serem adotados para limitar a epidemia", explica Frederick Southwick. "Mas infelizmente essa falha foi muito grave, já que muitos cidadãos na Flórida pensaram que a epidemia tinha terminado", diz o médico, lembrando as multidões reunidas em 31 de maio, quando é comemorado no Memorial Day. "A partir daí, o vírus circulou rapidamente".

Pressão política para retomada da economia

No entanto, como frisa a socióloga, "há uma pressão importante para o fim da quarentena nos Estados Unidos e essa pressão vem também da própria população, já que o país não tem nenhum dispositivo público (para manter o pagamento dos salários durante o confinamento), como na Europa. Eles precisam trabalhar e precisam que a economia volte a funcionar. Então há também uma pressão eleitoral sobre os dirigentes políticos, dos dois partidos, que torna a gestão dessa pandemia difícil".

Segundo ela, "os interesses políticos estão no mesmo nível que os interesses sanitários, o que distorce as mensagens e participa da explosão de casos que assistimos atualmente".

 

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