Aumento do desemprego embala valorização das bolsas nos EUA
(Bloomberg) -- Não é preciso procurar muito para encontrar demonstrações do sangue frio dos investidores do mercado acionário. As mais recentes envolvem os potenciais benefícios do aumento do desemprego sobre os lucros corporativos.
O entendimento de que as demissões estão preparando o terreno para uma rápida recuperação dos lucros vem se disseminando. Segundo essa lógica, uma estrutura de custos mais enxuta permitirá que as empresas lucrem mais em cima das vendas quando a economia se recuperar.
Embora a teoria pareça ignorar o sofrimento de milhões de americanos desempregados, há precedentes ? incluindo a última recessão, que antecedeu 11 anos de valorização do mercado. A desumanização já é uma narrativa inevitável do movimento atual das bolsas, puxado por ações de companhias gigantescas otimizadas por algoritmos e donas de poucos ativos, que sobem mesmo enquanto o vírus castiga a economia.
Mike Wilson, estrategista de renda variável do Morgan Stanley, levantou recentemente a ideia de que um ritmo lento de recontratação poderia estimular melhorias na chamada alavancagem operacional e embalar uma recuperação mais rápida do que se espera nos lucros. Para Gina Martin Adams, estrategista da Bloomberg Intelligence, a eliminação de empregos significa menor consumo, mas também facilita uma rápida recuperação nos lucros.
"Parece um pouco insensível, mas é sempre assim na recessão e é a realidade, as empresas cortam custos para escapar de recessões nos lucros", disse Adams. "A redução de despesas contribui para a expansão das margens das empresas, o que deve permitir estabilização na perspectiva para os lucros."
Os estrategistas de ações fazem seu papel ao apontar esses desdobramentos, mas o cenário que descrevem está alinhado com algumas suspeitas sobre o sistema de valores de Wall Street ? sobretudo que os ricos ficam mais ricos às custas dos pobres e as empresas priorizaram o acionista em detrimento do bem-estar do funcionário. Essas questões existem há décadas e têm ganhado atenção renovada em meio à pandemia de Covid-19 e aos protestos após a morte de George Floyd.
As bolsas tiveram uma das maiores altas em décadas, com seu valor de mercado aumentando em até US$ 10 trilhões desde o nível mínimo atingido em março. Toda essa criação de riqueza ? equivalente a metade do PIB dos EUA ? beneficia os acionistas, que são geralmente as pessoas mais abastadas da sociedade.
Não é fácil estimar o aumento exato dos lucros, mas uma maneira é acompanhar as margens, que medem o lucro como percentual da receita. Segundo projeções de analistas compiladas pela Bloomberg Intelligence, as margens provavelmente atingiram um piso de 9,4% no segundo trimestre, saltaram para 13% e ficarão acima de 10% no próximo ano.
Demissões em massa reacenderam um debate de longa data sobre o modelo de negócios focado no investidor, que, segundo críticos, coloca os lucros acima do bem-estar dos funcionários e da sociedade como um todo. No ano passado, Jamie Dimon, do JPMorgan Chase, e outros líderes de grandes empresas americanas prometeram moderar essa abordagem. Durante a fase de recordes do mercado acionário que terminou no começo deste ano, houve momentos em que a diferença entre a alta do S&P 500 e os ganhos salariais foi a maior em décadas.
©2020 Bloomberg L.P.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.